quarta-feira, 30 de outubro de 2024

CORONEL FABRICIANO - Nossa Gente, Nossa Terra e Nossos Bairros - Léo Feragom


Introdução
No início do livro, o autor já mostra algumas peculiaridades da publicação como a inexistência de uma Bibliografia no final, conforme as normas da ABNT, mas citada ao longo do texto; e a ausência de notas de rodapé para facilitar a fluidez do texto. O próprio autor faz o Prefácio do livro, contando um pouco de sua trajetória como profissional da escrita, especialmente na pesquisa e publicação sobre a cidade de Coronel Fabriciano em periódicos e jornais. Com certeza foram uns 15 anos de pesquisa até a publicação do livro, é o que revelam as datas de entrevistas, por exemplo. Publica também no início, um excelente mapa sobre a região metropolitana do Vale do Aço e do seu Colar Metropolitano.

Desenvolvimento
A origem mais remota de Coronel Fabriciano é tratada pelo autor desde o início do Período Colonial brasileiro. Traçando caminhos neste espaço longínquo de nossa história, trata de questões históricas estudas nos livros didáticos escolares como as Capitanias Hereditárias, o Governo Geral, a Vinda da Família Real para o Brasil e a Independência de nosso país, sempre localizando o território de Coronel Fabriciano e o Vale do Aço neste contexto histórico. Utiliza ampla bibliografia de autores atuais e antigos em suas informações, além de mostrar em mapas nossa cidade à época desses estudos. Identifica a atual cidade de Coronel Fabriciano nas várias divisões territoriais ocorridas durante nossa história.

Sobre o atual Distrito de Melo Viana, que hoje é um grande centro comercial da cidade e região, o autor busca suas origens mais remotas, em pesquisas em vários documentos de locais que vieram a formar a atual região do Vale do Aço. Explica a formação do Povoado de Santo Antônio do Piracicaba, o nome anterior a Melo Viana. Para isto utiliza de minuciosa documentação, inclusive de documentos da época, e de mapas de sua produção para facilitar a compreensão do texto. Faz um trabalho de pesquisa digno de grandes historiadores por sua ampla pesquisa e olhar sensível aos fatos históricos. Publica algumas biografias de personagens que fizeram a história do Distrito, mesmo que indiretamente.

Nas pesquisas sobre os nomes originais da cidade de Coronel Fabriciano, a Ferrovia, o Cartório e a Estação, o autor utiliza várias fontes bibliográficas, além das informações orais de seus cidadãos, especialmente sobre os primeiros nomes da cidade, conteúdo marcado até por notas folclóricas de seus habitantes, como o nome de Calado significando um "aviso" às pessoas sobre a existência de bandidos e índios no local. Informa sobre dados históricos sobre a permanência do nome Calado, mesmo que ainda fique dúvida sobre o uso de calado relativo à profundidade da água do rio e/ou de uma parte do navio, neste quesito inclusive faz um ótimo desenho de um navio com a medida do calado. Sobre a Ferrovia faz uma longa narrativa documental para a instalação da via férrea em nossa região e, em outras cidades de Minas Gerais. O Cartório é também objeto de vasta pesquisa entre os moradores e historiadores locais, assim como sobre os primeiros nomes do local. A criação da Estação Ferroviária que é consequência da instalação da ferrovia, também informa sobre seus nomes e sua importância econômica para a cidade. É importante notar como o autor fez uma ampla pesquisa sobre todos os assuntos estudados, além da variedade de fontes e instituições buscadas, particulares e governamentais.

O foco principal de um dos capítulos do livro é a Companhia Belgo-Mineira, considerada a responsável pelo segundo surto de desenvolvimento da cidade de Coronel Fabriciano, o primeiro foi a a chegada da Ferrovia e da construção da Estação Ferroviária. Sobre a Companhia Belgo-Mineira, o historiador busca suas origens mais remotas, chegando ao início da descoberta do minério no território mineiro, depois da decadência do ciclo do ouro. Relata as primeiras negociações entre o Brasil e a Bélgica para se chegar a um acordo de construção de uma siderúrgica belga para concorrer com o mercado internacional dominado pelos países europeus. As autoridades mineiras se envolvem no projeto, além de profissionais da Engenharia do Brasil e do Exterior. Como resultado da instalação da Companhia Belgo Mineira vão surgir outras instituições importantes para nossa cidade e região, como o Hospital Siderúrgica, o futuro Clube Recreativo Casa de Campo, a Serraria Santa Helena e o Parque Estadual do Rio Doce. Muitos documentos são pesquisados pelo autor para legitimar seu trabalho. Muitos nomes envolvidos no projeto são citados, e que fazem parte de nossa história, como Alberto Giovannini, Dr. Rubem Maia, Dr. Moacir Birro e outros.

