domingo, 7 de fevereiro de 2021

Maravilhas do Mundo Antigo - Cynthia Morais

 Livro Maravilhas do Mundo Antigo 

 Heródoto, Pai da História?
Cynthia Morais

Introdução
Na Introdução a autora mostra que o livro tem sua origem em uma tese de Mestrado em História na UFMG, consequentemente trabalha com muita teoria para sua elaboração, pois é uma produção acadêmica. Por ser uma introdução, já começa com boa parte do conteúdo do livro. É uma introdução longa para dar uma visão geral do assunto estudado. Cita vários autores para justificar seu embasamento teórico. Mostra sua defesa, ou seja, a compreensão do "maravilhoso" na obra de Heródoto. Enumera e analisa levemente as críticas à obra História de Heródoto e seu resgate a partir do final do século XIX. Compara a obra de Heródoto com outros historiadores da Antiguidade, especialmente com Tucídides. Trata amplamente a questão da linguagem na pesquisa de Heródoto, entre outras questões.

Parte 1 - O Maravilhoso antes de Heródoto
               Capítulo 1 - Mito, História e os viajantes gregos
Neste capítulo a autora mostra como o "maravilhoso" se manifesta nas obras dos historiadores, mesmo Tucídides, e dos viajantes gregos. Destaca que os mitos estavam impregnados na cultura grega no tempo de Heródoto, pois mesmo que os historiadores duvidassem destes mitos, ainda tinham alguma crença nos mesmos. Relaciona a historiografia grega com a poesia de Homero e outros poetas, identificando a origem da História com as epopeias, pois estas contavam as histórias dos heróis e deuses gregos, como em Homero e Hesíodo, por exemplo, antes de Heródoto. Volta a questionar o uso do "maravilhoso" em Tucídides e Homero, principalmente.

Parte 2 - A presença do maravilhoso nas Histórias
                Capítulo I - OS LUGARES
Neste capítulo a autora acompanha Heródoto em suas viagens para as várias regiões de sua narração, reflexão e pesquisa. Começa pelo Egito, parte do mundo em que os gregos de seu tempo tinham verdadeira admiração pelo comércio e pelo estudo. Heródoto faz pesquisas nas obras, costumes e grandes realizações egípcias. Tenta, com seu grande conhecimento, explicar os "mistérios" da grandiosidade das produções egípcias, e para isto, colhe informações de pessoas do lugar, mas sempre fazendo sua crítica pessoal, para se chegar ao que é verdadeiro ou invenção do povo. O texto abaixo, mostra o seu método de investigação e sua relação com os outros pesquisadores de seu tempo, e também com a poesia de Homero.


É interessante notar como a autora ao colocar sobre a veracidade dos fatos narrados por Heródoto, logo a seguir coloca uma confirmação da informação por outro historiador e por descobertas da arqueologia (texto abaixo). Sobre os Persas faz um longo estudo, inclusive entrando na questão da discussão sobre os regimes políticos, e revelando um Heródoto defensor da Democracia. Muito importante sua informação sobre a divisão dos governos em Monarquia, Oligarquia e Democracia, tendo como primeira fonte as Histórias de Heródoto, dentro da literatura grega (texto abaixo).



Continuando o estudo sobre os persas destaca suas riquezas, principalmente como suas obras eram repletas de ouro. Revela a visão de líderes da época sobra a possível derrota persa durante o conflito sobre os gregos, e para isto narra fatos relacionados a coisas "maravilhosas" como as previsões em sonhos, e no final um comandante grego admira-se da qualidade de vida deste povo e como pôde se arriscar a perdê-lo, sempre utilizando, a autora, de textos de Heródoto. Mostra a tradição do rito do substituto do rei em casos de eminente guerra.
              

          Capítulo II - OS ANIMAIS
O capítulo dois é dedicado aos vários animais existentes nas regiões objeto de estudo e pesquisa de Heródoto. Mostra não só o conhecimento físico e de sua evolução ao longo do tempo nas várias regiões, mas também sua relação com vida da população e de seus governantes, especialmente enquanto fator de mistificação, ou seja, como elemento determinante de ações humanas, tendo como base o comportamento de animais, e para isto cita outras fontes, como a Bíblia (Gênesis). É interessante notar como a autora vê Heródoto como um pesquisador, veja texto abaixo.


