sábado, 4 de maio de 2024

O Livro Negro da Nova Esquerda

 


Introdução
Na Introdução, os autores mostram a origem do movimento de esquerda atual e suas características como a questão do feminismo, do LGBT, das Ongs, além do envolvimento de grupos terroristas de muitos países com tendências de esquerda, e de autoritarismos como Cuba, Colômbia, inclusive o Brasil quando criou o Foro de São Paulo em 1990, através da ação de Lula, que em 2002 foi eleito Presidente. Mostra como este movimento foi uma alternativa, aliás alertada por Fidel Castro, ao fim do Comunismo Soviético, ou seja, procuraram uma nova alternativa ao sistema Capitalista, que na visão do livro O Fim da História, passou a ter total domínio sobre o planeta, e sem nenhuma oposição. Enfim, não existe mais Comunismo ou Comunismos, estamos vivendo uma fase em que as esquerdas tentam se reinventar após o fim da ideologia soviética baseada na luta de classes, na mais-valia, no uso dos trabalhadores urbanos; inclusive seus símbolos tradicionais como a foice e o martelo foram abandonados. As esquerdas vivem um momento de agonia após o abandono de seu ideário dogmático. Agora buscam formas de se unir em torno de ideias difundidas, principalmente entre os intelectuais, o jornalismo e as escolas, além de Movimentos como o feminismo e suas pautas variadas. Deixaram a violência do passado quando matavam latifundiários e trabalhadores pela estratégia das urnas, mesmo que fraudadas, pois buscam, na verdade é o poder. Ao invés de buscar a antiga base da classe operária, agora buscam os miseráveis que necessitam da ajuda do Estado para sobreviver. O livro é dividido em duas partes: a primeira dedicada ao feminismo; e a segunda ao homossexualismo. Os dois autores dividem a tarefa.

Desenvolvimento
Na primeira parte do livro, o autor começa estudando a questão do marxismo ao longo da história, desde Marx e Engels e suas teorias. Trabalha elementos essenciais ao marxismo como o Materialismo Dialético, o Materialismo Histórico, a Ditadura do Proletariado, a Dialética, as etapas para se chegar ao Comunismo e sua concepção de Socialismo Científico em oposição aos anteriores socialistas utópicos, além da teoria de Antonio Gramsci. Faz um bom texto sobre a Revolução Russa como a exceção nas teorias marxistas, em sua queima de etapas, pois a Rússia em 1917, vivia ainda uma economia feudal, e Marx imaginava a construção do socialismo a partir dos países industriais em que a burguesia tinha atingindo sua revolução e a existência de um proletariado consolidado para combater o domínio burguês e a propriedade privada.

Sobre a hegemonia em Antonio Gramsci notamos uma profunda diferença entre sua concepção e a de Lênin. Este via o domínio dos Proletários sobre o campesinato, enquanto Gramsci via a absorção dos campesinos pelos Proletários contra a burguesia, numa tentativa de se criar uma nova cultura, que não excluiria o Estado, o Exército e a burocracia como teorizava Lênin. Daí o uso da violência por Lênin e Stalin. Nas palavras de Lênin sobre o campesinato: "Atacar juntos, marchar separados" Aqui a diferença fundamental entre ambos; Gramsci queria a união do Proletariado com o Campesinato na formação de uma cultura diferente da cultura burguesa.

Mesmo que os filósofos tentem criar formas diferentes do Marxismo original, depois do fim do Socialismo soviético, que passam a chamar de pós-marxismo, não conseguem fugir às características principais do Socialismo russo, como um governo tendo como centro de controle social o Estado, chamando este "novo" modelo de democracia, ou seja, a ausência de uma classe privilegiada como era o Proletariado, e a existência de novos segmentos sob o mesmo ideal, com a hegemonia do governo como o fez um casal de argentinos no terceiro milênio, Ernesto Laclau e sua esposa, Chantal Moufffe, caminho filosófico que deu sustentação ao governo de Cristina Kirchner, e que primeiro fizeram sucesso na vida acadêmica e depois na política. Acham que combatem outras formas de poder, mas se esquecem que a Nova Esquerda também é uma forma de poder.

A Nova Esquerda ou o pós-marxismo nasceu na América Latina, a partir de um encontro marcado pelo ditador Hugo Chaves, da Venezuela, em 2005, com o objetivo de resgatar o Comunismo extinto na década de 1990 na União Soviética, e posteriormente no mundo. Para este encontro, que depois se repetiu, reuniram-se governantes, filósofos e intelectuais para traçaram um projeto e uma linha de ação para o novo comunismo. Abandonaram a hegemonia da classe trabalhadora urbana no comando do novo sistema, como o era com Marx e Lênin, e passaram a considerar a predominância de vários segmentos sociais como protagonistas do processo social: todos os trabalhadores oprimidos, os indígenas, as mulheres, os homossexuais, etc. Daí surgiu com mais força e presença o Movimento Feminista. Mas o próprio início do Movimento por um Ditador já dá a entender que sua prática não vai diferir muito da Ditadura do Proletariado do Comunismo Real, ou seja a ausência de democracia e o uso da violência contra seus opositores.

Sobre a Primeira Onda do Feminismo, o autor mostra sua origem histórica no Renascimento com a publicação de obras de mulheres e homens em defesa da igualdade entre os sexos, depois caminha para os filósofos do Iluminismo, principalmente Voltaire, Diderot, Montesquieu e Condorcet que defendem a igualdade social, educacional e pública entre homens e mulheres, mesmo que Rousseau a combata, no Emílio. Como característica principal dessa Primeira Onda do Feminismo destaca sua meta mais ampla; a política de igualdade entre homens e mulheres e do direito ao voto. O auge desse período se manifesta nas Revoluções Liberais do século XIX que trazem em seu bojo o Capitalismo, como A Revolução Francesa e suas contradições entre os direitos entre homens e mulheres, fato histórico que ainda mantém o domínio do sexo masculino sobre o feminino em todos os setores sociais, inclusive na família. Um filósofo do início do século XX já alertava para os perigos do feminismo se envolver com demandas socialistas, como estamos assistindo nos dias de hoje, ou seja, o combate a questões naturais e  a tentativa de suas modificações.

Na Segunda Onda do Feminismo há uma divergência entre os autores do livro e outras fontes tradicionais que afirmam que esta começa em 1968, enquanto no livro trabalham a questão de uma Segunda Onda Feminista sob o domínio marxista. Sob o marxismo é realçado o trabalho de Engels, logo depois da morte de Marx, em que o autor afirma a existência de uma dominação matriarcal na sociedade primitiva sobre o homem, pois a mulher é quem definia de quem era a herança sobre a propriedade da família poligâmica. Não previu Engels as questões da natureza, como a força física do homem sobre a mulher, pois o mesmo foi adquirindo as ferramentas necessárias para a sobrevivência familiar, e ao mesmo tempo seus descendentes eram excluídos da divisão de seus bens. Com isso (a força física masculina) surge a propriedade privada, que Engels quer destruir, junto com a família patriarcal. Na sociedade patriarcal, as atividades da mulher eram sobrecarregadas, coisa que os primeiros teóricos comunistas não previram que o Capitalismo iria solucionar, ou seja, a tecnologia facilitou enormemente a carga de trabalho da mulher. Outra questão colocada é que para realizar o ideal de emancipação da mulher no comunismo era necessária a criação de um Estado forte e centralizado para dominar toda a população feminina e masculina, inclusive com o uso da violência, o que realmente aconteceu até seu fim na década de 1990.

A Libertação da Mulher no Comunismo Real foi mais uma das muitas mentiras que os governos da União Soviética contaram ao mundo. A mulher na Revolução Russa passou a ser propriedade do Estado ou do marido, sem direitos ou defesa. Foram violentadas e estupradas pelos homens e soldados do regime. Não ocuparam nenhum cargo importante no governo. Viraram prostitutas dos governantes e estrangeiros, além de não serem aproveitadas nos trabalhos públicos como ocorreu no regime nazista. Acreditavam que com a extinção da propriedade privada teriam a tão sonhada liberdade, mas sua situação só piorou, pois passaram a ser patrimônio do Estado ou do  Partido, que dá na mesma. Crimes contra as mulheres eram acobertados pelos governantes, sem nenhuma legislação que as protegessem. Inclusive o jornal oficial do regime, o Pravda dava notícias sobre a violência contra a mulher, mas era o órgão oficial do governo, e nada acontecia. Pois era o órgão oficial de informação do regime. Inclusive, médicos denunciaram estas violências e foram punidos nos campos de concentração e depois com o exílio. A própria KGB divulgou que seus investimentos eram muito maiores na formação ideológica no exterior, inclusive nos Estados Unidos, do que na ação de investigação, chegando a 85% do orçamento do órgão.

A Terceira Onda do Feminismo tem início, apesar das diferentes visões sobre estas ondas, com a publicação do livro O Segundo Sexo, de Simone de Beauvoir. Sendo o fundamento de seu feminismo a frase de que a mulher está em construção, ou seja, é uma construção cultural e histórica e não natural. Outras escritoras também partem dos princípios de De Beauvoir, mesmo com algumas alterações, mas todas fazendo críticas à sociedade capitalista patriarcal. Defendem uma nova forma de organização familiar, inclusive defendendo o aborto, a pedofilia, a homossexualidade e formas alternativas de famílias grupais. De Beauvoir era marxista, a ponto de publicar um livro, A Grande Marcha, sobre a Revolução Cultural Chinesa, sem levar em conta as violências praticadas com a população, inclusive com as mulheres. Quanto à Revolução Russa de 1917, defende que a mulher foi libertada com o novo regime, fato que nunca aconteceu. Mentiu como todos os comunistas, ou como disse Lênin, foi uma "idiota útil".

Continuando a chamada Terceira Onda do Feminismo, o autor estuda um Movimento que tem origem no século XVII, chamado nas Faculdades de Ideologia Queer, que em seu significado original inglês era dado aos desqualificados como bêbados, mentirosos e ladrões, e com o tempo passou a representar uma classe marginal da sociedade. Autoras posteriores, principalmente no século XX, transformam o termo em uma busca de identidade pessoal e social que combatem a relação heterossexual, fazendo desaparecer o sexo masculino e feminino, e chegando a ponto de desfazer o conceito de mulher, que sempre foi tida como marginalizada social e oprimida pela sociedade patriarcal. Inclusive o termo gênero, tão em moda nos dias de hoje é questionado, para fazer aparecer uma ausência de identidade do ser humano, desfazendo todas as produções naturais existentes até os dias atuais. Interessante notar como essas produções se referem principalmente às próprias mulheres... Ôpa! Mulher não existe! Esta é é a opinião de uma escritora. Este Movimento proliferou nas Universidades dos Estados Unidos, Europa e até na América Latina, como previu um líder da KGB já citado no livro. Os próprios marginalizados pela sociedade que combatiam passaram a usar o termo para significar sua situação social.

