Perry Anderson
O autor é um dos grandes historiadores de nosso tempo, mesmo já com uma idade avançada. Lembro de suas obras quando eu fazia Faculdade na década de 1980. Escreve fácil sobre temas complexos como a filosofia envolvendo a história. Identifica-se como um historiador que ainda acredita no Socialismo, mesmo depois do fim do Socialismo Soviético e do Leste Europeu. Na introdução do livro mostra a trama a ser desenvolvida, ou seja, o estudo de filósofos que desde Hegel já falavam do fim da história; e diz textualmente o que seria este fim da história numa visão do domínio das ideias sobre as produções materiais da humanidade: "A tese central de seu original ensaio, propõe, é claro, que a humanidade atingiu o ponto final de sua evolução ideológica com o triunfo da democracia liberal ocidental sobre todos os seus concorrentes no final do século XX." (p. 11). Afirma também, que "o fim da história não é a cessação de toda a mudança ou conflito, mas o esgotamento de quaisquer alternativas viáveis para a civilização..." que levassem a um novo desenvolvimento do processo histórico. Destaca que a democracia liberal ocidental é a forma final de governo para a humanidade, não restando outra opção. (p.12). Busca as origens mais remotas desta previsão, principalmente a partir de Hegel. Mesmo que continue a existir uma história regional/local, mas esta jamais será um caminho para uma solução global para a humanidade.
Iniciando a busca das origens da frase "O fim da História", o autor afirma que Hegel nunca utilizou a expressão em seus livros, mas a partir de algumas de suas publicações se percebe que o filósofo tinha a percepção dessa realidade, através da criação de um Estado de completa satisfação social, que seria o encerramento de lutas por igualdade através de leis e práticas justas - expressões não utilizadas pelo autor. O filósofo e economista Antoine-Augustin Cournot também não se refere ao fim da história explicitamente, mesmo que faça comentários importantes sobre os governos e a economia, e até prevendo o fim do comunismo por suas próprias políticas isolacionistas, mas o fim da história nunca fica claro em seus textos e estudos. Trabalha a questão da economia e até a obra de Marx. Textualmente: Cournot repudiou expressamente qualquer concepção teleológica de história,..." (p.31). O filósofo russo Kojève também vê o fim da história como o fim dos conflitos humanos, mas, ao contrário dos anteriores, cita textualmente a expressão à página 57: "assim, estando o desejo inteiramente satisfeito, a luta e o trabalho cessam: a história acabou, nada mais há a fazer.". É claro, que vai depender do conceito que temos de história; se é o fim dos conflitos acabou mesmo, conforme os filósofos anteriores. Mas o que estudamos sobre o que é a história; a história não tem fim, a não ser com fim do ser humano, mesmo que seu desejos sejam todos satisfeitos. Por que a Filosofia tem tanto interesse na História, se seus objetos de pesquisa são tão amplos? Uma questão que fica para ser resolvida por algum autor.
Depois de tentar identificar nos filósofos antigos a origem da expressão "O fim da história", passa o autor a comparar as visões de cada um sobre o assunto, e até a comparar essas opiniões com outros filósofos. Mas mostra que todos têm divergências uns com os outros, além de alguns pontos em comum. Mas nenhum deles chega a este chamado fim da história como o vê Fukuyama. Cada um deles vê vagamente um fim da história como uma possível solução para os problemas sociais e políticos de sua época, é o que deixa a entender através de textos bastante complexos e detalhistas do estudo, voltados quase sempre para a Filosofia, ficando a História em segundo plano, mesmo que o foco seja a mesma.
Continuando o estudo, o autor novamente viaja pelos caminhos da Filosofia, mas mostra que o fim da História de Fukuyama, é na verdade, o fim do Socialismo e a ausência de qualquer alternativa ao Capitalismo, daí a sensação de que a história tenha chegado ao seu fim. Mas este fato não significa que as Democracias Liberais tenham resolvido todos os problemas sociais como a pobreza das grandes cidades, o desemprego, a violência, a segurança dos cidadãos e as guerras. Mostra como funcionam as democracias falsas dos Estados Unidos, Inglaterra e Japão, principalmente. O capítulo é longo, teórico, mas muito esclarecedor quando entra de fato no assunto tratado. Trabalha um pouco os filósofos gregos como Platão e Aristóteles sobre as questões do poder e da política, e que em minha opinião não acrescentam grande coisa ao conteúdo proposto.
No último capítulo do livro, o autor explica com poucas palavras o que é o chamado fim da história: "A visão de Fukuyama não é artificial ou implausível, porque recorre à convicção generalizada de que o colapso do bloco soviético mostrou justamente ser esse o caso: o que o fim da história significa, acima de tudo, é o fim do socialismo." (p.119). Mas continuando o capítulo, o autor continua acreditando nos ideais socialistas, com uma prática diferente da ditadura stalinista, mas com a mesma teoria do socialismo teórico, e para isto, dá algumas dicas complexas de funcionamento do sistema de governo. Reconhece que o esforço para a construção de um sistema que substitua o capitalismo no futuro, vai ser muito maior que o anterior que construiu o socialismo soviético.
E para terminar, deixo um texto do autor que mostra como funcionam as teorias sociais e políticas na história: "Nenhum movimento político realiza exatamente aquilo que se propõe levar a cabo, e nenhuma teoria social prevê jamais o que irá justamente ocorrer. Não há a menor dificuldade em se enumerar todas as afirmações e previsões equivocadas feitas por Marx, Luxemburgo ou Lênin." (p.140).