          Capítulo III - ACONTECIMENTOS EXTRAORDINÁRIOS
As histórias extraordinárias em Homero tem sempre uma lição moral para os envolvimentos nos eventos, e certamente para seus leitores. Conta fatos misteriosos que muitas vezes não têm comprovação histórica, mas exercem influências nas ações humanas dos governantes, principalmente. Para compreender o pensamento de Heródoto em suas histórias extraordinárias, a autora, ao final do capítulo afirma: "Tendo ou não as tendo dito, parecem elas mais terem saído da própria boca de Heródoto, do que efetivamente de Ciro." (p.126). Vejo nestas passagens uma preocupação com a educação do povo leitor, que infelizmente sempre foi reduzido. Os infortúnios, certamente levam a uma preocupação maior com uma mudança de postura da população em suas decisões - isto é educar.

          Capítulo IV - AS MULHERES
As mulheres neste capítulo são valorizadas como conselheiras de reis e guerreiras. Heródoto vê as mulheres enquanto adotam posturas masculinas, e não com as características próprias das mulheres como beleza, sensibilidade, carinho, maternidade, etc. Cita um caso em que a sensualidade feminina é fator de decisão política, ou seja, do domínio de um reino. Mas não deixa de valorizar a participação da mulher fora do lar em um tempo em que a mesma era enclausurada na família, a não ser em cerimônias religiosas, situação dominante em toda a Antiguidade.

Parte 3 - Discutindo o maravilhoso: algumas considerações teóricas
          Capítulo 1 - O maravilhoso como fenômeno de longa duração      
Neste capítulo a autora fala dos fenômenos chamados de maravilhosos, ou seja, aqueles de difícil ou impossível explicação na obra de Heródoto e de outros autores da Antiguidade e na Idade Média que pode ser uma extensão desta visão para além de seu ambiente de origem. Interessante notar como a autora destaca o respeito de Heródoto pelos costumes estrangeiros e o receio de falar sobre os fatos religiosos dos povos pesquisados - um posição peculiar de historiadores profissionais. Compara o trabalho de Heródoto com o de Marco Polo, os dois desacreditados no princípio e resgatados posteriormente pelas descobertas históricas.

          Capítulo 2 - As descobertas da Época Moderna e as crenças da Antiguidade: Heródoto revisitado
Os Tempos Modernos fizeram renascer o valor de Heródoto, pois as narrativas dos navegantes e de escritores resgatam a visão das "maravilhas" narradas pelo Pai da História. E mesmo Marco Polo faz parte desse conjunto de fenômenos anormais registrados em suas viagens. A autora destaca o valor religioso dos navegantes dos Séculos XV e XVI, pois enfrentavam perigos em nome da busca de riquezas, principalmente o ouro, mas tinham muito mais uma visão do maravilhoso, como o Paraíso Terrestre e a expansão do cristianismo. Inclusive, conforme opinião de um escritor, Colombo nunca foi moderno, pois continuava com uma visão de mundo da Antiguidade e da Idade Média, o que é confirmado em seus relatos de viagem.

            Capítulo 3 - O maravilhoso como forma de compreensão das Histórias
Agora a autora aprofunda a questão do maravilhoso na obra de Heródoto. Mostra como o mesmo era uma forma de se compreender os fatos narrados e espelho da realidade vivenciada pelos povos vizinhos da Grécia e de Atenas. Analisa as críticas feitas por outros escritores antigos à obra herodotiana, principalmente por parte de Plutarco, que buscava muito mais em resgatar os valores dos gregos, quando os mesmos eram questionados por Heródoto. Os elogios a Heródoto são muitos no capítulo. Veja trechos abaixo (p. 165, 172).




             Capítulo 4 - O thaumázein como processo de aquisição do do conhecimento: o filósofo e o historiador
Neste capítulo a autora expõe com clareza a questão do maravilhoso como processo de busca do conhecimento de uma realidade, caminho percorrido por todos os escritores gregos do século V a.C., tanto os historiadores quanto os filósofos e poetas. Mostra a liberdade existente no trabalho do historiador no período, pois o mesmo não estava ligado a nenhum governo e líder político, pois a história era uma atividade intelectual iniciante, portanto poderia falar mal ou bem de qualquer um. Ao final mostra como o maravilhoso está ligado à atividade do historiador em todos os tempos para se chegar à verdade, mesmo que de forma parcial, prática comum, inclusive dos historiadores atuais, pois os mesmos devem maravilhar-se para buscar o conhecimento. O texto abaixo é significativo sobre a prática dos historiadores de todos os tempos.

