domingo, 7 de fevereiro de 2021

Como se escreve a história e Foucault revoluciona a história - Paul Veyne

 



Introdução
Na Introdução o historiador trata da questão essencial para a historiografia: "O que é a história?" Para tratar do assunto começa questionando o que "a história não é", por exemplo, a história não é uma ciência. Em seu estilo bem humorado e com uma leitura fácil termina falando verdades duras aos historiadores:


Capítulo 1 - Apenas uma narrativa verídica
O próprio título já diz tudo - A história é uma narrativa de fatos verídicos praticados pelo homem. Destaca a questão da síntese do historiador, pois a realiza para transformar informações variadas e escolhidas subjetivamente em fatos palpáveis para o leitor.
(p.18)

Trabalha a questão dos documentos como fonte primeira dos historiadores, mostrando que os mesmos devem ir além da informação documental.

(p.18)
Ainda no capítulo 2 Veyne mostra a razão do gosto pela história. Ela é uma narrativa que agrada ao público, pois a ele se refere, ou seja à vida do ser humano. Além, é claro, da inerente curiosidade do ser humano. E mostra o que realmente interessa ao historiador - a verdade.
(p.23)

Capítulo 2 - Tudo é histórico, logo, a história não existe
É interessante notar que o autor não utiliza a expressão acima, que dá nome ao capítulo, mas pelo texto pode-se perceber este significado da história, principalmente pelo campo cada vez mais amplo de sua pesquisa, e que a história como a conhecemos não existe (afirmativa em texto anterior). Afirma que o campo da história é indeterminado, mas com uma única exceção: "... que tudo o que nele se inclua tenha, realmente, acontecido." Se existe uma "lei" da história, esta parece a única. Fala sobre as lacunas na história, das questões factuais e não-factuais (aquelas que não identificamos), da subjetividade do historiador na escolha dos temas de pesquisa: "... sim, a história é subjetiva, pois não se pode negar que a escolha de um assunto para um livro de história seja livre." Vê Voltaire como um marco na evolução da produção e pesquisa históricas.

Capítulo 3 - Nem fatos, nem geometral, mas tramas
O autor insiste na subjetividade do historiador e nas tramas, característica essencial das narrativas. O historiador escolhe os "fatos" relevantes, e realiza a trama. Um elemento que pode ser importante diante da escolha de um historiador, pode não o ser no olhar do outro, Daí, quase uma defesa do historicismo da história política e Metódica, quando fala da importância de determinados eventos históricos, como a I Guerra Mundial e um detalhe de algum outro evento. Insiste, o autor, na parcialidade do conhecimento histórico.

Capítulo 4 - Por simples curiosidade para com o específico
Neste capítulo o autor entre em detalhes sobre as especificidades da História. Destaca a palavra "interessante" como própria da curiosidade do historiador. Cita Weber como exemplo de uma visão histórica relacionada a valores, nas escolhas de pesquisa dos historiadores. Identifica dois princípios da história: primeiro que a história é conhecimento desinteressado; e o segundo, de que todo fato é digno da história. Entra também em questões sobre uma história dos grandes líderes, do cotidiano e do historicismo.  Mostra que existe uma história popular (placas de avenidas, dos grandes homens, dos livros escolares, etc.) e uma história dos historiadores. Veja texto abaixo (p. 52):



Capítulo 5 - Uma atividade intelectual
O autor começa o capítulo afirmando que escrever história é uma atividade intelectual. E depois passa a fazer análises sobre a questão do intelectual escritor da história, realçando principalmente seu envolvimento enquanto pessoa na produção histórica, e afirma que este fato diferencia a escrita histórica das outras atividades intelectuais. Interessa-se pelo gosto humano em conhecer seu passado e aponta duas razões para este fato: a primeira refere-se à relação do ser humano com seu grupo social, familiar, nacional, e a segunda razão é a permanente curiosidade do homem. O autor consegue unir informação de simples compreensão com análises mais complexas, por isso, sua leitura fica interessante, como a própria história. Pois uma leitura simplista ou complexa demais "corrompe" a compreensão da leitura.

Capítulo 6 - Compreender a trama
Neste capítulo se discute a questão da história como uma narrativa sem nenhuma explicação do texto. O autor mostra que a explicação é usada para a compreensão da trama ou narrativa, mas não uma explicação de profundidade como as outras ciências. Para o autor, a história vai ser sempre uma narrativa dos acontecimentos humanos. Mas não pode prescindir de uma explicação para a compreensão da trama histórica, mas nunca uma explicação científica. Segue fazendo análises sobre causas históricas com o uso de autores de outras áreas e de historiadores.

