quinta-feira, 15 de julho de 2021

Uma Breve História da Humanidade - Yuval Noah Harari



Livro Uma Breve História da Humanidade
Yuval Noah Harari


No início do livro o autor começa com uma Cronologia da evolução da humanidade desde o homem pré-histórico, passando pelo desenvolvimento tecnológico, econômico e político da sociedade até os dias atuais, e seus sonhos de futuro. O livro é muito elogiado pela imprensa internacional que destaca suas inovações no campo da pesquisa científica. É um livro que busca uma compreensão racional da evolução do mundo, realçando a questão da criatividade e imaginação da única raça que restou de nossos ancestrais: o homo sapiens.

Iniciando o estudo, o autor faz uma retrospectiva da evolução do homem desde sua origem e formação, e sua relação com os outros animais semelhantes ou não ao homo sapiens. Mostra como somos insignificantes na história da raça humana (homos) e como conseguimos eliminar nossos "concorrentes". Apresenta teorias sobre a nossa sobrevivência a tantas divergências étnicas. E como a linguagem única foi o elemento definidor de nossa permanência e domínio. Mostra o autor, como o surgimento da cultura marca o início da História, e define a diferença essencial entre o homo sapiens e o homem primitivo. O homo sapiens é capaz de criar cultura e fazer relações mais complexas de relacionamentos através da imaginação e criação de mitos. O homem primitivo tem sua evolução determinada por suas mudanças na biologia. O próprio estudo da chamada pré-história, exige o uso da imaginação por parte de seus especialistas, fato necessário pela ausência de documentos escritos, como tempos hoje. Hoje, praticamos ações que têm muito a ver com a cultura dos coletores e caçadores, pela longevidade do período e suas influências deixadas até os dias de hoje. Interessante a afirmativa do autor que sobre o período dos coletores e caçadores temos muito pouco conhecimento, pois não temos instrumentos adequados para este tipo de pesquisa com mais profundidade, além do trabalho com os fósseis. A grande novidade da Parte Um é a afirmação do autor de que o homo sapiens é o grande responsável pelas catástrofes ecológicas do passado, e não as mudanças climáticas, como a maioria dos cientistas afirma. Inclusive da extinção dos grandes animais do período da Revolução Cognitiva. Acabando com a imagem nostálgica do homem primitivo como amante da natureza... o homem abraçando árvores. O autor coloca que a maior fraude da história é a visão disseminada de que a Revolução Agrícola melhorou a vida do homem primitivo. Ao contrário, tornou o trabalho do homem mais repetitivo e cansativo, e prejudicou sua saúde devido a uma dieta pouco variada. Além da violência praticada com os animais, principalmente o bovino. O autor mostra que a história do período destaca principalmente as mudanças econômicas e demográficas, mas as recentes descobertas revelam que houve também alterações no campo artístico e espiritual.

O autor faz importantes reflexões sobre temas já consolidados ao longo da história como a liberdade, os direitos humanos, Educação, poder político e econômico. Defende que idealizamos o que acreditamos para ter domínio sobre o nosso ambiente, e para isto faz uma viagem por movimentos tradicionais históricos, como a Revolução Francesa e a Independência dos Estados Unidos. Segue o autor a analisar o nosso cérebro e memória, fazendo importantes revelações sobre nossa capacidade de memorizar as coisas, e a criação de instrumentos para superar nossas limitações, através da invenção da escrita. Trabalha bem a questão da discriminação social através da história, principalmente nas grandes sociedades, como a Americana, e cita exemplos históricos importantes como a China e a Índia. Mostra que as causas da discriminação não são biológicas, mas sim teológicas, míticas e das relações de poder na sociedade. Aprofunda as questões de gênero com grande leveza, e analisa as teorias existentes sobre o domínio do patriarcado por tanto tempo sobre a ação das mulheres na história. Segue o autor, falando sobre as diferenças culturais entre os povos desde a Antiguidade, e que mesmo depois da globalização econômica e tecnológica, as culturas locais permanecem, mas sempre em transformação, e não estáticas como se pensava no início do século XX.

Boa parte do livro é dedicada ao dinheiro desde sua origem com os Sumérios por volta de 3.000 a.C. até os dias atuais. Interessante notar como o autor escreve fácil sobre um assunto tão complexo, principalmente quando você conhece, mesmo que em parte, a obra O Capital de Karl Marx. Marx é complexo demais ao explicar temas que parecem de fácil entendimento como mercadoria e lucro. Já o nosso autor fala do Capitalismo em geral com muita leveza, e o seu método, na minha opinião, que facilita a compreensão é a utilização de exemplos simples do dia a dia das populações para explicar o assunto. Abandona o autor, o estudo do dinheiro, e passa a analisar a origem e evolução dos Impérios ao longo da História, mostrando que somos todos descendentes dos mesmos, e que estes no legaram grandes avanços culturais e de desenvolvimento, ou seja, não foram só bandidos ou mocinhos. Busca o autor com os textos do Dinheiro, dos Impérios e da Religião, a tão sonhada globalização da humanidade. Mostra como algumas religiões locais tentaram se tornar universais, como o Cristianismo e o Islamismo, principalmente. Valoriza o politeísmo como portador de um respeito às demais religiões, e para isto, o melhor exemplo é a religião do Império Romano - respeitador das escolhas religiosas dos povos conquistados. O autor agora discute um pouco sobre a importância da História, e principalmente de que é a mesma a oportunidade de ampliar horizontes de pesquisa e conhecimento, e não uma ciência da previsão de acontecimentos e mudanças certas.