Segue o autor trabalhando sobre a Ideologia Queer com detalhes de sua prática, com depoimentos de participantes e de suas defensoras feministas. Mostra os rituais em que o corpo é amplamente utilizado como espaço sexual, além da vagina, os seios e do pênis. Nestes rituais o uso da violência contra o corpo é constante. Utilizam os métodos mais bizarros para se chegar ao prazer, além do uso da criatividade mais mórbida. Não se preocupam nem com a higiene do local público quando fazem exibições ao ar livre, expelindo o resultado da prática na população, que geralmente é pequena, em torno de 50 pessoas. Existem defensoras do Movimento que apresentam programas no Youtube para qualquer público. Combatem toda forma de sexualidade da família heterossexual, inclusive a própria família. Defendem a pedofilia, o aborto e a própria concepção do filho. Enfim adotam princípios marxistas com novas ideias de combate à sociedade capitalista, principalmente em relação à sexualidade. O autor, no final faz uma excelente análise do Movimento dizendo que cada um faça de seu corpo o que achar melhor, mas desde que não obrigue às pessoas a fazerem o mesmo, e nem envolver o Estado nesse projeto, pois o mesmo é mantido pelo povo que paga seus impostos, e que no Brasil sabemos que são muitos.

O autor entra em casos específicos da Ideologia de Gênero, relatando experiências médicas realizadas em crianças, e mostra que a sexualidade é definida não só pela natureza, mas uma união desta com fatores culturais. A ideologia de gênero defende que a sexualidade é definida unicamente por fatores culturais. O autor reconhece a importância da cultura na vida das pessoas, inclusive na definição de seu sexo. As experiências citadas de especialistas são um desrespeito com a vida de seres humanos e suas famílias. Dois gêmeos se matam (um de overdose e o outro com uma arma de fogo), depois da resistência de um sobre a experiência que nunca deu certo, e que o médico publicou em um livro sobre seu sucesso, fato que afetou ainda mais o jovem submetido ao ato irresponsável. Ainda bem que o jovem deixa seu depoimento denunciando a experiência e a farsa da ideologia de gênero. Este médico é comparado ao Mengele do Nazismo com suas práticas em busca da pureza da raça ariana. O texto é complicado por suas informações médicas e científicas em detalhes, mas o autor sabe dar um tom de facilidade ao concluir.

Numa relação entre as feministas e o Capitalismo, o autor conclui que a maioria delas fazem oposição ao sistema capitalista, pois geralmente, estão inseridas na criação da chamada nova esquerda. Mas na verdade não conhecem, ou não querem valorizar, os benefícios que o capitalismo trouxe para as mulheres ao longo da história. Faz, o autor, uma evolução da situação feminina desde os tempos pré-históricos, quando a força física definia o poder masculino sobre a mulheres, e mostra como a tecnologia produzida pela economia de mercado beneficiou a vida de toda a sociedade. Mostra os avanços tecnológicos como fator provocador de uma vida melhor para as mulheres, que antes tinham de fazer tudo com as próprias mãos, e hoje temos equipamentos para quase toda atividade humana. Mesmo no trabalho fora de casa, a mulher hoje pode realizar atividades que antes apenas o homem poderia executar por sua força física. Hoje existem máquinas, inclusive na construção civil, para a mulher poder utilizar para esse tipo de trabalho. O autor, utilizando produções de outros escritores, reafirma que o feminismo é um projeto além da luta por direitos iguais, mas faz parte de um objetivo mais amplo que é a construção da Nova Esquerda, logo fica distante qualquer valorização dos benefícios do Capitalismo.

A outra face do Feminismo e sua ideologia de gênero é mostrada no texto: a violência em sua prática e o uso econômico da política do aborto com o tráfico de órgãos. Nas manifestações do Movimento a violência é uma atividade normal que tem como base a ideologia marxista, em sua história de combate aos "opositores". Outro detalhe importante sobre o Movimento são os investimentos de países e empresários nas organizações de gênero. Defendem também a presença do Estado no controle de suas ideias e práticas, situação que legaliza e instrumentaliza os mecanismos de divulgação de sua ideologia, especialmente entre as crianças e adolescentes. A pedofilia é outra bandeira do Movimento, inclusive com a defesa de professores universitários e cientistas. O livro mostra, através de pesquisas, que a violência entre homens e mulheres são muito parecidas em matéria de números, e os conflitos entre casais de lésbicas e homossexuais são em maior número do que entre os heterossexuais. Sobre o aborto é de assustar quando um médico faz uma demonstração de sua habilidade em fazê-lo, inclusive citando sua experiência na extração de determinados órgãos. Existem programas na internet ensinando os assistentes a realizarem o aborto de várias maneiras não convencionais.

Muito interessante a relação existente entre marxismo e homossexualismo trabalhada pelo texto, sabendo-se que os comunistas foram os maiores perseguidores e assassinos de homossexuais. No livro são citados depoimentos de Engels,  Marx, Lênin, Stalin, Mao e Fidel Castro, todos condenando o homossexualismo como um distúrbio social. Castro chega a afirmar que a revolução não precisa de homossexuais.  A única justificativa aceitável para esta escolha ideológica é a chamada luta de classes do Comunismo, pois os homossexuais são uma minoria, logo são discriminados pela chamada burguesia, conforme a insistente afirmativa russa. Conforme pesquisas científicas, os homossexuais formam uma camada social com apenas 1 a 2,1% da população mundial, logo seus Movimentos são esvaziados de participantes em manifestações. A partir do final do século XX houve uma presença maior de intelectuais, instituições e governos nas pautas feministas e homossexuais. É de estranhar a razão da Nova Esquerda adotar o Comunismo como bandeira de lutas, mesmo sabendo de sua história de violência e discriminação com as minorias.

Sobre os primeiros pensadores da Nova Esquerda, o texto faz uma breve biografia de cada um deles, mostrando alguns detalhes de suas vidas, que quase sempre eram complicadas de forma familiar e social. E mesmo tendo origens europeias, preferiam morar nos Estados Unidos onde tinham maior liberdade de expressar suas ideias e até de trabalhar em grandes universidades que lhes davam a oportunidade de publicar livros. Criticavam o Capitalismo, mas se beneficiavam de seu ambiente de progresso de liberdade. O patriarca da Nova Esquerda foi, sem dúvida, Michel Foucault, pois suas ideias influenciaram, e ainda "faz a cabeça" dos seguidores dos princípios que compõem o quadro ideológico desse novo pensamento e prática social. Foucault teve uma vida familiar rodeada de médicos, carreira que não quis seguir, mas que criticou a vida toda como o fez com as instituições capitalistas. Escreveu sobre Sociologia, Psicologia, e até História, mesmo que pareça ter alterado os fatos para se adaptarem às suas teorias. Era comunista, homossexual, drogado, enfim, defendia uma vida marginal, e também os pedófilos, além de outras aberrações. Adquiriu a AIDS, da qual pediu sigilo aos seus amigos. Foi uma pessoa contraditória e doente. Mas continua sendo o guru da Nova Esquerda.

O autor segue falando sobre a questão do diálogo, que não é nada mais que a propaganda da ideologia de esquerda, e para isto, utiliza alguns estudiosos, inclusive um brasileiro, o pedagogo Paulo Freire, que sempre esteve ligado às esquerdas no Brasil, principalmente ao Partido dos Trabalhadores (PT), tendo sido Secretário de Educação no governo petista de São Paulo. Seu livro Pedagogia do Oprimido é um clássico das esquerdas no Brasil. Inclusive criou um método de Alfabetização de Adultos com seu nome, o Método Paulo Freire. Era um propagandista da participação dos alunos na política, mas na sua época as esquerdas não tinham a preocupação sexual de hoje como sua principal meta. Continuando o estudo, o livro trata especificamente da questão dos homossexuais, como o casamento gay, a pedofilia, e seus principais divulgadores que reivindicam direitos legais sobre suas demandas. Aponta verdadeiras aberrações sexuais, como o casamento entre um homem e duas lésbicas, considerando esta relação uma família; e um casamento de um rapaz de 20 anos com uma cadela, além do casamento e sexo com pessoas mortas.

A partir do final do livro, o autor passa a estudar a questão da adoção de crianças por casais de homossexuais, com análise e dados estatísticos, além do aborto e feminismo. Sobre o aborto, o livro cita a existência de grandes laboratórios abortistas, que ganham milhões vendendo órgãos de crianças abortadas e também do financiamento da Fundação Ford, Fundação Rockefeller e da Fundação Bill & Melinda Gates (pág. 211). Mostra os métodos violentos utilizados para retirar o feto do útero da mãe. Além da frase inspirada de Ronald Reagan sobre o aborto, que merece nunca ser esquecida: "Observei que todos que são favoráveis ao aborto já nasceram".

A Argentina, em meados do século XX, torna-se o centro do feminismo e do ideário da Nova Esquerda. Surgem neste país grandes líderes homossexuais, inclusive com relações com o poder dos governos como o de Peron, que não dá apoio ao Movimento e manda prender seu líder. Uma liderança argentina, no auge da AIDS, publica um livro em que defende que a doença não existe, e que era uma questão política e econômica para se vender remédios. Só que esta liderança morre da própria doença que combatia, e com a idade de 43 anos. Muitas organizações de gays e transsexuais brotam na Argentina, além de muitos líderes que se alternam no comando desses grupos, geralmente as dissidências formam novas instituições, e repetem o ciclo de mudanças de lideranças. Existe muito ciúme e divergências entre eles, fator que dificulta o alcance de seus objetivos. Os líderes argentinos na década de 1990, quase todos morreram de AIDS, apesar da intensa campanha de combate à doença, inclusive da Igreja Católica.  O auge do homossexualismo acontece na Argentina no governo de Cristina Kirchner com patrocínio governamental de eventos e cargos para elementos do Movimento no governo. Os doentes de AIDS criticam o Capitalismo, mas procuram ajuda médica nos Estados Unidos, inclusive um de seus líderes escapou da morte com estes tratamentos.