A Emancipação da cidade é tratada com o esmerado estilo de pesquisa em documentos aplicado pelo autor na produção do livro. Entra em detalhes sobre as condições para a emancipação das cidades na época, ou seja, na década de 1940. Mostra com documentos oficiais e pesquisas, as condições para a emancipação dos distritos, principalmente quanto ao número de pessoas habitando o local, além de outros detalhes como a renda média dos cidadãos, a existência de prédio para abrigar a Prefeitura, cemitério no Distrito, entre outros quesitos. Relata as relações entre os integrantes da Comissão de Emancipação com os órgãos que poderiam contribuir para acelerar o processo emancipacionista como a Assembleia Legislativa de Minas Gerais, seus Deputados, a Igreja Católica e a Companhia Acesita. Mostra a reação de Antônio Dias, cidade sede, em relação à emancipação. Utiliza como uma das fontes uma Monografia sobre o processo de emancipação da cidade, que muito contribuiu com a produção do texto. Publica a primeira página da Sessão de implantação do município em primeiro de janeiro de 1949, com as presenças de autoridades e as palavras do Dr. Rubem Maia, ressaltando o papel das empresas Acesita e Companhia Belgo-Mineira na construção de uma cidade progressista.

A seguir o autor faz um estudo sobre o poder Executivo e o Poder Legislativo da cidade de Coronel Fabriciano desde sua emancipação. Mostra, após ampla pesquisa com os livros e órgãos públicos, os erros cometidos quando da definição dos períodos de mandato dos ocupantes dos cargos de Prefeitos da cidade, especialmente quando se referem ao início e fim dos mandatos. Pois todas as fontes consultadas, inclusive as oficiais, como a Prefeitura Municipal, a Câmara Municipal e órgãos superiores como os Tribunais Eleitorais cometeram os mesmos erros. Em meu livro Coronel Fabriciano - História e Contexto -, também cometi os mesmos erros, pois em meio a tantas informações sobre a cidade me esqueci deste detalhe. O historiador mostra que os mandatos se iniciam no início do ano posterior às eleições, e não no final do mandato anterior. Sendo assim revisou cada período de governo de todos os prefeitos. E para resolver esta situação consultou as leis vigentes no período. Produziu uma biografia de cada prefeito e suas obras em cada mandato. Em relação ao Legislativo faz um estudo sobre os períodos de mandatos e sua legislação, e suas alterações ao longo da história. Faz uma relação de todos os vereadores e uma pequena biografia sobre cada um. O autor preenche importantes lacunas deixadas pelas pesquisas sobre o Poder Executivo e Legislativo da cidade de Coronel Fabriciano. Depois de lida toda a relação dos prefeitos e vereadores observamos a "dança" dos partidos entre os eleitos em busca da legenda mais forte para garantir os votos necessários para chegarem ao poder. Ideologia nunca importou.

Na pesquisa sobre os Distritos de Coronel Fabriciano o autor primou pela busca de suas origens, principalmente nos aspectos legais e documentais. Busca as origens mais remotas de suas formações, consultando fontes escritas e orais. A mesma metodologia utiliza para a criação da Acesita e seus fundadores. Faz uma longa e profunda pesquisa sobre o nome do Distrito de Timóteo, e sobre a mudança do nome da cidade já emancipada para Acesita. Apresenta várias hipóteses para a origem do nome Timóteo, mas todas apresentam controvérsias. Lendário ou não, o nome Timóteo permanece até hoje. Faz a mesma pesquisa sobre a origem do nome Ipatinga, ou seja buscando várias fontes escritas como livros, jornais e revistas. Relata sobre o processo de emancipação dos Distritos de Timóteo e Ipatinga; seus avanços e retrocessos e questões políticas e partidárias envolvidas. Também neste capítulo, o autor trata da criação da Usiminas e do Massacre no Distrito de Ipatinga, quando o Distrito ainda pertencia a Coronel Fabriciano. O autor investigou até as famílias dos engenheiros envolvidos na Construção da Usiminas, sempre com seu estilo rigoroso de pesquisas e fontes confiáveis para todos os assuntos.