Consideração finais
No final, em um breve texto, faz um resumo claro do livro, e quase uma apologia de Heródoto como historiador, (p.81, texto abaixo). Não entendi a razão do título do livro constar "Heródoto, Pai da História?", pois em nenhum momento a autora faz este questionamento. Durante todo o livro, Heródoto não tem concorrente para o título de Pai da História. O texto todo trabalha bem a questão do maravilhoso no livro de Heródoto e em outros autores. Neste ponto atingiu o objetivo. É um texto fácil de se ler pela escrita leve da autora em um assunto teórico. Para o conhecimento da obra de Heródoto é um excelente livro. Na página 187 a autora coloca o texto original de Cícero que afirma que Heródoto é o Pai da História, mesmo que fale de fábulas em sua obra, afirmativa que provocou questionamentos sobre a historicidade da História de Heródoto, hoje superada totalmente (texto abaixo).



A Escola dos Annales - 1929-1989

 Livro A Escola dos Annales - 1929-1989  

A revolução francesa da historiografia
Peter Burke



Apresentação
Na Apresentação, um autor brasileiro (Nilo Odália), traça as linhas gerais do livro e da Escola dos Annales. Valoriza a contribuição de seus criadores para a historiografia, pois todos as correntes da História atual não deixam de ter suas influências. Mostra uma divisão da evolução desta Escola, e seus principais colaboradores. Realça algumas de suas características como a história serial, de longa duração, estrutura, conjuntura, e sua real significação que é a História Nova. Destaca a capacidade de síntese de Burke ao estudar, em poucas páginas, um tema tão revolucionário da historiografia.

Prefácio
No Prefácio, o autor enumera as principais ideias defendidas pelos Annales (que pode ser um Movimento ou uma Escola): "Em primeiro lugar, a substituição da tradicional narrativa de acontecimentos por uma história-problema. Em segundo lugar, a história de todas as atividades humanas e não apenas política. Em terceiro lugar... a colaboração com outras disciplinas..." Enfim, uma História Total, em minha opinião. Mostra que não houve uma unidade no pensamento dos componentes da Escola ao longo do tempo, inclusive com um retorno à valorização da História Política, da narrativa e dos eventos. Faz uma divisão da evolução da Escola em três fases. Dá uma visão do livro ou ensaio definindo seu objetivo de descrever, analisar e avaliar a obra da escola dos annales.

Capítulo 1 - O Antigo Regime na Historiografia e seus críticos
O autor faz uma retrospectiva do pensamento histórico e seus historiadores de Heródoto até a Escola dos Annales. Importante informação é que a primeira contestação da História tradicional aconteceu durante o Iluminismo, através da obra Ensaio sobre os Costumes, de Voltaire, pois esta obra abandona uma história política, dos grandes líderes, e militar, para focar numa história da sociedade, e seus costumes. Todos os historiadores que contestaram a história tradicional não deixaram de "preservar" elementos desta história, como a narração e a história política, apesar dos avanços para uma melhor compreensão dos fatos históricos, especialmente com o auxilio de outras ciências humanas, como a Sociologia, a Geografia e a Linguística.

Capítulo 2 - Os Fundadores: Lucien Febvre e Marx Bloch
Neste capítulo, o autor traça uma pequena biografia dos dois fundadores dos Annales e analisa suas principais obras. Compara os dois na criação e comando da escola histórica. Mostra o perfil psicológico de cada um e sua relação com outros intelectuais do período. Destaca a profundidade da pesquisa de ambos na busca da verdade histórica, utilizando principalmente, outras ciências como a Linguística, a Geografia, a Antropologia, a Economia, etc. Comenta os principais livros produzidos por Bloch e Febvre. Revela como a Escola dos Annales foi origem de outras histórias como a História das Mentalidades, a História Comparativa, de Longa duração, Serial, Quantitativa, do Cotidiano, etc.