No final do livro, o autor faz questão de colocar o rigor no trato da pesquisa feita e a confiabilidade da documentação, afirmativa confirmada pela extensa bibliografia utilizada no livro.

Eu recomendo a leitura do livro para todos os interessados nas questões mais importantes de nosso tempo.
Ler é essencial!
 



segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

O Livro Negro do Comunismo - Vários Historiadores


Introdução
Só pela leitura dos textos das capas e orelhas do livro já deixa claro o sonho desfeito e o terror implantado pela Revolução de 1917. Foram mais ou menos 100 milhões de mortos em 7 décadas de governo soviético na União Soviética, e em outros países e continentes. Em um balanço ainda incompleto podemos afirmar alguns números que provam a gravidade do assunto: URSS, 20 milhões de mortos; China, 65 milhões de mortos; Vietnã, 1 milhão de mortos; Coreia do Norte, 2 milhões de mortos; Camboja, 2 milhões de mortos; Leste Europeu, 1 milhão de mortos; América Latina, 150.000 mortos; África, 1,7 milhão de mortos; Afeganistão, 1,5 milhões de mortos; Movimento comunista internacional e partidos comunistas fora do poder, uma dezena de milhões de mortos. O total se aproxima da faixa dos cem milhões de mortos. (Pág. 16). É estarrecedor como pôde ocorrer tamanha violência contra povos de um mesmo país, depois de promessas de humanidade, justiça, fraternidade e igualdade. Hoje os partidos comunistas nos governos são mais sutis nos expurgos, praticam um ostracismo grego com os opositores. 

Na Apresentação, os autores preparam os leitores para as atrocidades praticadas pelos comunistas, inclusive com depoimento do historiador e ex-comunista, Eric Hobsbawm afirmando aos que dizem serem os números de mortes exagerados, afirmando: "Mesmo que as cifras caíssem pela metade, seriam moralmente inaceitáveis." (Apresentação, VI).

No texto seguinte, questiona-se como os chamados comunistas atuais sabem dos crimes praticados pelo regime ao longo de sua história e continuam a defendê-lo. A explicação mais plausível é que os crimes praticados faziam parte do caminho que deveria ser percorrido para se chegar ao Socialismo. Vejam textualmente: "O que aconteceu? Havíamos perdido a razão ou somos traidores do comunismo? A verdade é que todos nós, inclusive os que estavam mais próximos de Stalin, fizemos dos crimes o contrário do que eles realmente eram. Nós os consideramos como uma importante contribuição para a vitória do socialismo." (pág.25). E o autor aponta a solução em outra afirmativa: "Os comunistas de minha geração aceitaram a autoridade de Stalin. Eles aprovaram seus crimes. Isso vale não somente para os comunistas soviéticos, mas também para aqueles do mundo inteiro, e essa nódoa nos marca individual e coletivamente. Só podemos apagá-la fazendo com que isso nunca mais se reproduza." (pág. 24-5)

No mesmo texto dos crimes do comunismo, são colocadas questões muito importantes: 1. Mesmo admitindo os crimes comunistas nos governos de Lênin e Stalin, os atuais partidos comunistas continuam defendendo suas ideias: 2. O totalitarismo tem seu poder devido, principalmente sobre as pessoas que têm medo da liberdade e da reponsabilidade, pois transferem todas as suas decisões para os líderes do partido; 3. O comunismo matou cerca de 100 milhões de pessoas, incluindo a União Soviética e os outros países comunistas, enquanto o regime nazista da Alemanha, eliminou 25 milhões de seres humanos; 4. Os campos de concentração nazistas seguiram os modelos comunistas do governo de Lênin, conforme depoimento de um comandante comunista; 5. O Nazismo ficou famoso após a Segunda Guerra Mundial por seus atos de terror, inclusive seus generais ficaram conhecidos do público, mas os comunistas mentiam sobre a prática do terror em seus territórios, fator que levou até ao engano de países como a França e os Estados Unidos.

No final do texto, vários elementos são analisados sobre o segredo das ações criminosas dos comunistas desde Lênin. Um dos fatores que favoreceu essa ocultação das atrocidades foi a violência do regime nazista, tornando o comunismo um antifascismo na opinião pública, inclusive no julgamento dos crimes do nazismo alemão, Stalin estava presente. Outro elemento importante foram as denúncias de vítimas que escaparam aos campos de concentração comunista, desde a década de 1920 a 1950, mas que foram pouco ouvidas, além das obras publicadas denunciando estas violências, fatos que só foram considerados depois que o próprio sistema os admitiu. Mas o próprio método de Lênin: violência, crime, terror, já revelavam a origem da chamada "revolução", ou seja, Lênin o colocou em prática e Stalin o sistematizou com seus seguidores (pág. 16).  E este método foi anterior ao nazismo. Apenas Fidel Castro não assumiu os crimes praticados. O Relatório Secreto de Kruschev foi fundamental para abrir o espaço de pesquisa sobre a violência praticada por Stalin. Outra questão colocada é sobre os historiadores que têm a missão de ser os porta-vozes dos oprimidos, mas que certamente são impedidos, muitas vezes, por questões de informações complexas. Encerrando, é questionado sobre o que levou os comunistas a eliminarem toda a oposição para a implantação do regime socialista, e a promessa de resposta no fim do livro.

Depois dos relatos e análises dos crimes do comunismo começam a ser publicados textos relativos aos fatores que levaram à eclosão da Revolução de 1917, e as posições da historiografia a respeito do evento, principalmente depois da queda do regime. Nesta linha historiográfica surgem análises de vários matizes e ideologias. O certo é que a eclosão do comunismo soviético foi o resultado consequente de um caos social na Rússia e de um desgoverno czarista que vinha definhando desde o início do século XX. Fica claro também, que Lênin nunca pensou em implantar uma democracia no país, mas sim uma ditadura do proletariado como previu Marx, não oficialmente, mas que terminou virando uma ditadura de uma minoria poderosa sobre a população, e com a prática de barbaridades inimagináveis. Para o controle da população trabalhadora, e principalmente dos proprietários rurais grandes, médios e pequenos, o governo criou vários órgãos de controle, numa miscelânea de ideologias e interesses. O certo é que tiveram muita oposição quando os comunistas passaram a praticar o oposto do que prometeram, daí o acirramento de uma guerra civil. Até Trotsky era favorável à guerra civil para a implantação do comunismo. E nas eleições o governo intervia quando percebia sua derrota, acabando com o pleito. Logo democracia nunca existiu no comunismo desde sua origem, mas sim uma ditadura permanente do "proletariado".


O Terror Vermelho foi um período específico de matanças de "opositores", sem contar os tempos que se seguiram em aniquilar oposições. Será que não deu uma certa saudade do Regime da nobreza czarista? É interessante notar como uma guerra civil em que compatriotas se matam por um ideal nunca especificado, mas ficando claro que a matança, era na verdade, por pura sobrevivência, tanto entre os Vermelhos (Bolcheviques) e Brancos (Monarquistas). Ninguém nunca especificou, o que na realidade defendiam, ou seja, que ideal humanitário, filosófico, político ou religioso defendiam. A violência foi tanta que os próprios dirigentes passaram a denominar o conflito de "Guerra Suja" e não de Guerra Civil. Parece que o racionalismo desapareceu das mentes humanas naquele curto período entre 1918-1920. Foram tantas e violentas mortes que os números perdem o sentido. Realça também o tamanho da oposição que os Bolcheviques enfrentaram, além do uso da violência de ambas as partes, principalmente porque a questão fundamental da luta era a fome provocada pelo controle do governo da produção camponesa, sendo, contraditoriamente, o campesinato o principal defensor da revolução em 1917. E o governo sempre defendendo que os camponeses estavam impedindo o fortalecimento da Revolução Proletária. E para justificar que um mundo novo esta nascendo, e para isto tudo era permitido, inclusive um número incalculável de estupros, o Editorial do primeiro número do Krasnyi Metch (O Gládio Vermelho), jornal da Tcheka de Kiev: "(...) Sangue? Que o sangue jorre aos montes! Somente o sangue pode colorir para sempre a bandeira negra da burguesia pirata como um estandarte vermelho, bandeira da Revolução." Foi um festival de mentiras como vivemos hoje no mundo, apesar de toda a tecnologia da informação atual.

Um outro fator importante que eu nunca tinha visto falar ou em produções históricas é o grande número de suicídios de camponeses por falta de alimentos, pois o governo pegava 2/3 de sua produção. E sobre uma breve história de Lênin, que foi advogado, ainda novo, em 1891, e já defendia a fome da população para incrementar a industrialização, que produziria o Socialismo, que em sua opinião seria a fase seguinte ao Capitalismo. Durante um período de extrema fome, ainda no período de Lênin, alguns intelectuais buscam ajuda internacional, inclusive da Cruz Vermelha e dos Estados Unidos, mas não durou muito, um pouco mais de 5 semanas, pois achavam que essa atitude tinha outras intenções de dominação externa, pois o Comunismo vive numa permanente Teoria da Conspiração. Estes intelectuais logo após a ajuda foram expulsos do país. Lênin sempre gostou dos líderes mais radicais e violentos de seu governo. Em mais uma de suas atitudes autoritárias, expulsa todos os intelectuais do país como escritores, professores, e até profissionais de nível técnico, como engenheiros, e exigia que assinassem um documento em que prometiam nunca mais voltar ao país, do contrário seriam fuzilados. Mas com a morte de Lênin, em 1924, sendo que desde 1923 ele já não exercia o poder devido a três derrames cerebrais, a União Soviética passa por um período de tréguas nos assassinatos de oponentes, e o país passa a ter uma vida quase normal, pois diminuem as perseguições aos opositores ao regime, e o comércio, a indústria e a agricultura normalizam-se. Este período durou até a escolha do sucessor de Lênin, em 1927. Trotsky passa a ser perseguido depois de 1927, passando a ser opositor ao Comunismo. Foi expulso da União Soviética junto com seu grupo, mas o autor não explica o motivo de sua mudança de posição, sendo que era um líder no Partido Bolchevique e defensor dos assassinatos de camponeses opositores ao regime.