Quanto às Instituições religiosas de Coronel Fabriciano, o historiador faz um trabalho bem amplo por suas várias fontes  utilizadas, tanto em livros, arquivos e publicações especificas antigas quanto em sites. Mostra fotografias dos prédios antigos e novos das instituições. Sobre a Igreja Católica produz um texto longo, pois acessa suas fontes antigas. Foi a primeira Igreja a se instalar na cidade. Relata o número de paróquias, de Bispos e Padres. Faz algumas biografias de padres e bispos. Mostra um mapa de toda a Diocese Itabira-Fabriciano. Sobre as Igrejas Protestantes foca principalmente nas chamadas Igrejas Históricas, como a Assembleia de Deus, a Batista e a Metodista. Cita os nomes dos principais pastores que aqui chegaram e assumiram suas Igrejas, e os que permanecem até hoje. Traça uma pequena biografia de alguns pastores.

As famílias pioneiras de Coronel Fabriciano são estudadas pelo autor, destacando suas origens até chegarem a nossa cidade. Suas descendências, que geralmente são famílias com muitos filhos, sendo que muitos se destacaram na política, no comércio e na Educação. Alguns foram prefeitos, vice-prefeitos e vereadores. Sabemos das dificuldades que estas pessoas enfrentaram em um território sem quase nenhuma infraestrutura, sendo que vieram famílias até do Nordeste, como o autor informa. Mas o importante é que vieram atrás de um sonho, e com dificuldades conseguiram realizá-lo. E hoje deixaram descendentes que continuam a obra grandiosa de construir uma cidade boa de se viver. Devemos valorizar estes pioneiros que nos deixaram a base para a construção de um local em que as relações humanas dominem a ganância de apenas buscar dinheiro, ao invés de sabedora de vida conquistada com o exemplo de nossos ancestrais. Muitos destes pioneiros hoje são nomes de ruas e bairros de nossa cidade pela dedicação de seu trabalho na construção de nosso município.

As escolas, sejam públicas ou particulares abrigam os nomes de pessoas de nossa cidade, principalmente lideranças formadas aqui, mesmo que tenham nascidos em outras cidades ou Estados. Esta atitude das autoridades mostra o reconhecimento do poder público pelo trabalho desempenhado por estas lideranças. Muitas cidades utilizam nomes de pessoas que nada fizeram pelos municípios, e muitas nem pisaram o seu solo. O autor começa o estudo das escolas pelo nome dado, e sua lei de criação, depois conta a sua história como seus cursos e locais onde se fixaram, e para finalizar faz uma pequena biografia do homenageado com o nome do estabelecimento de ensino.

Depois do estudo sobre as escolas, o autor retrata sobre as atividades econômicas que os antigos moradores, se lembrarão de muitos centros comerciais que frequentaram ou trabalharam. Fala sobre as casas comerciais de lazer como os bares e boates. Até de oficinas de veículos entre muitos outros estabelecimentos como lojas de confecções, de material de construção, móveis e eletrodomésticos, etc. Se esqueceu da Bemoreira, a maior loja de  eletrodomésticos do Brasil, com filiais em Coronel Fabriciano e no Horto, em Ipatinga. Trabalhei por quatro anos nesta empresa, na Rua Silvino Pereira e na Rua Duque de Caxias. Mas não se esquece de estabelecimentos oficiais como a Prefeitura Municipal e hospitais, além de muitos outros estabelecimentos. Depois começa a relatar sobre as artes na cidade como a música, o teatro, o cinema e sua história no município. Continua o texto contando a história dos times de futebol da cidade e dos bairros surgidos ao longo do povoamento do lugar. E termina o livro com seu tema favorito, que é a imprensa, aliás esta é sua formação profissional., além dos símbolos da cidade como a Bandeira, o Brasão e o Hino Oficial de Coronel Fabriciano. Em todos os estudos sempre fez uso de documentação confiável, o que garante a sua produção literária a confiabilidade de uma ótima fonte para pesquisas históricas da cidade, além de lhe conferir o batismo definitivo de historiador.

Eu recomendo a leitura deste livro com louvor pela primazia na escrita e o rigor na pesquisa.

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