domingo, 26 de novembro de 2023

As negras batinas da conjura de Minas - Maria de Lourdes Dias Reis

Livro As negras batinas da conjura de Minas
Maria de Lourdes Dias Reis
Introdução
Nos textos que dão início ao livro, são realçados o contexto da Devassa em Minas Gerais, em 1789, e um leve perfil de seus participantes, os padres, que apesar de terem uma formação religiosa em Seminários, não levavam muito a sério seu papel religioso de autoridade que conduzia as comunidades nos caminhos da fé. Preocupavam muito mais com seus bens patrimoniais e de riqueza, por isto eram, geralmente, proprietários de terras e de escravos. Como intelectuais tinham acesso à literatura mais moderna da época, mesmo sendo proibida na Colônia, como as obras dos Iluministas, possuindo, inclusive alguns padres, ampla biblioteca, certamente ajudados pelos advogados da época para sua aquisição, como Tomás Antônio Gonzaga e Cláudio Manuel da Costa, mas não deixa de ser um mistério como estes livros chegavam ao Brasil, pois era proibida a entrada de livros na Colônia. Os textos introdutórios também informam sobre as várias obras publicadas sobre o assunto, e os Autos da Devassa, por longo tempo desaparecidos em Portugal. Foram sete padres envolvidos na Conjura, mas apenas cinco foram condenados. No Desenvolvimento do livro, a autora traça uma biografia de cada padre envolvido na Inconfidência Mineira. É uma obra mais informativa, com uma leve análise na conclusão.

Desenvolvimento
Esta parte tem início com a narrativa e estudo da vida do Cônego Luís Vieira da Silva, homem culto e voltado para os estudos em suas várias áreas do conhecimento. Era apaixonado por História, mas estudava Filosofia, Matemática, Geometria, Astronomia, Artes Militares e Literatura. Admirava Voltaire na Filosofia, pois em sua opinião "Era o campeão das liberdades individuais", coisa mais desejada na Colônia. Atuou nas cidades de Diamantina e Tiradentes, sempre defendendo as ideias iluministas aplicadas na França e nos Estados Unidos. Era amigo de Tomás Antônio Gonzaga e Cláudio Manuel do Costa, e defendia a atuação firme de Tiradentes, inclusive afirmando que se tivéssemos mais homens como Tiradentes, a Conjuração teria avançado. Tinha uma biblioteca de qualidade pela existência de livros de vários autores renomados da época, em todas as áreas. Viveu pobre, e sua riqueza se resumia a sua cultura e livros. Tinha duas filhas, portanto era normal na época os padres não seguirem o celibato.

Sobre o Padre José da Silva e Oliveira Rolim a autora também dedica um longo capítulo, pois sua história de inconfidente é fascinante, sendo o inconfidente mais preocupado com sua riqueza pessoal do que com seu trabalho religioso. Fazia de tudo para se enriquecer cada vez mais, fazendo contrabando de escravos e de diamantes, além de ser um agiota. Foi considerado o mais rico da Inconfidência, pois recebeu herança da família que se aliou a sua ganância por riqueza. Foi o primeiro inconfidente a admitir o valor de Tiradentes como herói de um Movimento. Inclusive foi Tiradentes que levou a Maçonaria para Minas depois de uma viagem à Bahia indo para Vila Rica. Também foi o último inconfidente a ser preso, pois sua fuga foi uma verdadeira epopeia. Ninguém conseguia pegá-lo, pois era muito esperto, certamente tinha medo de perder sua fortuna. Viveu longamente, chegando aos 88 anos, sendo que a média de vida era de 60 anos na época. Ficou preso por 14 anos, e depois da Independência do Brasil conseguiu reaver sua fortuna. Chica da Silva faz parte de sua vida, pois foi filha adotiva de seu pai. Não foi enforcado por intervenção de D. Maria I, pois esta não permitiu o enforcamento de clérigos.

Os padres Carlos Correia de Toledo e Melo e o Padre José Lopes de Oliveira, são estudados pela autora, em suas biografias, nas quais se percebe a pouca importância desses clérigos no movimento da Inconfidência Mineira, pois tinham, em geral, interesses financeiros para solucionar, daí o apoio aos inconfidentes. O Padre José Lopes de Oliveira foi o primeiro padre a morrer na prisão, sendo enterrado pelos próprios soldados da guarnição como um mendigo. Sua morte teve como fator positivo o abrandamento das penas dos demais padres da Fortaleza. Importante notar como estes padres atuaram em várias cidades do interior de Minas, como Tiradentes, Resende Costa, Barbacena, Itapecerica, entre outras, pois na Escola, quando estudamos a Inconfidência Mineira, temos a impressão de que todos moravam em Vila Rica, atual Ouro Preto. O padre Manuel Rodrigues da Costa, apesar do belo texto escrito pela autora, não deve ser considerado um inconfidente, na minha opinião, pois não participou efetivamente da Conjura, apenas ouviu as palavras de Tiradentes, quando o mesmo se hospedou em sua fazenda, informações depois denunciadas nos Autos. Era um intelectual interessado nas ideias iluministas, e pode ser considerado um dos traidores dos inconfidentes, pois depois, inclusive, recebeu D. Pedro I em sua fazenda com honrarias, quando a cidade toda o repudiava. Teve longa e vitoriosa carreira política após seu retorno do exílio.

Os demais padres tiveram participação quase nula na Conjura, a não ser o fato de terem ouvido falar e participar dos depoimentos. É um livro de fácil leitura pela proposta informativa da leitura e por sua escrita clara. As informações são importantes para futuras análises da participação dos clérigos na Inconfidência Mineira, principalmente sobre o jogo de poder entre os padres e o governo português da época, muito ligado à Igreja Católica. Certamente o governo aliviou a participação dos padres no evento. Eu recomendo a leitura do livro para todos os leitores interessados em História, e principalmente pela História de Minas Gerais.

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