domingo, 7 de fevereiro de 2021

O Inventário das Diferenças - Paul Veyne

 



Livro O Inventário das Diferenças
história e sociologia
Paul Veyne
















Neste pequeno livro, que é, na verdade, uma aula inaugural, publicado em 1976, Paul Veyne desfaz praticamente tudo o que disse sobre a História em seu livro Como se escreve a história, de 1971. Afirmou categoricamente na ocasião que a história não existe porque tudo é história, no Inventário das Diferenças afirma: "Ora, estou plenamente persuadido de que a História existe, ou pelo menos, a História sociológica, aquela que não se limita a narrar, nem mesmo a compreender, mas que estrutura sua matéria recorrendo à conceituação das Ciências Humanas..." (p. 5). Logo a seguir afirma, contradizendo seu trabalho anterior de que não existem fatos em História: "Materialmente, a História é escrita com fatos; formalmente, com uma problemática e conceitos." (p. 6). Também defende, antes negada, a importância da cronologia, do acaso e dos grandes homens; História que era vista pelo autor como uma história popular, e não acadêmica. (p.19). Defende a explicação histórica como ciência, sem nenhum relacionamento com as ciências naturais. Será que foi o cargo recebido pelo Collège de France que provocou esta mudança de posição? Questiono como um historiador que viveu a vida toda da profissão de professor universitário de História pôde duvidar da existência de sua disciplina? É o mesmo que o médico que exerce sua profissão dizer que a Medicina não existe. Mas esta aula inaugural me deu a resposta, que felizmente foi questionada, por grandes historiadores na época, em relação à postura de Veyne sobre a História. Sua visão sobre a História estava longe de uma unanimidade entre a maioria dos historiadores. Parecia que o autor queria mesmo era polemizar como é do seu estilo.

Quando Veyne afirma que a História tem que se basear em teorias e conceitos das Ciências Humanas, não esclarece que teorias e conceitos são estes aos quais a História deveria se ancorar. É mais claro quando fala do Marxismo, especialmente sobre a luta de classes no Manifesto Marxista.

Na página 25, Veyne é até otimista quanto à ciência histórica: "Pouco importa: através dessas incoerências, a História não deixa de se tornar, gradativamente, uma aplicação das ciências do homem; ela utiliza tais ciências, e talvez mais frequentemente ainda, faça-as progredir."

Á página 26, "entrega os pontos" ou se cansa do debate infrutífero: "Não digo que as ciências históricas desaparecerão em proveito da teoria, mas que se utilizam da teoria, sem perder sua identidade." Não vejo como escrever história, sem fazer teoria. Outros autores já o disseram.

Novamente reafirma a cientificidade da História, à página 31: " Em outras palavras, diante de qualquer fato histórico, seja esporádico ou de longa duração, podemos escolher entre duas atitudes bem diferentes; uma narrativa e um pouco passiva, é a do senso comum, são os acontecimentos tal como são lidos nos jornais, e mesmo,  no fundo, em Michelet; a outra atitude científica. é,  ao mesmo tempo, explicativa e individualizante." E à página 47, arremata: "Senhoras e senhores: recapitulemos e concluamos: A História é congenitamente científica, não pode ser erudição inocente..."

Em resumo vê os fatos históricos vinculados a relações (Foucault) e seus conceitos dentro de um conjunto de informações históricas. Acredita mais na ideia do que na verdade dos fatos, ou seja, para terminar sua palestra afirma em sua última linha: "... a verdade não é o mais elevado dos valores do conhecimento." Que tal unir conceitos e verdade? Acho que é isto que todo historiador tenta fazer, mesmo que não tenha esta consciência, ou que a mesma esteja implícita no processo de produção histórica.




Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagem em destaque

A Escola de Frankfurt e o início da Nova Esquerda

  Introdução  No início do livro, o autor cria uma Nota com jeito de Introdução, pois mostra como os participantes da chamada Escola de Fran...

Postagens mais visitadas