Estas imagens tenebrosas e desumanas se referem ao texto acima. O livro contém outras imagens de atrocidades comunistas, verdadeiros genocídios de populações inteiras.


O que dá para transparecer na transição após a morte de Lênin, é que ele fez a maior parte da "limpeza" da oposição ao novo regime, e Stalin implantou mecanismos para a organização da grande nação, como a criação de cooperativas de agricultores, e da coletivização da agricultura, sem passar pelas leis de mercado; mesmo continuando o combate aos opositores com grande violência, prisões, expulsões do país e assassinatos. A Coletivização dos campos foi feita de forma violenta e sem o apoio dos camponeses, por isso, a repressão foi violenta, com a expulsão dos agricultores de suas terras e enviados para terras distantes, e sem condições mínimas de sobrevivência, chegando ao caso do governo matar milhares de pessoas de fome de forma proposital, além de em alguns lugares, os exilados chegarem ao ato do canibalismo. Entre 1932-1933, período chamado de a grande fome, morreram mais de 6 milhões de pessoas, incluindo crianças e idosos, com a utilização dos métodos mais primitivos e violentos. A fome foi utilizada como arma para combater os camponeses, pois estes resistiram com suas formas mais específicas, como o distanciamento de seus contingentes de defesa. O governo então passou a recolher toda a produção do campo, levando os agricultores a uma fome generalizada. Mesmo com denúncias internacionais, o governo negava esta prática, insistindo que era o combate aos seus opositores. Canibalismo, abandono de famintos idosos, crianças, mulheres, uso de órgãos dos sobreviventes para fazer alimentos - um inferno dantesco! Tudo revelado com ampla documentação, inclusive com carta de Stalin dando respostas às práticas genocidas. Às visitas estrangeiras mostravam as plantações como se fossem um jardim, escondendo o "lado obscuro" da violência sem limites.

Depois de um combate sistemático contra os camponeses, e uma parcial normalização de suas atividades, com a criação de cooperativas para um melhor controle da produção, o governo parte para as outras classes, principalmente nas cidades, passando a investigar as várias "especialidades" de trabalhadores, como engenheiros, administradores, profissionais liberais, religiosos, inclusive fechando  e destruindo Igrejas, cientistas, professores, jornalistas, escritores, teatrólogos, e até pessoas do alto comando do governo. Nestas novas classes investigadas criam leis para punição dos suspeitos, chegando ao ponto de um alto funcionário declarar que puniram pessoas totalmente inocentes, mas já estavam "mortas", como afirmou em seu relatório. É interessante notar como depois de mais de vinte anos após a Revolução de 1917, o governo ainda continuava a praticar expurgos violentos contra possíveis oposições ao regime. Como administrar um país enorme em constante combate aos opositores, e de forma violenta? O período chamado de O Grande Terror (1936-1938), foi o tempo mais violento da Revolução Russa, pois existiam até cotas de prisões, quase sempre ampliadas; expulsões do país e execuções, sendo Stalin o responsável direto das decisões, mesmo que tenha nomeado outras pessoas para o comando. Até pessoas simples e honestas eram condenadas, sem julgamento, e nos raros casos de julgamento, estes eram feitos sem a presença do réu, ou seja, a decisão já estava tomada, para o cumprimento das cotas. Tiveram três observações internacionais da tragédia, mas não levaram a nenhuma decisão, pois o governo manipulava as informações. O objetivo principal do Grande Terror, era, conforme um dirigente do governo, criar uma burocracia civil e militar formada por jovens quadros que "aceitarão qualquer tarefa que lhes for designada pelo Camarada Stalin" (pág. 242)

Sobre os Campos de Concentração, os famosos na História, denominados Gulags, o autor faz uma longa descrição, inclusive com fotografias arrepiantes das torturas praticadas e os métodos de trabalhos forçados exigidos dos prisioneiros. Nos Gulags ficavam pessoas de todos os níveis sociais, inclusive de populações de países que formavam a União Soviética, principalmente da Ucrânia, onde houve intensa exploração de sua população, talvez daí a existência de conflitos entre a Rússia e a Ucrânia até os dias de hoje. Os agentes russos visitavam até as escolas para verificar quais eram os alunos mais inteligentes, pois estes representavam um perigo para o regime, por isso eram presos preventivamente. Após o início da II Guerra Mundial, os bolcheviques exploram a mão de obra para os campos de concentração, principalmente da Polônia, local onde primeiro a Alemanha atacou. Os russos assassinaram 45 oficiais poloneses, sendo os corpos encontrados ainda durante a II Guerra, mas afirmaram que foram os alemães que realizaram tal massacre, mas em 1992, a Rússia assumiu os crimes. Os presos trabalhavam também em obras fora das fábricas dos campos de concentração, principalmente em obras faraônicas de construção de canais, que futuramente se tornaram inúteis. Os números de mortes e prisioneiros são amplamente divulgados, mesmo sabendo da existência de fontes ainda não divulgadas sobre os mesmos. Durante a Segunda Grande Guerra Mundial, a União Soviética passou a deportar alemães residentes em seus territórios para áreas de trabalho forçado como a Sibéria, alegando que eram traidores e espiões contrários ao governo; mas não só alemães, mas povos que pertenciam à União Soviética, principalmente da Ucrânia, além de gregos, armênios e outros. Sempre com a violência e a poderosa arma da fome. Enquanto isso, os soldados russos iam morrendo pelos campos da Europa. De 1941 a 1944 houve uma grande perseguição aos "inimigos do regime", mesmo no auge da Grande Guerra, mas o mundo não ficava sabendo dessas ações, e após a guerra a União Soviética foi elogiada pelos Países Aliados, pois foi a nação que mais perdeu soldados no conflito. E muitos países passaram a seguir o modelo de seu regime, porque conheciam apenas um lado de sua realidade. Mas o socialismo teórico e revolução nunca existiram na União Soviética, e nem no mundo. A Imprensa russa fez seu papel de divulgar um Paraíso que nunca aconteceu.

Mesmo depois da Segunda Guerra Mundial, o União Soviética não mudou sua postura social e política, continuaram a perseguir opositores e supostos inimigos, e limitar a liberdade (se é que um dia houve), a alimentação e os salários dos trabalhadores. As prisões e assassinatos continuaram como no início do regime, e com a proximidade da morte de Stalin, e sua paranoia, provocou a volta do antigo Grande Terror. Até os médicos organizam um complô contra Stalin, sendo composto o grupo de maioria judia, portanto os comunistas preparam uma perseguição aos judeus que eram pessoas influentes, principalmente no mundo da literatura, jornalismo, medicina, enfim eram grandes intelectuais. Repetem o genocídio feito pelos alemães, mesmo que na Conferência da ONU, Stalin tenha votado a favor da criação do Estados de Israel. O autor mostra que a morte de Stalin evitou o assassinato de milhares de opositores. Após a morte de Stalin, a URSS, através de suas principais lideranças, fizeram algumas mudanças que aliviaram, pelo menos na década de 1950, o sofrimento de seus opositores. Reorganizaram os Gulags, e libertaram aqueles prisioneiros de crimes considerados de pequena importância, e depois até os condenados de crimes políticos. Mas continuaram a perseguição de opositores até a década de 1981, inclusive de escritores que revelavam os problemas vividos pelo país ao longo de sua história. Para encerrar a I Parte do Livro, que o autor chamou de À guisa de conclusão, sua síntese se resume nas bibliografias sobre o assunto, principalmente de historiadores russos, mas que no fundo é uma visão da violência e seus métodos praticados pelos governos de Lênin-Stalin.

Na II Parte do Livro, os autores passam a relatar sobre a expansão do Comunismo e punição dos "inimigos" pelo mundo, a começar pela Europa. A  Alemanha, a Estônia, a Bulgária, a China, a França e a Espanha  são os principais alvos dessa expansão, sempre em confronto violento com partidos e governos, e as milhares de mortes registradas. Os comunistas perdem todas estas batalhas na Europa, mas deixando marcas em países até no início da década de 1970, quando militantes franceses eram treinados na URSS. Mesmo nos países europeus, onde o governo soviético deixou representantes e seguidores, as perseguições e investigações eram administradas de Moscou. E dentro do próprio governo mundial comunista, os assassinatos, perseguições, expulsões de traidores e de uma imaginável oposição, as punições continuavam severas, inclusive dentro de países como a França e a Espanha. As perseguições aos opositores ao governo, se estende a setores do próprio sistema administrativo na Rússia e em outros países, como a Polônia, Itália e a Alemanha, inclusive. Stalin faz um pacto com os Alemães muito antes do início da II Guerra Mundial para poder punir os traidores do comunismo na Alemanha. Em uma declaração de um grupo trotskista condenado, proclamam que o "fascismo de Stalin era bem pior que o de Hitler" (pág. 350). Stalin faz um expurgo dos possíveis traidores em todos os Partidos Comunistas do mundo na época. E utilizava além das armas tradicionais, como os fuzilamentos, torturas, cortes das mãos e dos braços, a mentira como forma de punir seus "inimigos". Manda matar Trotsky e todos os seus seguidores pelo mundo. Trotsky foi morto com um golpe de picareta na cabeça, e depois seu assassino foi homenageado por Stalin. O autor do texto fica assustado com os métodos violentos do governo soviético. A propaganda do paraíso soviético se espalhou pelo mundo, inclusive depois da Segunda Guerra Mundial, logo muitas pessoas caíram nesta cilada, e encontram não a "igualdade" e o progresso prometido, mas a tortura e a morte com toda a crueldade do regime comunista. Pois todos eram inimigos do regime soviético, sem nenhuma prova ou julgamento. O autor não tenta explicar esta postura doentia do stalinismo. Após a Segunda Guerra, Stalin continua sua guerra particular na Europa de expansão do Comunismo. Como Hitler, Stalin queria dominar o mundo. E ninguém fez nada, ou percebeu a trama política.

