sábado, 27 de novembro de 2021

Os Métodos da História



Livro Os Métodos da História

Ciro Flamarion Cardoso

Héctor Pérez Brignoli

Introdução

Pela leitura das "introduções" ao livro, percebi o quanto este livro vai ser importante para minhas atuais pesquisas, pois o autor mostra que um dos objetivos do livro: "É também um guia extremamente útil para o trabalho dos pesquisadores e para todos os professores formados em história tradicional e desejosos de renovar sua perspectiva metodológica.". Pois já há algum tempo venho fazendo pesquisas na área de teoria da História com o objetivo de tentar recuperar a defasagem nesta área por ocasião de minha licenciatura em História, que foi em uma Faculdade que trabalhava a linha teórica positivista ou factual. Por ocasião de minha aposentadoria passei a comprar livros de teoria da História e fazer resenhas para me atualizar no conhecimento histórico mais atual. E este livro parece que foi escrito para me atender... é muita pretensão! Sei que muitos colegas meus também passaram por esta situação, só que a maioria termina aposentando e abandonando seus estudos, ainda bem que não fiz assim. Já li vários livros de teoria da História, mas este afirma textualmente esta necessidade. Também achei interessante a perspectiva de estudo dos avanços da historiografia na América Latina, pois tenho lido muitos livros de autores europeus e americanos, que tratam, quase sempre de questões de seu ambiente, especialmente da França, país que, desde o início do século XX, domina as discussões teóricas sobre nossa disciplina.

Desenvolvimento do Estudo

No início do livro o autor faz uma evolução rápida das principais correntes históricas desde o Positivismo do século XIX, passando pelas Escola dos Annales que vai fazer uma revolução nos trabalhos históricos em todo o século XX. A partir daí começa a estudar cada corrente histórica de forma específica. Interessante notar, que quando fiz Faculdade nunca se falou na Escola dos Annales, e continuamos a estudar e praticar uma história positivista até o final do curso. Fui conhecer esta escola quando trabalhei em uma biblioteca pública durante meu período de atuação no Magistério, e depois na aposentadoria quando tentei resgatar as perdas teóricas do meu curso da História. Passei a comprar vários livros de Teoria da História e fazer suas resenhas aqui, para ajudar alunos que estão começando os estudos históricos nas Faculdades, e para minha consulta mais imediata. Fiquei assustado com a existência de tantas teorias históricas, e principalmente no meu tempo de estudante de curso superior, e os professores não tocarem no assunto. Comecei meu curso de História em 1980 e terminei em 1983. Fiz Pós-Graduação em História Contemporânea em 1991, e nada de Teoria da História, e o interessante é que os professores vieram dos grandes centros como o Rio de Janeiro, isto prova que o atraso não era só na minha região, mas no Brasil como um todo.

A seguir o autor passa a analisar cada escola histórica a partir dos Annales, com a predominância de uma visão econômica da História, como a História Serial, História Quantitativa e a "NEW ECONOMIC HISTORY'. Entra então a questão dos historiadores-economistas, dos próprios economistas que utilizam a História em suas pesquisas, e dos Historiadores que trabalham as questões econômicas. Mostra que a História possui um método de pesquisa, mas não comparável às ciências matemáticas e físicas, quando aplicado às questões econômicas. A partir daí passa a estudar a História Econômica, A História Social e o Estruturalismo. Nesta parte utiliza muita teoria da Sociologia, principalmente. Sempre com a predominância da Economia sobre a História. Por outro lado é um otimismo, pois vê a História como a "Ciência Social" menos estruturada, portanto, com mais chances de crescimento. Aponta ideias de Caio Prado Júnior e Nelson Werneck Sodré nas discussões sobre a Teoria da História, especialmente sobre o Estruturalismo. Resvala nas discussões sobre a História da América Latina, relativas às teorias acima. Mostra como toda teoria tem seus defeitos, ou seja, uma completa a outra de alguma forma. Não existe uma teoria perfeita para a aplicação na pesquisa histórica. Termina, em minha opinião, mostrando que os historiadores aplicam partes de algumas teorias em suas produções, sem o perceber. Escrevi livros de História. Qual teoria apliquei? Não sei. Talvez tenha sido mais factual com um pouco de crítica pessoal.

No capítulo 3 estuda o Marxismo e a História no século XX, e seu estudo me deixou assustado como fomos enganados por nossos administradores educacionais sobre a situação do Socialismo na segunda metade do século. Seguimos cegamente as ordens dogmáticas de nossos gestores, talvez com uma esperança vã de se construir uma nova sociedade com ideias oriundas dos primeiros teóricos do Socialismo Soviético. Líamos abundantemente obras de socialismos já superados, e, o pior, acreditávamos naquelas mentiras, e até defendíamos com entusiasmo tais ideias superadas há décadas. No mesmo capítulo, o autor estuda o Marxismo aplicado à colonização da América Latina, e neste texto o autor trabalha bastante as teorias de Marx e de outros autores marxistas e não marxistas. É um texto bastante teórico que parece não chegar a lugar nenhum, pois no final afirma: "A tarefa de construir uma história marxista na América Latina, a partir dos progressos recentemente conseguidos pela teoria do materialismo histórico (...) é excitante e desperta interesse. (...) -apesar de conquistas parciais de grande valor - até o momento progrediu-se pouco em direção a tal meta." (p.103).