Capítulo 7 - Teorias, tipos e conceitos
O autor volta à questão fundamental do ato de escrever a história que é a trama, em sua opinião, e que eu concordo, pois também vejo a história como a narração dos fatos humanos do passado. Logo a questão das teorias, tipos e conceitos em história não passam de componentes desta mesma trama, como afirma o autor na página 100 - "Teorias, tipos e conceitos são uma única e mesma coisa: resumos prontos de trama." Discorre longamente sobre os conceitos, mas os vê como aquilo que o historiador já contém em sua formação sobre o que é alguma coisa que está narrando, tipo uma revolução, uma agitação, uma classe social, etc.

Capítulo 8 - Causalidade e retrodicção.
Neste capítulo o autor trabalha muito a questão das causas em História, mas mostra que estas fazem parte da trama, e não de um método em História. Entre em detalhes na questão da causa, ficando, às vezes, com um texto muito repetitivo e cansativo. Utiliza vários autores para suas explicações. Defende o tempo todo que o historiador busca a compreensão de uma realidade, e não sua explicação, como o fazem as ciências naturais. Afirma que a História nunca será científica. A retrodicção é a ocupação das lacunas deixadas pelos documentos, que o historiador através da síntese, procura resolver.

Capítulo 9 - A consciência não está na raiz da ação
O autor aprofunda na questão da consciência dos personagens históricos sobre sua consciência na ação, e para isto, busca sempre uma compreensão cultural embutida nas decisões. O capítulo é cheio de detalhes e de citações de outros autores, como filósofos e historiadores. Trabalha também com a questão do julgamento dos historiadores sobre os fatos narrados, afirma que os historiadores não fazem julgamentos dos fatos contados.

Capítulo 10 - A ampliação do questionário
Neste capítulo o autor torna-se mais objetivo e menos voltado para os detalhes da pesquisa histórica. Mostra o objetivo do Historiador, novamente, que é a busca da verdade dos acontecimentos. Trabalha um pouco a questão dos fatos em História, principalmente a chamada História Factual, que a Escola dos Annales condena. A questão da História Estrutural que defende em detrimento de uma "excessiva" preocupação com os fatos em sua opinião. Identifica o novo perfil dos manuais de história com a predominância da história estrutural, ou seja, uma história que busca mais explicitar/explicar os fatos narrados, do que em enumerar os fatos, fatores, personagens, etc. A ampliação do questionário é o aumento das perguntas dos historiadores. Os textos abaixo explicam bem estas colocações do autor:
 P.169
P.172
 No texto acima mostra que os historiadores utilizam de "conceitos" históricos em sua narrativa.

P.179

Capítulo 11 - O sublunar e as ciências humanas
O autor volta à questão da cientificidade da História, afirma que a História não é uma ciência, mesmo humana, mas ao mesmo tempo valoriza o estudo histórico como um tipo de conhecimento amplo, além das ciências exatas. O texto abaixo valoriza a História como um tipo de conhecimento privilegiado:

Capítulo 12 - História, Sociologia, História Total
Neste capítulo, o autor continua na explicação sobre a não cientificidade da História e de outras "ciências humanas" conhecidas e reconhecidas tradicionalmente, como a Sociologia e a Etnografia. Compara o conhecimento histórico com a prática da Física para se chegar ao conhecimento. Faz dura crítica à Sociologia, identificando-a como um tipo de história. E no final comenta sobre  Max Weber na produção histórica, dando a este autor grande autoridade no desenvolvimento historiográfico atual.

Parte IV -Foucault revoluciona a História
Nesta parte, o autor valoriza o trabalho do filósofo Foucault na área da pesquisa histórica, Em um texto cheio de detalhes e teoria explica o olhar do filósofo sobre a produção histórica e os historiadores. Em sua visão, Foucault valoriza mais a relação entre os fatos pesquisados do que os próprios acontecimentos, chegando a afirmar que os mesmos não existem, mas sim nas relações ou contexto. Mas considera o trabalho dos historiadores até agora, e não nega sua prática Em resumo amplia o espaço de pesquisa e a busca do conhecimento da historiografia, como o fizeram os historiadores dos Annales. Os textos abaixo explicam bem sua teoria:


P. 252

P.275
P.284

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