Mesmo antes da Segunda Guerra Mundial, por volta de 1937, os comunistas dominam a política da Espanha. Para conquistar este espaço europeu importante, onde existiam socialistas e outros partidos, e até anarquistas, Stalin utiliza de todas as estratégias políticas possíveis para atrair seguidores e liquidar os opositores das formas mais cruéis possíveis. Existem, no livro, narrativas de torturas e mortes de deixar qualquer ser humano com náuseas. Os métodos de tortura e morte eram os mais variados, pois usavam a "criatividade do mal", simplesmente para acabar com seus possíveis "traidores", pois todos aqueles que não estavam ao lado dos comunistas eram considerados traidores, mesmo numa nação diferente como a Espanha. Parece que havia um prazer em praticar a violência entre os comunistas, pois os "condenados" já tinham seu destino traçado que era a morte, então para que torturar, e de forma violenta, como se matassem um animal... não, os animais eram mais bem tratados. A prática de punição soviética deveria ser reproduzida no mundo, a isso chamam comunismo. Sem nenhum objetivo humanitário. Inclusive tivemos casos de espanhóis que foram fazer Curso de Formação na URSS e que passaram pelo mesmo processo de depuração que Stalin executou na Espanha. A maioria não voltou mais. Levavam até crianças e professores para a URSS e a maioria não voltava mais pelo mesmo processo de exclusão. Lênin e Stalin montaram uma máquina de matar para o mundo.


O movimento comunista internacional, nos anos 1920 e 1930, colocou como objetivo principal as insurreições armadas, sendo todas elas um fracasso. Diante desse fato, passou, durante a década de 1940, a explorar as guerras de libertação nacional de vários países para se infiltrar, e nos anos 1950 e 1960 passa a se envolver com as guerras de descolonização. A partir dos anos 1970, os comunistas passam a se envolver com o terrorismo através de organizações e líderes por todo o mundo, inclusive no Oriente Médio e América Latina. Essa fase do terrorismo exigiu do governo soviético muito cuidado e competência política, além de estratégica para se envolver, pois muitos interesses estavam em jogo como o fornecimento de armas, e criar possíveis indisposições com nações importantes como a Inglaterra e a França, e até com os Estados Unidos, sendo que este último teve de intervir nos atos terroristas na América Latina. Este foi o tempo dos famosos atentados em aviões de grandes empresas internacionais e com a morte de várias pessoas, fatos amplamente divulgados pela imprensa da época. Nesta última fase é que aparece a figura de Yasser Arafat líder, da OLP (Organização para a Libertação da Palestina), que teve até negociações com o Presidente dos Estados Unidos para resolver a situação de violência no Oriente Médio, que continua até o terceiro milênio sem solução prevista, devido aos vários interesses existentes na região, tais como a tradição cultural, religiosa, interesses políticos, econômicos e territoriais. 

A Polônia, com certeza, foi um dos países mais agredidos pela intervenção soviética em sua história, pois desde o século XVIII já teve problemas com o Império Russo, além de Stalin ter perdido uma guerra entre a Rússia e o país vizinho. Os relatos de barbárie contra o povo polonês são desumanos. E as eleições, para dar uma aparência de legalidade, eram fraudadas de forma sistemática. Além do período de domínio sobre o povo polonês e suas instituições, principalmente sobre a Igreja Católica e os sindicatos ter durado da década de 1940 até o final do regime soviético em 1990, ou seja, o mais longo entre os povos estrangeiros.

Enquanto a Europa Ocidental, os Estados Unidos e a América Latina comemoravam a vitória dos Aliados, e a chegada de seus soldados não assassinados pelos países ligados ao nazismo alemão na Segunda Guerra Mundial, a Europa Central e Sudeste sofriam com o terror soviético contra os povos que combateram contra seu império bolchevique, quando centenas de pessoas foram deportadas para os Gulags da União Soviética. Será que o Ocidente não sabia disto, ou não queriam se preocupar com mais problemas? Sei que a maioria que fizer a leitura dessa resenha, não vai ler o livro na íntegra, pois suas 900 páginas são desanimadoras, assim como a violência contida nele; por isso coloco textualmente alguns poucos trechos do livro na resenha, como o abaixo:

"O discurso ocasional de certos dirigentes comunistas da época sobre as 'vias nacionais para o socialismo', sem  'ditadura do proletariado' à soviética, camuflava a estratégia real de todos os partidos do centro e do sudeste da Europa. Tal estratégia consistia na aplicação de doutrinas e práticas bolcheviques que já haviam demonstrado seu valor na Rússia a partir de 1917." (pág. 469)

Neste capítulo sobre a Europa Central e Sudeste o autor trabalha mais a teoria, mesmo divulgando a violência praticada pelos comunistas nesta região europeia. Faz uma boa explicação sobre o que é uma sociedade civil e suas instituições, combatidas como projeto do governo comunista, ou seja, os bolcheviques queriam acabar com a sociedade civil e instalar um governo estatal em sua substituição, e um dos principais entraves a este projeto eram os cristãos, por isso, atacou violentamente tanto as Igrejas instituídas como seus participantes; o clero e os leigos. Afinal, todas as instituições civis deveriam desaparecer, e a população viver sob o domínio do Estado. Os professores, intelectuais, escritores, funcionários deveriam servir a um senhor: o Estado Comunista. Não seria uma Ditadura do Proletariado, prometida em 1917, mas uma Ditadura do Estado, nunca uma democracia. Nos relatos sobre a violência praticada pelos comunistas, o texto abaixo mostra a diferença fundamental entre o nazismo e o comunismo em relação ao processo de depuração de sua "sociedade". É um depoimento de quem viveu as duas realidades, o que dá credibilidade ao seu relato e conclusão (Pág. 481):

"A diferença entre a polícia secreta comunista e a dos nazistas - sou um dos felizes eleitos a ter experimentado ambas - não reside nos seus níveis de crueldade e de brutalidade. A sala de tortura de um cárcere nazista era idêntica a de um cárcere comunista. A diferença não se concentra aí. Se os nazistas o prendiam como dissidente político, queriam geralmente saber quais eram as suas atividades, quem eram seus amigos, quais eram seus planos e assim por diante. Os comunistas não perdiam tempo com isso. Sabiam já, ao prendê-lo, que tipo de confissão você iria assinar. Mas o senhor não sabia."

O autor mostra que é difícil compreender a instalação dos sistemas fascistas em qualquer país, pois no início, estes convencem as populações de seus falsos ideais de fraternidade e honestidade, mas logo mostram uma cara nova do governo que se quer implantar, e realça que os jovens são os mais suscetíveis de convencimento, portanto estes sistemas, muitas vezes, recebem grande apoio popular. Mas a repressão na Europa Central e do Sudeste foi de uma desumanidade sem limites com velhos, mulheres e membros da Igreja. Existem depoimentos de torturas e mortes que levam qualquer um a náuseas e revolta. Não existe respeito com a cultura construída historicamente por longo tempo; é como se toda violência fosse normal com o povo a ser dominado, inclusive em relação à história religiosa de uma população. Na Bulgária, mesmo que não tenha ocorrido um número muito alto de vítimas, pois o processo de tortura e violência aconteceu após a morte de Stalin, período que houve a denúncia das atrocidades comunistas; os métodos de violência foram dos mais primitivos como a morte dos condenados a pauladas, e dando os corpos dos assassinados para os porcos comerem, além de um comandante mandar o réu olhar no espelho sua imagem pela última vez antes de sua morte, além de ter de levar um saco para colocar seu corpo que seria transportado em um carrinho de mão para o caminhão recolher. Só de usar trajes ocidentais, o cidadão já estava condenado. Alguns defensores dessa chacina evocam o contexto social da época, defesa puramente ideológica, que não respeitam os fatos históricos da época no mundo.

Entre o final da década de 1940 e o início de 1950, Moscou começa uma depuração das lideranças comunistas nos países de sua influência, como a Romênia, a Tchecoslováquia, e todas as nações satélites dos bolcheviques. Começa a caça de comunistas por comunistas, ou seja, daqueles que não eram fiéis ao partido. Além dessa caça aos comunistas na Europa Central e no Sudeste pelos próprios centros de poder na União Soviética, os outros países do bloco fizeram também perseguições aos comunistas que praticaram atos de violência contra suas populações, adotando as mesmas práticas violentas adotadas pela repressão dos órgãos de segurança soviéticas no passado. Interessante notar como não havia exceção para os altos cargos do governo. Todo indivíduo, independente do cargo, teria que ser da total confiança da cúpula do centro de decisão de Moscou. Mesmo a partir do fim da Segunda Guerra Mundial, o processo fascista da União Soviética continuou em toda sua área de controle como os países da Europa Central e do Sudeste, sendo Moscou o centro das decisões. Só pelo fato da União Soviética não assinar a Declaração Universal dos Direitos do Homem, votada em 1948, pela Assembleia Geral das Nações Unidas, que garantia as liberdades individuais e os direitos fundamentais do homem, já revela a continuação da prática histórica de uma política de exceção do governo comunista, mesmo que após a morte de Stalin tenha acontecido um abrandamento do aparelho repressor do sistema de governo bolchevique. Mesmo nas últimas décadas do regime comunista, este receava os espíritos criadores e sua liberdade de expressão, além dos partidos comunistas passarem a ser considerados não como partidos, mas passaram a ser classificados como "organizações criminosas" depois do início dos processos contra sua prática fascista na Europa Central e do Sudeste.

Na Quarta Parte do livro, na qual os historiadores tratam do Comunismo na Ásia, o estudo e pesquisa, passam, em seu início a tratar de teoria do poder, ao invés de já ir revelando as atrocidades praticadas nos países envolvidos. Mostram as diferenças entre o Comunismo da China e o Soviético. Na China, o Comunismo tomou uma cara própria, pois os governantes fizeram uma adaptação de sua tradição de Estado forte desde a Antiguidade, com o Comunismo de Marx, Engels, Lênin e Stalin, sabendo-se que a China teve uma evolução histórica de violência desde os tempos mais remotos. Enterrar pessoas vivas, queimar literaturas clássicas, e levar à morte sua simples menção era comum em sua história. Também cortavam seus inimigos em pedaços e mandavam mulheres e filhos comê-los, se não o fizessem eram esquartejados. Logo muito antes do Comunismo, os chineses já exerciam esse instinto assassino, mesmo utilizando a religião como justificativa teórica, como o Confucionismo. Sua relação com o comunismo soviético tem início quase na mesma época, ou seja, na década de 1920. Como escreveu o grande escritor, e ex-comunista chinês, Lu Xun, "Os chineses são canibais..." (pág. 555). Diferente da Revolução Russa, o Comunismo chinês começa sua "revolução/matança" pelos camponeses, jogando camponeses contra camponeses, pois estes esperam alguma melhora apoiando o governo; ledo engano! Veja o depoimento de um dirigente comunista chinês, em 1949: "Depois do aniquilamento dos inimigos armados, haverá ainda os inimigos não armados; estes lutarão contra nós numa batalha de morte; não devemos nunca subestimá-los. Se o problema não for colocado ou compreendido desde já nestes termos, cometeremos os mais graves erros." (Pág. 545, Mao Tsé-Tung). Direita, denominação que não é clara no livro, é discriminada a ponto de o cidadão "direitista" não poder andar na parte esquerda da rua. Outro fator importante na China de então é o grande número de suicídios, pois os denunciados já sabiam de seu destino. 