Sobre a História Demográfica, o autor primeiro trabalha os métodos da Demografia como ciência, mostra seus métodos de trabalho e exibe vários gráficos mais voltados para a Estatística das populações. Mostra que a Demografia auxilia a História e outras ciências, como a Sociologia e a Economia, além de outras ciências políticas; mas que delas também depende. A partir daí faz um longo estudo da História Demográfica. Começa fazendo um breve desenvolvimento da Demografia a partir de 1930, pois a partir daí começam a surgir nomes que se dedicam a sua pesquisa e eventos importantes para este debate. Mostra como a Estatística é essencial para o estudo da Demografia, inclusive divide seus períodos a partir da importância ou ausência desta. Faz um longo estudo sobre as fontes utilizadas pela Demografia, inclusive utilizando vários gráficos estatísticos. Foca o estudo das fontes na Europa e América Latina ao longo do tempo. Sobre a História Demográfica o autor entra em detalhes, inclusive sobre os levantamentos paroquiais na Europa e na América Latina, mesmo assim em sua conclusão, afirma que foi superficial nos métodos adotados pela ciência demográfica, pois vê seu trabalho em nível didático, portanto quase esquemático. É bom para quem pretende fazer alguma pesquisa nesta área, mas para os métodos da História, em minha visão, poderia ter eliminado muitos detalhes da pesquisa e ser mais objetivo.

Sobre a História Econômica na América Latina e seus principais problemas, o autor é bem detalhista, mostrando um histórico de como aconteceu a Colonização na América Latina, incluindo a Colonização Portuguesa no Brasil. Cita muitas fontes para pesquisa, o que vai ajudar muito aos interessados no assunto. Identifica as falhas nos métodos para a compreensão dos caminhos percorridos no processo de colonização. Valoriza os primeiros historiadores do Período Colonial, realçando sua organização e o método de pesquisa, mesmo quando os pesquisadores não eram historiadores por profissão. Sobre a Colonização da América Latina utiliza bastante a História Comparativa, que era a minha esperança de que o autor trabalhasse mais a Teoria da História. Percebi que ao longo do texto ele vai utilizando as teorias, mas sem comentários sobre as mesmas, mas sim as pratica. Assim me atende de forma indireta, que talvez já estivesse em seu planejamento do livro, mas sem o explicitar.

O autor, pelo texto extenso de História Demográfica e Econômica revela sua preferência por estas, mas a partir do meio do livro trabalha de forma objetiva a História Social e Comparativa. Sobre a última mostra suas qualidades e defeitos, e aponta March Bloch como seu principal defensor. Os textos a partir da História Econômica ficam mais acessíveis a quem não tem muito conhecimento de Economia, como eu. Inclusive o autor dá a sugestão aos historiadores para fazerem um cursinho de Economia. Em minha opinião, acho que o autor deveria ter cortado o texto de História Econômica pela metade, o que tornaria o livro menos longo e cansativo, mesmo que Ciro Flamarion tenha dito que foi superficial no texto. Para aqueles historiadores que pretendem se especializar em História Econômica o livro é muito bom. Para os que preferem um estudo sistematizado dos Métodos da História, acho que não é indicado, e prefiro outros que já li e que aqui estão resenhados, como o de John Tosh e Peter Burke, por exemplo.

Mas no final do livro, apesar de seu texto ter o predomínio da História Econômica, o autor produz uma capítulo muito bom sobre o processo de construção da pesquisa histórica, com o título de Como Organizar e Realizar uma Pesquisa Histórica. Mostra os caminhos que devem ser tomados pelos historiador para a elaboração de uma boa produção histórica. Mostra os métodos a serem adotados; a avaliação sobre os documentos e sua classificação, e os perigos e tentações possíveis que os historiadores correm em sua pesquisa. Uma questão importante que o autor coloca é para você evitar copiar o texto, mas sim fazer um bom resumo. Realmente é um capítulo que merece um livro específico sobre o assunto que pode ser muito útil para os novos pesquisadores da História.

Um bom livro de História Econômica.

 

Postagem em destaque

O Livro Negro do Comunismo - Vários Historiadores

  Introdução Só pela leitura dos textos das capas e orelhas do livro já deixa claro o sonho desfeito e o terror implantado pela Revolução de...

Postagens mais visitadas