terça-feira, 16 de novembro de 2021

Imprensa Feminista no Brasil

 

Livro Imprensa Feminista no Brasil

Bárbara Figueiredo Souto

Fazer esta resenha é uma emoção, pois é o primeiro livro de minha filha, hoje Doutora em História pela UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais. O livro é o resultado de sua tese de Mestrado na USP - Universidade de São Paulo. Nesta publicação a tese tomou o formato de livro, que possui características próprias do livro tradicional, que tem uma orientação mais didática, além da autora ter inserido ou excluído informações, que, com certeza, não fazem parte da produção original. Tive a oportunidade de ter lido a tese na ocasião da publicação, fato, que certamente vai me ajudar a produzir uma resenha mais elaborada.

No início do livro, a autora e suas colaboradoras já traçam uma visão geral do livro, no Prefácio, Apresentação e Introdução. Neste espaço inicial dão informações importantes sobre a construção da obra e os temas a serem desenvolvidos ao longo do texto, tanto no aspecto narrativo, quanto no teórico, ao resgatar as contribuições das duas protagonistas, no processo de emancipação feminina, fato materializado na criação de jornais e publicações sobre as questões da mulher e da família. Na Introdução fica clara a composição do livro, ou seja, um estudo das ideias e ações de cada protagonista, acrescida de considerações finais da autora, um Apêndice e anexos.

Capítulo 1

Francisca Senhorinha da Motta Diniz: professora, jornalista, mãe, esposa, e, sobretudo, educadora!

A partir das ideias defendidas pela autora, Francisca Diniz, foi defensora intransigente da Educação das Mulheres como fator de sua emancipação. E para isto faz críticas à sociedade em que vivia, pois a Educação tinha muito pouca importância para a população, e principalmente para os governos. A mulher era vista, simplesmente, como uma servidora do lar e do marido... então pra que estudar? Os conhecimentos adquiridos na família tradicional eram suficientes. Mas em seu jornal, O Sexo Feminino, Francisca Diniz, deixa pouco espaço para outras reivindicações importantes, além da Educação da Mulher. Também estende esta Educação para toda a população, principalmente para as crianças, inclusive faz pesquisas sobre os índices de analfabetismo no país, chegando até na Corte. A política ocupa pouco espaço em seu jornal. Mas valoriza as leis abolicionistas e a ação da Princesa Isabel - uma digna representante das mulheres na política. Francisca Diniz mostra que a Abolição da Escravidão negra não vai fazer a abolição da mulher da escravidão em que vive no lar. Achei esta ideia muito importante, por isso acredito que o ideal da educadora vai além de seu tempo. Francisca defende também o voto feminino e a participação da mulher no mercado de trabalho. Vê o voto de forma irrestrita, sem necessidade de renda. A maternidade e o casamento também são tratados em seu jornal, aos quais faz ampla defesa, certamente por influência da Igreja Católica. Mas o casamento civil é uma de suas bandeiras de luta. Acredita e publica em seu jornal que a mulher só vai se emancipar efetivamente através da leitura e do conhecimento intelectual. Era leitora assídua de livros de Filosofia e da literatura atual para se manter informada. Solicita às mulheres que dediquem parte de seu tempo de trabalho à leitura. Foi uma mulher de ampla visão social. É Positivista, por influência dos intelectuais da época, mas sem nunca expressar este pensamento. Sabe, com maestria, defender temas tradicionais com novas reivindicações revolucionárias para a época. Parece que tenta unir as mulheres, mesmo as mais conservadoras, pois suas pautas também são defendidas e divulgadas no jornal, como a maternidade e o casamento. As normas do Bispo divulgadas, são a prova disso. 

Nos projetos pedagógicos, Francisca Diniz, procura o apoio tanto da comunidade como dos governos, inclusive da Câmara de Vereadores de sua cidade. Nestes projetos incluía suas filhas na administração do estabelecimento e em toda a implementação das atividades. Deu início à criação de escolas particulares, tendo em conta a situação das famílias envolvidas, inclusive quem não podia pagar pelo ensino era isento da ajuda financeira. Não discriminava nenhum tipo de aluno(a). Utilizava a assinatura de seu jornal como forma de pagamento da escola pelas famílias. Cria escolas primárias e secundárias e divulga os currículos de cada uma, revelando neles uma ampla carga horária de conhecimentos os mais variados, e não deixando de realçar os conteúdos religiosos e morais para a formação dos jovens. Valoriza a mulher como a principal trabalhadora do ensino, pois na concepção da época, a mulher traz consigo as marcas da maternidade, que se estende no ambiente escolar. Neste período os homens passam a deixar o ensino para se dedicarem a outras atividades que estavam surgindo, principalmente na indústria e no comércio. Francisca critica a ação dos homens no Magistério, pois os mesmos não têm formação moral para darem exemplos às crianças e adolescentes. Reserva o trabalho dos homens na Educação para Jovens e Adultos. O que parece certo, inclusive para os dias de hoje. A duração do funcionamento destas escolas é incerta, pela ausência de documentação, conforme a autora do livro.

No final do capítulo a autora trata das publicações em jornais feitas por Francisca Diniz. Realça algumas questões como sua preocupação em produzir um jornal totalmente feminino, inclusive com publicações apenas de mulheres. Mostra suas dificuldades financeiras em manter o jornal, e a dificuldade de ajuda, inclusive por parte das mulheres. Fala de sua relação com outros jornais, inclusive de outros Estados, e até de outros países, situação que levava à publicação de artigos inspirados neste intercâmbio. Encerrando mostra as publicações literárias de suas colaboradoras, como poemas, contos crônicas, romance, e até o folhetim, uma espécie de produção em capítulos como as novelas de hoje, Algumas mulheres não colocavam seus nomes, talvez com medo de alguma crítica. Em suas últimas afirmações, Bárbara mostra que Francisca Diniz, foi mais que tudo uma educadora, além de feminista.