Quando se fala de fome de uma nação, logo se pensa em uma seca prolongada, ou seja, uma alteração brusca e longa da natureza. Mas na China, não foi assim. Foi uma questão política, ideológica, de má gestão e de dogmatismo. Fatores que provocaram a maior fome da história, e não só da China, entre 1959 a 1961. E o pior é que o governo nunca admitiu o menor erro na gestão da coisa pública. Veja textualmente (pág. 580): Mao, (...) "por razões de pura tática política" passa a recusar-se a reconhecer a menor dificuldade, a fim de evitar ter de admitir o mais insignificante erro. Adotou as políticas de acordo com os princípios do governo comunista. O resultado só poderia ser a violência praticada como a morte de milhões de pessoas, inclusive incluindo crianças e mulheres. Nesse quadro o canibalismo volta, inclusive com pais comendo os filhos de outras famílias. Os Estados Unidos ofereceram ajuda, mas a China não aceitou, por questões políticas. Ou seja, a política é mais importante do que vidas humanas. O autor constata o grande número de mortes praticadas pelo Comunismo chinês, e admira como esta situação ficou sem conhecimento pelos povos de outras nações; mas consegue explicar o método utilizado para disfarçar esta informação: o governo chinês usava instituições variadas como espaço de tortura e mortes, como o nome de fachada de empresas públicas. No governo dos Imperadores se davam os nomes verdadeiros como o condenado a "detenção" ou a "trabalhos forçados". Mas sabemos, pela pesquisa do livro, que a mentira faz parte do DNA do Comunismo. Os prisioneiros das "prisões" chinesas eram obrigados a estudar manuais de Comunismo criticando o capitalismo, às vezes, por longas horas. Era uma espécie de lavagem cerebral, pois estes prisioneiros sofriam o terror chinês em todas as formas mais brutais.

Uma máxima das condenações chinesas à população: "Na China, ninguém é preso por ser culpado, mas é culpado por ter sido preso." Comentar isto é complicado e desumano, pois prenderam muitas pessoas que nunca cometeram nada contra o governo. Outra estratégia comunista na China é jogar amigos e familiares contra os outros, e para isto, os dirigentes colocavam caixas de denúncias em pontos estratégicos para a população denunciar possíveis posturas irregulares de qualquer pessoa. No capítulo sobre a China, os autores colocam vários depoimentos de pessoas que participavam dos "processos" condenatórios, o que dá credibilidade às informações do livro. E sobre a chamada "Revolução Cultural" (1966-1976), época em que já existia a televisão como meio de comunicação, a China continua a praticar a violência aos seus opositores como sempre fez; combater os intelectuais, os quais chamavam "fedorentos" e representantes do capitalismo; manter uma política de manipulação da classe estudantil, principalmente. Uma passagem do texto é significativa, quando um estudante de 10 a 11 anos visita, o pai e o condena a continuar na prisão, porque merece a punição por ser um contrarrevolucionário, situação que deixa os guardas assustados (pág. 613). Será qual a intenção de usar a expressão "cultural" para uma política repressiva sempre praticada pelos chineses? O autor não entra neste questionamento. Não seria mais uma manipulação da opinião pública? É bem provável. Outra questão importante é que o governo chinês perseguia os intelectuais chamando-os de capitalistas, e no Brasil, desde o início do século XX, os intelectuais eram quase sinônimo de comunista.

A Revolução Cultural chinesa acabou com a Educação tradicional para impor uma escola sob o domínio do conhecimento do regime, ou seja, levar o aluno a aprender cada vez menos, sendo uma cartilha de Mao Tsé-Tung o maior meio de estudo, sendo esta cartilha estendida a toda a população, e quem não a decorasse seria punido, Acabaram com os exames para admissão aos cursos superiores, reduziram o tempo dos cursos e perseguiram os professores, escritores e intelectuais até a morte, num processo violento e humilhante como nunca se viu. Até o Tibet não escapou à doutrinação e violência do regime, pois o foco de ação do governo foram, principalmente os templos budistas, sendo estes destruídos em sua maioria esmagadora. O Dalai Lama teve de fugir para a Índia, e dá um depoimento comovente: "[Os tibetanos] não foram apenas fuzilados, foram espancados até à morte, crucificados, queimados vivos, afogados, mutilados, mortos por inanição, estrangulados, enforcados, cozidos em água fervendo, enterrados vivos, esquartejados ou decapitados." (Pág. 646-7)

E para concluir o capítulo sobre a China, o depoimento de um soldado de 14 anos sobre a Revolução Cultural: ""Éramos jovens. Éramos fanáticos. Acreditávamos que o presidente Mao era grande, que detinha a verdade, que era a verdade. Eu acreditava em tudo que Mao dizia. E acreditava que havia razões para a Revolução Cultural. Julgávamos ser revolucionários e que, à medida que éramos revolucionários que seguiam o presidente Mao, poderíamos resolver qualquer problema, todos os problemas da sociedade." (Pág. 634)

A Coreia do Norte possui o Comunismo mais fechado do bloco, inclusive é chamada por alguns de "reino eremita". Mesmo com seu fechamento para o mundo externo, a Coreia do Norte teve dois partidos bolcheviques no início da década de 1920. Sempre houve um excessivo controle de sua população sob domínio de seu líder. É uma verdadeira religião com encontros semanais da população para doutrinação. Seu líder é considerado um deus, inclusive sua presença em eventos é carregada de manifestações da natureza, como "nuvens" que recobrem sua pessoa até a hora de sua epifania. A violência com seus opositores tem a mesma barbárie da União Soviética e da China, inclusive com atos de canibalismo, além das mentiras constantes e da propaganda enganosa. O diferencial é a exclusão de pessoas com deficiências físicas e anões da convivência na sociedade. Conforme depoimento de uma autoridade coreana, a hierarquia social do país é pior que o sistema de castas. Mesmo combatendo o "imperialismo" não dispensa ajuda humanitária dos países capitalistas, principalmente a oferta de alimentos. O povo passa fome por incompetência técnica na produção de alimentos, mas o exército vive bem alimentado e produzindo cada vez mais armamentos sofisticados. Até o final do século XX, o governo soviético continuou perseguindo seus "opositores" de forma violenta, na Coreia do Norte, data informada devido à publicação do livro em 1997.

O Comunismo no Vietnã praticamente não tem diferença dos demais estudados: a União Soviética, a China e a Coreia do Norte. O culto a Stalin e Mao são predominantes, e a violência chega a ponto da existência de vários suicídios, inclusive chegando ao absurdo de prisioneiros pedirem a órgãos internacionais para mandarem cianeto para acabarem com suas vidas, evitando assim tanto sofrimento. Negam, os governantes, que não praticam a tortura, alegando que apenas os imperialistas a praticam. Pedem para que as casas fiquem com as lâmpadas acesas à noite, e afastem lâminas e facas da presença dos homens, para evitar suicídios. O texto apresenta um poema endeusando Stalin e Mao e fazendo a apologia da morte ininterrupta, além da cobrança de impostos para o governo (Pág. 678). No Laos, um pequeno país da Ásia, o Comunismo teve um perfil diferente, pois as populações viviam fugindo dos governos instalados. O Laos herdou o Comunismo do Vietnã, país vizinho. Em sua implantação não houve a violência ocorrida nos países já estudados. Mas em compensação, o Comunismo do Camboja foi o mais violento, apesar de seu domínio por um tempo mais curto. O autor tenta uma explicação para o fenômeno desse terror contra as populações, mas não consegue, mesmo utilizando outras explicações de autores diferentes. Afirma, o autor, que a violência no Camboja transforma o excesso de terror de Stalin em uma caricatura cambojana. (Pág. 696). Os principais atingidos pelos comunistas são os de sempre: trabalhadores (urbanos e rurais), intelectuais (que bastava saber ler corretamente que era considerado intelectual) e os religiosos, principalmente budistas e católicos. O autor trabalha muito com os variados números das matanças, devido à dificuldade de um cálculo correto por falta de informações fidedignas das cifras. Abaixo um mata geográfico da região, que mostra como as fronteiras dos países comunistas facilitaram sua expansão para o Camboja. Atlas Geográfico do Estudante, Atualizado 2000, Editora Rideel):

Sobre o Camboja, o autor dedica grande parte do texto ao dia a dia do trabalhador, principalmente dos camponeses. Trabalhavam de 11 a 12 horas por dia, e com quase nenhum intervalo durante a execução das tarefas. Quando tinham algum dia de folga, geralmente de 10 em 10 dias, eram obrigados a ouvir palestras sobre política. Não tinham nenhuma preparação técnica, pois seus dirigentes afirmavam que a política bastava para realizar qualquer tarefa, inclusive para a construção de barragens. Eram subalimentados para a realização de quaisquer trabalhos. Interessante notar que esta prática era realizada na década de 1970, quando tínhamos até TV a cores no mundo. Como os países desenvolvidos não sabiam ou não se interessavam por uma situação tão desumana? Para um governo que prometeu fraternidade, humanidade, justiça, igualdade, como os demais partidos comunistas, é difícil acreditar no "inferno" que implantaram, destruindo todos os valores tradicionais como a família, a individualidade, a religião, a moral. A mentira, o roubo, a corrupção passaram a ser os valores dominantes, além do canibalismo pré-histórico que passou a ser praticado normalmente para sobreviver como animais. Vale destacar que o Primeiro-Ministro do Camboja, Pol Pot, sendo o líder de um movimento caracterizado teoricamente como defensores dos trabalhadores, nunca trabalhou, conforme está em uma biografia de 1977. Sobre as violências do regime, relatar mais é torturar o leitor, mas para exemplificar uma de suas práticas doentias, era a que as mortes de homens e mulheres eram usadas como adubo para as plantas, principalmente para a mandioca, que ao ser colhida vinha com crânios de mortos em suas raízes comestíveis. A ausência de um Poder Judiciário e de um sistema educacional favoreceu a prática de violências extremas, nunca vistas nos demais países comunistas, por parte das forças militares locais. Chegaram a ponto de queimarem pessoas vivas enterradas até o peito numa vala cheia de brasas e a cabeça cremada, como tochas acesas com petróleo; e de matarem pessoas, porque roubaram uma banana para se alimentarem (o Comunismo não deveria cuidar do bem-estar de sua população?).

