domingo, 11 de abril de 2021

O Caso Dreyfus

 


Livro O Caso Dreyfus

Louis Begley

(Leitura no Kindle)

Introdução

No início do livro, o autor já vislumbra seu conteúdo, que aliás eu já tinha conhecimento através do pequeno livro de Ruy Barbosa, só que amplia as informações da reportagem/livro do autor brasileiro. No prefácio do livro, o autor relaciona a história de Dreyfus com o discurso de posse do novo Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em 2009, em relação à questão dos direitos humanos e da tortura. O autor é advogado aposentado, e fez longa carreira na área, assim como Ruy Barbosa. Fator que dá autoridade ao autor em sua pesquisa e produção histórica.

Desenvolvimento do estudo

No início do estudo, o autor faz uma evolução dos fatos que geraram a condenação injusta do Oficial Dreyfus, mostrando a inconsistência dos motivos que o levaram a julgamento; realçando que o fato do militar ser judeu foi o elemento definidor da sentença. Mostra o quadro geral da sociedade europeia da época, ou seja, vivia um intenso clima de tensão entre as principais nações imperialistas como a França e a Alemanha, daí as preocupações com espionagem no período, que aconteciam com frequência. O motivo da investigação do Oficial foi um documento manuscrito atribuído a ele, conforme estudo de caligrafia nada confiável. Neste aspecto o autor entra em detalhes sobre o assunto: desde a descoberta do documento até seu estudo grafológico. Trabalha no texto, também as questões da humilhação pública do militar e das torturas sofridas. Além das medidas ilegais e forjadas adotadas pelo governo para a condenação do réu. Mostra como os investigadores tentaram de todas as formas uma confissão de Dreyfus de seu "crime"; mas nunca conseguiu, pois o mesmo se dizia inocente sempre. Foi um processo conforme os princípios da obra de Kafka, inclusive cita A Colônia Penal, como exemplo, na qual o réu não tem direito à defesa e nem sabe o motivo de sua condenação, e o executor da pena afirma não se interessar por isto, apenas cumpre o que se determina a ele. Nesta primeira parte, o autor chega até a completa absolvição de Dreyfus, e depois parte para uma relação desse julgamento com os que tem ocorrido nos Estados Unidos pelos órgãos de segurança como a CIA e FBY, quanto aos métodos de tortura, às escolhas dos réus envolvidos e às artimanhas para as condenações. E para isto, recorre a fatos históricos como o 11 de setembro de 2001, e a posse de Barack Obama.

Continuando o livro, o autor contextualiza o fato da condenação de Dreyfus, fazendo um estudo da situação da Europa na época. Mostra como o mundo europeu vivia um clima de tensão entre as nações, principalmente entre a França e a Alemanha. A Guerra Franco-Prussiana, vencida pela Prússia (atual Alemanha) deixou marcas na sociedade francesa, principalmente na área militar. Consequentemente, os militares tentam resgatar sua honra, buscando reorganizar sua base militar. Neste quadro a questão do antissemitismo entra em moda, pois viam os judeus como usurpadores da economia francesa. E Dreyfus era um judeu dentro do quadro militar francês, e tinha um alto cargo na corporação. Interessante notar como os próprios judeus ficaram ao lado da condenação de Dreyfus. Identifica, o autor, aqueles que apoiavam e os que eram contra a condenação de Dreyfus no alto escalão militar francês. Seus defensores como seu irmão, esposa, e o escritor Émile Zola, e outros. O Oficial Dreyfus era rico e sua família também, logo não necessitava vender informações para aumentar sua fortuna, isto fica claro no texto. Após a libertação de Dreyfus, este continua sendo molestado pela população, exigindo um aparato para sua proteção depois de sua liberdade. E o responsável pela escrita do documento manuscrito é identificado, pois tem uma ficha antiga de traição à nação francesa e principalmente aos militares.

O autor continua relatando todo o processo de comprovação da inocência de Dreyfus, principalmente com a ação insistente de seu irmão e as relações de poder provocadas pelo Caso entre o alto comando militar da França. No meio militar criou-se uma "fogueira das vaidades" em seus desdobramentos. O culpado é confirmado com segurança,  e inicia-se a busca de caminhos para a reabertura do processo na Justiça, com todos os seus entraves burocráticos e de interesses pessoais. Novamente o autor relaciona o Caso Dreyfus com a política adotada pelos Estados Unidos no campo militar, principalmente durante a Guerra do Vietnã e a Guerra do Iraque, com seus problemas burocráticos e de punições a militares que denunciaram as injustiças e mentiras dos governos. A obra tem como característica sua contextualização com os outras políticas nacionais.

Continuando as articulações políticas e jurídicas do Caso Deyfus, o irmão do acusado, Mathieu, toma papel preponderante em sua defesa, informando informações importantes sobre o principal suspeito de ter escrito a carta encontrada, Esterhazy. Outro ator importante nesta defesa é o escritor Émile Zola, que termina preso e assassinado. Uma das cartas de Esterhazy encontrada afirma textualmente, revelando seu lado contra os franceses: "Se esta noite me dissessem que serei morto amanhã como capitão dos ulanos enquanto passo franceses pelo sabre, ficaria perfeitamente feliz... Eu não faria mal a um cachorrinho, mas veria com prazer 100 franceses serem mortos... Paris atacada e entregue à pilhagem de 100 mil soldados bêbados, essa é a festa com que sonho. Então que seja".  E sobre o julgamento de Dreyfus, conforme Zola: "... uma acusação baseada em um único documento, sobre cuja autoria os especialistas não conseguiam concordar; o julgamento a portas fechadas; o mito da prova documental que não podia ser revelada sem trazer o risco da guerra; a total ausência de motivo para o crime.". Segue o autor a falar sobre as idas e vinda do Caso. Dreyfus é libertado, mas não inocentado em 1899. Volta da prisão acabado fisicamente e reúne-se a sua família. Em 1906 é inocentado totalmente e volta ao exército, mas não fica dois anos no comando, e abandona a carreira militar. Ainda participa da I Guerra Mundial em defesa da França. Vive até 1935, mas com a saúde debilitada. Os antissemitas nunca o perdoaram, inclusive perseguindo-o em suas homenagens, como nas estátuas feitas pelos governos para resgatar sua honra de militar francês.

No final do livro o autor trabalha a questão da literatura escrita à época, em que o Caso Dreyfus é peça importante, principalmente em Marcel Proust, na excelente obra Em Busca do Tempo Perdido. Mostra como a sociedade francesa via o processo contra Dreyfus, através de seus personagens. Para uma melhor compreensão do conteúdo do livro faz uma lista com seus personagens, posições e ações dos mesmos, e depois uma Cronologia dos eventos que envolveram a vida de Dreyfus e seu processo até chegar a sua absolvição completa. No livro é destacado o papel da imprensa e dos intelectuais no processo de absolvição, e até, na acusação de Dreyfus. É uma excelente obra histórica por sua escrita, informações e análises.


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