Capítulo 3 - A Era de Braudel
O autor faz um longo e minucioso estudo sobre a obra de Braudel no Magistério e na produção historiográfica, seus seguidores e suas influências. Destaca sua obra principal, O Mediterrâneo e Felipe II. Mostra as qualidades desta obra dentro dos ideais da Escola dos Annales, e também faz um levantamento de suas críticas, mas realça suas grandes qualidades. Mostra como Braudel tinha grande interesse pela Geografia e a Economia. Faz relação de seu pensamento com outras escolas como a Marxista, por exemplo.

Capítulo 4 - A Terceira Geração
A Terceira Geração dos Annales é caracterizada pela ampliação do horizonte de estudos da escola como as questões da infância, do sonho, do corpo, da mulher, do odor, da morte, etc. É nesta fase que surgem produções específicas sobre a Mulher dos historiadores da Escola dos Annales. Há também um retorno, por alguns historiadores, da História Política e dos eventos, e uma crítica por seu abandono. A Escola dos Annales passa a fazer parte de produções de outros países, principalmente de historiadores dos Estados Unidos. Às vezes, a História dos Annales é considerada uma história fragmentada por sua multiplicidade de correntes, como as Mentalidades, Serial, do Cotidiano, etc. Uma característica da escola, não só da Terceira Geração dos Annales, é a permanente imaginação na busca de temas de pesquisas e aprofundamento.

Capítulo 5 - Os Annales numa perspectiva global
Neste capítulo o autor mostra como ocorreu a repercussão da "Escola" dos Annales fora da Europa, especialmente do ambiente histórico da França. Relata as críticas e apoios ao Movimento dos historiadores franceses em outros continentes e países. No Brasil fala da relação de Braudel com a obra de Gilberto Freyre, Casa Grande e Senzala. Traça ao final, um quadro sintético do que foi, em sua opinião, os ideais da nova linha histórica iniciada em 1929, e sua situação nos dias atuais. Revela que a maior contribuição dos annales "... foi expandir o campo da história por diversas áreas." (p.143). No texto abaixo (p.139) o autor mostra a situação atual dos Annales.





Apologia da História ou O Ofício de Historiador - March Bloch

 

Livro Apologia da História ou O Ofício de Historiador
March Bloch

Apresentação e o Prefácio traçam um perfil do historiador, March Bloch, e suas principais ideias defendidas no livro, como a questão da história-problema em oposição à História Positivista, defesa que inclui uma crítica à super valorização do fato e dos documentos. Define a História como uma ciência do homem no tempo. Não considera a História simplesmente como uma narrativa, como o faz Paul Veyne. Veja texto à página 19:

Introdução
Na Introdução o autor faz uma síntese do livro, ou seja, comenta levemente as questões que serão desenvolvidas no livro como a questão da cientificidade da História, a prática do Historiador e o prazer do conhecimento histórico para a maioria da população. Amplia um pouco a questão da História como ciência, mostrando que mesmo as chamadas ciências exatas têm seus limites. Critica também a História Positivista, como é próprio dos Annales.

Capítulo 1 - A história, os homens e o tempo
O autor começa o capítulo falando sobre as escolhas do historiador em sua pesquisa, situação que não ocorre nas ciências exatas. Trabalha também a permanente polêmica da cientificidade da História e apresenta um argumento interessante para o problema que é o da linguagem das ciências, que o conhecimento histórico possui em sua especificidade na sua produção e divulgação. Destaca que os homens são o objeto da História, e numa definição leve e sintética da História afirma que a História é a ciência dos homens no tempo. Trabalha a questão das origens em História, realçando que as origens, não são, necessariamente, uma explicação, o que alguns documentos denotam. E continua trabalhando a questão de passado e presente, e sua relação com a construção do conhecimento histórico.

Capítulo 2 - A observação histórica
Neste capítulo, Bloch trabalha bastante a questão das fontes e a observação do historiador sobre estas. Demonstra a dificuldade do conhecimento do passado e do presente quase no mesmo nível, pela carência das fontes e da subjetividade do historiador. Informa que as fontes em História hoje são quase ilimitadas. Afirma que o historiador tem que buscar respostas nos documentos muito além da aparência, ou seja, muitas vezes um olhar atento leva a descobertas que não estavam contidas quando da elaboração da fonte. E para isto afirma: "Do mesmo modo, até nos testemunhos mais resolutamente voluntários, o que os textos nos dizem expressamente deixou hoje em dia de ser o objeto predileto de nossa atenção. Apegamos-nos geralmente com muito mais ardor ao que ele nos deixa entender, sem haver pretendido dizê-lo."(p.78). Valoriza A História de Heródoto como a principal fonte da Antiguidade em forma de livro, e não em fragmentos.