No final do capítulo sobre o Camboja, o autor tenta explicar a origem de tanta violência de um regime comunista único na Ásia, por sua extrema brutalidade e sem nenhuma "bússola" para suas ações, pois não segue a cartilha de Lênin e Stalin, e nem de Mao Tsé-Tung. Tentam criar um comunismo nacional, não se preocupando com sua expansão, como na União Soviética. Não se preocupam em desenvolver a economia para alimentar a população e melhorar sua qualidade de vida, mas sim fazer um permanente expurgo dos valores que não os do governo, que não são explicitados no livro. Até o fato de falar a língua inglesa, que é considerada inimiga da "cultura" comunista, é motivo de tortura e morte. Os valores ocidentais são combatidos de todas as formas. Mesmo a religião budista é apontada como possível causa da prática do comunismo cambojano, pois seu ideário de uma vida melhor após várias reencarnações é fator contrarrevolucionário. Os países vizinhos, especialmente o Vietnã é apontado como elemento incentivador do comunismo cambojano isolado do mundo a sua volta. Veem o Vietnã como um país privilegiado por suas condições favoráveis ao desenvolvimento. Outro fator estudado sobre a origem da violência cambojana é seu passado de guerras registradas em sua história remota, e também recentes à implantação do Comunismo. Não faltam relatos dos poucos sobreviventes à matança do regime comunista cambojano. Existem várias fotos dos atos violentos, pois os seus executores tiravam fotos dos futuros torturados e assassinados antes das sessões; como um fichamento macabro. O Comunismo em sua origem, e também nos dias atuais, é uma mistura de política e religião, pois adota uma postura dogmática nas decisões, ou seja, é infalível, como os dogmas religiosos, portanto o acusado está sempre confessando o que os seus carrascos querem que assuma.



Os autores passam a analisar e narrar sobre o Comunismo no Terceiro Mundo, começando por Cuba, revolução que ficou famosa entre as esquerdas no Brasil, principalmente nas décadas de 1980 e 1990, pois a estratégia de Fidel Castro era só revelar o lado bom de sua ação. Inclusive foram publicados livros em sua defesa e do país que nunca deixou de prender e matar seus "opositores" como fizeram a União Soviética e os países asiáticos. Os métodos de tortura e de discriminação foram semelhantes nos vários "comunismos" no mundo: o uso indiscriminado da violência, a prisão, expulsão e a falta de direitos dos cidadãos em nome de uma ideologia, ou quem sabe de uma personalidade, como afirma Castro em 1994, diante do fracasso de sua "revolução": "... preferia morrer a renunciar à revolução." (pág. 789). O texto sobre Cuba acaba com o mito de Guevara, que se espalhou pelo mundo, mostrando {o livro} seu lado violento no trato com os seres humanos. Fizeram até filme para sua defesa, mas que hoje sabemos quem foi o guerrilheiro idolatrado pelos setores intelectuais da América Latina. Nas análises sobre o surgimento dos vários "Socialismos" no mundo, os autores falam de várias causas, principalmente históricas, mas as palavras de Fidel mostram que houve um domínio nesse regime do culto à personalidade, e um fanatismo dogmático em Lênin, Stalin, Mao, Pol Pot, Castro e outros.

O Comunismo na Nicarágua tem muita semelhança com o de Cuba, devido principalmente à proximidade geográfica entre os dois países. Inclusive os Ministros de Daniel Ortega chegavam a se reunir com o governo cubano, depois das revistas apropriadas. Quanto à violência no trato com os "opositores" são totalmente semelhantes. exceto com o corte de órgãos genitais masculinos praticados pelos nicaraguenses. Mas a mentira característica dos regimes comunistas; esta é patente na Nicarágua. Outra diferença de todos os comunismos no mundo foi o trato com os indígenas do país, pois os mesmos tinham garantidos direitos essenciais do governo de Anastasio Somoza, que vinham do período colonial, e Daniel Ortega tentou retirá-los gerando uma guerra que provocou centenas de vítimas. O livro, por sua edição em 1997, não acompanha a trajetória de Daniel Ortega depois da eleição de 1990, portanto presta elogios à "democratização" estratégica das eleições na Nicarágua. Mas futuramente Daniel Ortega retorna com o Comunismo tradicional depois de um governo despreparado de Violeta Chamorro, sendo que continua até nossos dias em sua prática de exclusão da democracia no país.

No Peru, tivemos a ação do Sendero Luminoso que foi mais um grupo terrorista do que um governo comunista, pois nunca assumiu o poder. Adotou as práticas violentas dos comunismos históricos como o russo, o chinês, o cambojano e o cubano. Tinha como base os princípios marxistas. Tinha o hábito de cortar a língua e as orelhas de seus opositores, um simbolismo para a ideia de que eram espiões imperialistas. Mataram muitos inocentes, principalmente mulheres e crianças. Além de se infiltrar na grande Amazônia, área dos indígenas, e se envolver com os narcotraficantes.

A entrada do Comunismo na África, que os autores chamam de Afrocomunismos: Etiópia, Angola e Moçambique, teve uma característica diferente dos demais países europeus, asiáticos e da América Latina, pois os interesses se ampliaram para várias nações desenvolvidas que conquistaram o domínio sobre vários países africanos em busca de riquezas para o chamado imperialismo, que era caracterizado pela concorrência entre as nações industrializadas, que buscavam fontes de riquezas minerais para mover suas fábricas. Consequentemente o Comunismo vai ter a influência dentro de um quadro de busca de direitos trabalhistas e lutas pelo poder entre os partidos comunistas e aqueles dominados pelas nações capitalistas. Com a implantação de governos comunistas  na Etiópia, Angola e Moçambique, estes terão o apoio político e militar dos exércitos, principalmente da União Soviética, Europa Oriental e Cuba, com suas práticas de violência contra seus opositores. Devido a enorme fome ocorrida na Etiópia, houve uma onde de solidariedade humana nunca vista, na qual participaram as mais diversas estrelas do rock, como Michael Jackson e muitos outros cantores internacionais  no famoso hino We are the Word, do qual se pode recear que fique como único vestígio do drama etíope na memória de dezenas de milhões de ex-adolescentes dos idos anos 80 (Pág. 822). É interessante notar como Angola reagiu à ação da perestroika soviética, quando a União Soviética abriu-se para o mundo capitalista, em 1985, principalmente com a abertura do mercado e o pluralismo partidário, pois imediatamente, o governo de Angola também adotou a mesma prática. Sobre Moçambique, nas lutas pelo poder comunista predominam as mesmas características violentas do marxismo-leninismo, que não precisamos enunciar; mas para encerrar o estudo do comunismo africano basta um texto de Samora Machel (Pág. 834): "O homem novo que Samora Machel e os seus teimavam em construir era bem 'o produto patológico desse compromisso, o qual, no sujeito individual, é vivido como desonra, mentira, loucura esquizofrênica. Ele quer viver, mas para isso tem de dividir-se, levar uma vida escondida e verdadeira e uma vida pública e falsa, querer a segunda para proteger a primeira, mentir incessantemente para guardar em algum lugar um cantinho de verdade'."

No Afeganistão, antes um país com relativo desenvolvimento e estabilidade social, cultural e religiosa, o golpe de Estado comunista transformou o país num campo de guerra e matanças, voltando aos tempos de Stalin. Como o texto afirma: "... a responsabilidade dos acontecimentos que se produziram no Afeganistão cabe diretamente aos comunistas e aos seus aliados soviéticos. O governo pelo terror de massa e o sistema coercivo implementados continuam a ser uma constante na história do comunismo." (Pág. 849)

No final do livro, os autores tentam uma explicação sobre o uso de tanta violência na implantação do Comunismo na Rússia e nos outros países que o adotaram, com o título Por quê? E para tentar esta explicação utilizam de todos os argumentos históricos, biológicos, filosóficos, científicos e sociais. Buscam sua origem na história de violência que praticamente marcou toda a vida da Rússia ao longo do tempo, tanto é que na literatura russa seus romances, geralmente terminam em tragédia. Procuram explicações, mesmo nos dirigentes comunistas como Lênin, Stalin e muitos outros, além de Marx, que não foi, como é muito divulgado, um defensor da Ditadura do Proletariado, mas na realidade este não era um de seus princípios, pois esta expressão foi encontrada, por acaso, em uma de suas cartas. Marx defendia que haveria violência na História, mas não necessariamente o uso da violência na construção do Socialismo. Acreditava, inclusive na possibilidade de um Socialismo Democrático na Inglaterra, Estados Unidos e Holanda. Essa sua visão da história pode ter deixado uma certa ambiguidade para os líderes da Revolução de 1917, na implantação do regime comunista russo. Enfim, os autores não encontram nenhuma explicação plausível para o uso da violência sistemática e generalizada da violência na implantação do Socialismo, apenas apontam as críticas pelo uso da violência e da desinformação em todos os locais em que a experiência comunista foi adotada.

Vale a pena ler todo o livro para uma compreensão melhor do processo de implantação do Comunismo no mundo do século XX.
 
















sábado, 9 de dezembro de 2023

Imprensa em tempo de guerra: Jornal O Jequitinhonha e a Guerra do Paraguai - Maria de Lourdes Dias Reis

 

Imprensa em tempo de guerra: Jornal O Jequitinhonha e a Guerra do Paraguai

Maria de Lourdes Dias Reis

Introdução

O tema escolhido pela historiadora faz parte de suas áreas de especialização que são a História e o Jornalismo. Foi muito feliz na escolha do tema, pois teve acesso aos canais próprios de sua área de pesquisa, mesmo sabendo da burocracia dos órgãos públicos para os trabalhos acadêmicos, Escolheu o jornal O Jequitinhonha por sua postura liberal e contrária ao governo Imperial na época, e era um jornal administrado por grande intelectual, Joaquim Felício dos Santos, como é citado textualmente: "inteligência lúcida das Minas Gerais do século XIX'". É um assunto instigante para pesquisa e resenha, pois trata de um dos episódios mais marcantes de nossa história e de seus personagens: a Guerra do Paraguai, D. Pedro II e Caxias. Sabendo-se que foi um fato amplamente pesquisado, e com visões diferentes de avaliações ao longo do tempo. É motivador estudar este livro, e não apenas ler, principalmente quando escrito por uma historiadora da capacidade da autora.