O autor pensa a História como uma evolução tecnológica tendo como base as ideologias existentes, como o Capitalismo e o Liberalismo, e não numa visão religiosa predeterminada antes do advento da Revolução Tecnológica a partir do século XV. Trata do surgimento de avanços na Medicina, principalmente, que combate o determinismo religioso de uma recompensa pós-morte, ou seja, a construção do Paraíso ainda em vida. Tem o autor uma visão histórica semelhante a de Voltaire, sendo a história constituída de etapas evolutivas de progresso. Mostra como a ignorância dos europeus em busca de novos lugares e conhecimentos os tornaram mais poderosos que os asiáticos a partir do século XVI, pois os asiáticos achavam que conheciam todo o mundo conquistado por eles. Segue o autor contando algumas histórias não divulgadas nos livros didáticos, como no caso da Apollo 11 e os nativos. O autor valoriza o conhecimento como forma de dominação mais racional do continente asiático pelos europeus, mas realça também sua exploração das populações nativas. Ou seja, realça tanto o lado positivo quanto o negativo da apropriação do conhecimento no processo imperialista europeu. A seguir o autor faz um bom estudo do Capitalismo, de suas origens aos dias atuais, utilizando exemplos simples para descomplicar o tema, sempre destacando a importância dos cientistas no processo de inovação capitalista. E como o capitalismo não pode ficar deslocado da política, pois esta exerce um certo controle sobre os excessos do primeiro. Mostra como a experiência Comunista foi muito pior que o Capitalismo, e por isso, em sua opinião, "... ninguém tem estômago para tentar de novo.". Mas eu conheço gente que ainda sonha com a volta do Comunismo. Os motivos são vários, e certamente individuais.

O autor segue seu estudo do Capitalismo, e mostra a origem e a evolução da questão das fontes de matéria-prima e energia para a manutenção do sistema. É otimista acreditando que as matérias-primas e as fontes de energia jamais se esgotarão pela ação da criatividade e pesquisa dos cientistas. Mostra ser o Capitalismo a única "religião" que conseguiu, ao longo da história, manter a teoria e a prática lado a lado. Faz um estudo interessante sobre o papel do Estado na estabilização da sociedade, garantindo às pessoas direitos que antes não sonhavam. Mostra como o mundo atual é o período de maior paz que a humanidade já viveu, e para isto utiliza ampla pesquisa com a comparação de dados sobre as guerras antigas e os conflitos atuais. Valoriza a construção da bomba atômica como o principal fator de manutenção da paz mundial, pois qualquer embate bélico entre grandes nações pode levar à extinção do homo sapiens da face da Terra. Confirma, a ideia de alguns grandes líderes de que a guerra, às vezes, traz a paz. Agora, já no penúltimo capítulo, o autor trata da questão da felicidade relacionada com as pesquisas históricas e científicas, e mostra como a bioquímica é a principal tendência na atualidade para a origem da felicidade humana, e não os atos humanos, ou seja, já nascemos com elementos químicos capazes de nos tornar felizes a maior parte de nossa vida, ou o contrário, como é o caso da existência de altas doses de serotonina, dopamina e oxitocina que trazem a felicidade desde o nascimento. Estas em doses baixas marcam as pessoas infelizes e até más. E alternamos em momentos de felicidade e tristeza o tempo todo, mas assinala que a ciência está apenas no início nesse tipo de pesquisa. E que o Budismo é a única filosofia que sempre se preocupou a com a busca da felicidade humana, portanto a ciência tem hoje uma preocupação maior em seu estudo.

No final do livro, o autor mostra os últimos avanços da Medicina e da pesquisa científica no mundo em relação ao homo sapiens. E faz alguns questionamentos sobre as evoluções que a humanidade teve até hoje. Interessante sua afirmativa de que muitos previram viagens espaciais para o início do terceiro milênio, mas ninguém previu a internet. Este fato pode denotar uma indefinição para futuras previsões. Deixa também alguns questionamentos sobre o nosso futuro, e quais perguntas devemos fazer para a nossa busca da felicidade. Excelente livro para quem gosta de pesquisa e estudo. Além de fazer uma evolução da História da Humanidade fora dos moldes tradicionais, ainda nos leva a uma reflexão séria sobre o futuro do homo sapiens e da nossa vida pessoal. É instigante, motivador e questionador.

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