Capítulo 2

Josephina Alvares de Azevedo: professora, jornalista e, sobretudo, feminista!

Pelas primeiras informações, a autora destaca mais o lado jornalístico e as ideias de Josephina sobre a emancipação da mulher. Bárbara, tenta esboçar uma pequena biografia da autora, mas afirma que sua história de vida possui poucas informações seguras, principalmente quanto ao local de nascimento e datas importantes como seu nascimento e ações. As informações existentes são contraditórias. Confirma com certeza, seu local de nascimento através de seu jornal A Família, que é a cidade de Recife. Seu jornal teve várias colaboradoras assíduas, que na opinião da autora do livro, eram afinadas com os pensamentos de Josephina, apesar de algumas defenderem opiniões diferentes da dona do jornal, mas eram publicadas, parece que a intenção era manter a liberdade de imprensa e a produção escrita das mulheres. Um diferencial em relação à Francisca Diniz, é a ideia de que a maternidade era essencial na vida de toda mulher, como pensava a última; na opinião de Josephina, a mulher, não necessariamente deveria ser mãe. Dá a entender que poderia ser uma opção. Seu jornal também teve colaboradoras de outro país, como o Sexo Feminino. Trabalha também no texto sobre a questão do direito de votar das mulheres, mas que o direito de ser votada não era tão urgente. Parece que criou etapas na conquista destes direitos, mas uma colaboradora já defendia o direito da mulher ser votada imediatamente. Opinião permitida por Josephina, como explicado acima sobre as participantes das publicações. Também a Educação é importante para Josephina, pois a mulher não nasceu para ser escrava do homem, e poderia exercer as funções, mesmo as masculinas, no mercado de trabalho. Informa sobre a formatura no curso de Direito em Recife, de três mulheres. Considera este fato um grande avanço na emancipação feminina.

O diferencial de Josephina nas publicações é a existência de uma agenda maior de reivindicações femininas em seu jornal, como a questão da Abolição da Escravatura, do voto feminino, da Educação, a assistência social dos libertos após a abolição, a situação da Justiça no país, a vida das presidiárias nas prisões e suas relações promíscuas neste ambiente com os responsáveis em manter as prisioneiras, a criação da lei do divórcio para que a mulher não tivesse que ficar dependente do homem para sempre, em uma situação insustentável. Enfim, a questão da cidadania estava impregnada nas defesas de Josephina em seu jornal. É muito interessante como um jornal com um título que parece delimitar suas publicações conseguisse abrir um leque tão grande de reivindicações; isto se deve, com certeza a uma estratégia bem articulada de sua autora. 

O livro apresenta um mapa das viagens de Josephina pelo Brasil para divulgar seu jornal e sua ideias. Faz um relato de cada viagem pelos Estados e cidades brasileiras. Visita Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco, e comenta sua passagem por vários locais culturais, escolas, e até pelos hotéis. Tece elogios ao Estado da Bahia por sua recepção carinhosa e pela cultura de seu povo, além de elogios de outros lugares que passou. Visitou até o Imperador e a Princesa Isabel, da qual recebeu a promessa de garantir várias assinaturas ao seu jornal A Família. O Imperador também apoiou sua iniciativa. Passou em redações de vários jornais em suas viagens. Sempre foi muito bem recebida pela Imprensa. Faz avaliações de projetos educacionais em que visitou. Além dessas viagens, fez outras não relatadas no texto. Pretendia visitar outros países para divulgação de seus projetos, mas o livro não informa se as realizou. Se emociona ao visitar Pernambuco, sua terra natal em texto poético e comovente.

A autora do livro trabalha a questão do formato do jornal/revista A Família. Foi discutida se A Família seria um jornal ou uma revista. Diante disso passou pelas duas fases. Foi chamada de jornal e revista, em períodos diferentes. Teve edições únicas por semana e duas edições por semana. Sobre sua publicação, Josephina passa por dificuldades, assim como Francisca Diniz, sendo que a última discute mais este assunto. As duas mantém seus jornais através de assinaturas das leitoras, assim como reclamam de muitas mulheres que não assinam os jornais e não se interessam pelo seu conteúdo. O jornal de Josephina é muito variado em seu conteúdo, falando da educação da mulher, e de outros assuntos cotidianos, e também de notícias do país. Como Josephina tinha ampla cultura, este fato reflete em sua publicação, inclusive com indicações de leituras. Fala sobre Teatro, e chega até discutir com um teatrólogo sua peça exibida, e que a jornalista assistiu e criticou. Debateu com o autor o conteúdo da peça, que em sua opinião depreciava o papel da mulher na sociedade. Teve várias colaboradoras no jornal para a produção de matérias. O livro cita estas colaboradoras, sendo que algumas tinham participação direta na produção do jornal. Josephina produz outras obras literárias, além do jornal A Família, que são muito valorizadas pela autora, e todas com o objetivo de educar as mulheres para o exercício da cidadania, inclusive a peça teatral O Voto Feminino, que é exibido no Teatro Recreio Dramático, tendo recebido críticas favoráveis. E concluindo vamos deixar a autora, Bárbara, falar: "Afinal, não é nosso objetivo generalizar os empreendimentos feministas; pelo contrário, é nossa meta mostrar a riqueza da imprensa enquanto fonte de pesquisa, ressaltar o potencial das ações das mulheres que publicaram na imprensa e abrir o caminho para novos trabalhos e questionamentos sobre o tema." (p.209).

A autora, Bárbara, utiliza várias fontes para sua pesquisa, como livros publicados, além dos jornais e outras produções das protagonistas, e dissertações de universitários(as).

Boa leitura!

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