Desenvolvimento

No capítulo 1 a autora escreve um excelente texto sobre as produções históricas e literárias que foram publicadas desde meados do século XX sobre a Guerra do Paraguai. E nesta viagem pelo pensamento e pesquisa dos autores, a pesquisadora nos revela as ideologias por trás de cada produção. Eu particularmente, li as produções marxistas da época, ou seja, o Genocídio Americano e As Veias Abertas da América Latina, que eram leituras obrigatórias para os professores de História na década de 1980. São relatos chocantes sobre o que fizeram com a população paraguaia (Genocídio Americano) e com os povos indígenas da América Latina durante a colonização espanhola. Tínhamos verdadeiro ódio da prática violenta aplicada em nosso continente em nome do capital, principalmente o inglês. A versão sobre o nacionalismo no cone sul, muito me interessou, pois não conhecia essa linha de pensamento. A historiadora foi muito feliz em produzir um texto claro e sistematizado sobre as correntes de pensamento nas produções sobre o evento, sem se posicionar, a não ser um leve respaldo à corrente da História Nova, com a utilização de variadas fontes de pesquisa. No final, realça a questão da pesquisa de jornais da época sobre o acontecimento, ao parece, foi abandonada nestas produções.

No segundo capítulo a historiadora faz uma longa e clara exposição sobre a chamada História Nova, que tem como origem a História dos Annales. Mostra como este pensamento, que tem sua origem no pensamento de Marc Bloch, procura utilizar como fontes de pesquisas várias áreas do conhecimento, além de utilizar de fontes materiais como objetos  artísticos e outros meios que tragam alguma informação sobre o fato pesquisado, como as caricaturas e charges; diferente da História Tradicional ou Factual, que tem nos documentos oficiais, sua principal fonte de pesquisa, ou seja, os próprios documentos já dão a resposta "verdadeira" ao que o historiador está buscando. E dentro desse quadro novo de estudo, o jornal sempre foi uma fonte historiográfica utilizada pelos pesquisadores, e cita Gilberto Freyre como um dos primeiros a utilizar essa fonte, além de outros com menor importância em suas produções. Destaca como as crônicas em jornais foram fontes pesquisadas na Guerra do Paraguai, principalmente aquelas escritas por escritores como Machado de Assis, que defendia e Monarquia e combatia o Ditador Solano Lopez. Mas alerta: precisamos ficar atentos para as posições adotadas pelos jornais em sua publicações, dá como exemplo a verificação se são favoráveis aos governos ou às oposições... enfim, toda atenção é pouca para se buscar a verdade histórica. 

No terceiro capítulo, a autora informa e estuda as principais propostas dos jornais brasileiros e mineiros à época da Guerra do Paraguai, seus fundadores e as cidades de sua localização. Em sua maioria, a imprensa era monarquista, portanto defendia o Imperador e seu governo em relação às políticas adotadas no conflito. Mostra também os recursos utilizados pelos jornais para chamar a atenção dos leitores como charges e desenhos fazendo uma crítica com bom humor do Imperador e da guerra, enfim estes instrumentos ilustrativos faziam com que a população, sem sua grande maioria analfabeta, tivesse acesso à informação. O único jornal que desde sua fundação foi liberal e republicano foi O Jequitinhonha, que será assunto do próximo capítulo, mesmo que de forma pouco desenvolvida, pois seu criador toma um maior espaço no texto. Mas o jornal permeia toda a obra da autora - é seu fio condutor na produção histórica do livro.

Joaquim Felício dos Santos e o Jornal O Jequitinhonha são os assuntos tratados no quarto capítulo. Sobre Joaquim Felício dos Santos, a autora faz uma extensa biografia, elogiando seu caráter humano e libertário, e seu trabalho social e intelectual. Mostra como seu trabalho no jornal era feito no início, e em seu processo evolutivo até chegar a ser o único defensor da República entre os meios de comunicação de Minas Gerais. Suas colaborações intelectuais e jurídicas nunca foram acatadas pela Monarquia, pois era do conhecimento público sua oposição do governo Imperial. Mesmo com a ascensão da República, ainda não foi totalmente reconhecido... coisas da política. Sobre o Jornal O Jequitinhonha, a historiadora traça seu perfil desde sua fundação como um órgão prestador de serviços para a comunidade, além de publicar ideias de intelectuais. Mostra como ocorria seu financiamento, ou seja, com assinaturas de pessoas que não devolviam os exemplares. Tinha assinantes, inclusive no sul da Bahia, minha região de moradia atual.

A Monarquia, e principalmente D. Pedro II, é detonado nas publicações do jornal O Jequitinhonha em seu capítulo 5. D. Pedro é criticado de todas as formas possíveis: por sua saúde, sua voz, seu traje, sua fala no Congresso, os impostos para a família etc. Interessante notar que a questão tributária não é muito diferente do II Império em relação a nossa República de hoje, inclusive sobre alguns destinos dos impostos. Fazem poesia, charges, textos jornalísticos criticando o Monarca. O diferencial de O Jequitinhonha é que este jornal defendia abertamente a emancipação do governo, ou seja, sua queda e a Proclamação da República, pois o Brasil Imperial era uma planta exótica no continente americano. O jornal destacava também que D. Pedro II preocupava-se mais com os problemas das Monarquias europeias do que com os problemas brasileiros, principalmente com as estradas, que em Minas Gerais estavam totalmente abandonadas, depois da decadência da produção do ouro, D. Pedro II, importava mais com a produção do café, que era o produto que mantinha nossa economia na época.

A Monarquia e o Duque de Caxias se confundem nos ataques do Jornal O Jequitinhonha no Capítulo 6. Ora o jornal ataca a Monarquia na pessoa do Imperador Pedro II, e divide a depreciação com Caxias na Guerra do Paraguai. Ataca os aumentos de impostos que o governo cria durante o conflito; e faz uma defesa sutil do governante do Paraguai, Solano Lopes. O que fica claro, nas reportagens do jornais, mesmo que ele tente esconder, é sua intriga partidária com o Partido Conservador que apoia o governo, e portanto a política adotada pela Monarquia para manter a guerra, além de querelas antigas da Revolução Liberal de 1842, em que Caxias foi seu principal vencedor. Daí as batidas frequentes em Caxias, que é um militar sem grande poder de defesa. Mas existiram elogios à atuação de Caxias no conflito por sua postura firme que transmitia segurança aos seus comandados, inclusive foi considerado Patrono do Exército pela República nascente.

Os Voluntários da Pátria, a Guarda Nacional, o Exército Brasileiro e a Polícia Militar de Minas Gerais estão neste sétimo capítulo. Durante a Guerra do Paraguai o governo passou a recrutar "soldados" para participarem dos conflitos, inclusive já tinham restrições dessa participação nos Voluntários da Pátria desde 1841, que foram publicadas no Jornal O Jequitinhonha. A autora entra em detalhes sobre as publicações do Jornal O Jequitinhonha referentes ao recrutamento para a guerra, inclusive como eram chamados os escravos para substituir jovens livres na batalha. Compravam-se escravos e os alforriavam para que participassem em lugar dos filhos dos compradores. Mostra como nessa ocasião o Exército Brasileiro praticamente não existia, mas sim a Guarda Nacional, criada pelo Regente Feijó era a força militar mais importante. Cidadãos do norte de Minas, como Diamantina e Montes Claros foram recrutados para a guerra. No início houve até um certo patriotismo em participar da guerra, mas com a demora, não esperada, de seu final, os jovens perdem o entusiasmo e o governo passa a utilizar da violência para o recrutamento, quase igual ao que faziam durante o combate. Depois da guerra o Exército passou a ter prestígio por sua ação em colocar fim ao conflito.

A questão da Abolição da Escravidão é retratada no Jornal O Jequitinhonha e em outros jornais de Minas, no capítulo 8, mas com o predomínio da divulgação nesses órgãos da imprensa de anúncios de escravos fugidos de suas fazendas e os procedimentos que deveriam ser tomados por quem os encontrassem, inclusive a prisão desses elementos, não importando sua perda, preocupando mais aos proprietários os alistamentos para a Guerra do Paraguai. Este assunto é pouco desenvolvido pela autora. Parece que os fazendeiros tinham medo de uma onda de fugas de escravos para se alistarem, e quem sabe provocar sua emancipação. Vários jornais de Minas e do Brasil faziam essas publicações. O Jornal O Jequitinhonha defendia uma mobilização popular em defesa da Abolição da Escravidão, não acreditando em decisões políticas, e principalmente de D. Pedro II, que fazia sua defesa, mas não fazia nada de concreto para sua realização.

No capítulo 9, a autora compara a narrativa do Jornal O Jequitinhonha com os outros jornais de Minas Gerais sobre a Guerra do Paraguai. Mostra que existia uma disputa ideológica entre os jornais - os de uma visão conservadora, logo favoráveis à política adotada pelo Império brasileiro; e a outra progressista e liberal de O Jequitinhonha, contrária ao conflito e ao Imperador D. Pedro II. A Conclusão segue o mesmo raciocínio, destacando como O Jequitinhonha, quase trinta anos antes, já previa o fim da Monarquia e o início da República, sendo um dos precursores do início da República brasileira. Acho que faltou tratar um pouco do papel do Uruguai e da Argentina no conflito, afinal participavam da Tríplice Aliança contra o Paraguai, de acordo com a visão da autora fica a impressão, para o leitor menos informado, que foi uma guerra apenas entre o Brasil e o Paraguai, caindo o ônus do conflito com suas mazelas citadas no jornal, como as inúmeras mortes, na responsabilidade apenas dos "soldados" e do governo brasileiro.

É um bom livro para se ler pelas informações e análises inéditas, e o estilo literário da autora - uma leitura leve para um tema difícil, traumático e cansativo.


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