Capítulo 3 - A crítica
Durante todo o capítulo, o autor trabalha a crítica documental, ou seja, se os documentos são autênticos e verídicos, e para isto cita inúmeros casos de falsificações de documentos. Realça que a Idade Média foi o período onde ocorreu o maior número de falsificações documentais. Mostra o cuidado que o historiador deve ter ao analisar essas fontes, quanto a questão do contexto, do produtor da falsificação, ou seja, deve fazer uma crítica severa do que pretende pesquisar. Mesmo na I Guerra Mundial, da qual participou como soldado, revela a quantidade de informações deturpadas que aconteciam no front. Vislumbra uma História Comparada e Relacional, ou seja, os fatos estão encadeados numa série de eventos semelhantes e se relacionam, na busca de sua veracidade.

Capítulo 4 - A análise histórica
Para o autor, a história não é uma simples narrativa dos fatos humanos, mas sim uma compreensão destes fatos, que passa necessariamente, por sua análise. Defende a compreensão dos fatos sem seu julgamento, como todos os historiadores. Utiliza a linguagem como força de expressão e de conhecimento histórico. A linguagem torna-se essencial para a compreensão "total" dos fatos históricos. Para chegar a estas conclusões, Bloch faz longas explicações linguísticas e factuais, da Antiguidade à modernidade. Continua defendendo uma análise profunda para o conhecimento histórico, sempre utilizando a linguística como principal fonte para chegar a este conhecimento. Para este conhecimento cada vez mais construído defende sua contextualização no tempo em que os fatos aconteceram. É um incansável batalhador em busca da verdade, e para isto, sempre volta à História chamada de Positivista e seus autores. Os fatos continuam importantes, mas com um significado ampliado englobando as várias áreas do conhecimento

Capítulo 5 - sem nome
Neste capítulo incompleto, o autor trabalha insistentemente a questão da causa em história e em outras ciências. Mostra que sempre existem várias causas para um acontecimento, e nunca apenas uma, como os historiadores têm apregoado nas pesquisas históricas.

A Lei - Por que a esquerda não funciona? - Frédéric Bastiat

 


Livro A Lei
(Leitura no Kindle)
O livro foi escrito em 1850, mas mantém sua atualidade diante das questões que envolvem a esquerda e a direita na política atual no Brasil e no mundo. Foi escrito logo no início do surgimento do Socialismo Marxista e da ascensão do Liberalismo através da vitória da Revolução Francesa. Faz uma defesa constante dos ideais do Liberalismo Econômico e social. Defende a propriedade privada e a liberdade individual dos cidadãos. Faz uma apologia da Lei como fator de equilíbrio social e político. Defende a não interferência do Estado na vida dos cidadãos e na economia, portanto faz uma crítica mordaz ao Socialismo intervencionista. Mostra que a interferência do Estado na vida do cidadão tira sua liberdade. Ponto alto do livro é sua relação com a política brasileira dos últimos anos, comentários feitos por um cientista político do Brasil. Realça o controle da política de importação tecnológica realizado pela Presidenta Dilma como um desastre para nossa evolução no campo da tecnologia no mundo, através da reserva de mercado de computadores.

O Voto Feminino no Brasil - Teresa Cristina de Novaes Marques

 



Livro O voto feminino no Brasil
(Leitura no Kindle)
É um excelente livro sobre o feminismo no Brasil. A autora faz uma retrospectiva do Movimento Feminista desde o Período Imperial e aponta feministas pouco conhecidas, mesmo do público letrado. Informa sobre projetos de deputados que lutaram pelo voto feminino como o escritor e político José de Alencar e outros menos conhecidos. Faz uma linha de tempo sobre as lutas emancipacionistas no Brasil e no mundo. Revela os avanços do Brasil na questão do voto feminino em relação a outras nações do planeta.

Como se escreve a história e Foucault revoluciona a história - Paul Veyne

 



Introdução
Na Introdução o historiador trata da questão essencial para a historiografia: "O que é a história?" Para tratar do assunto começa questionando o que "a história não é", por exemplo, a história não é uma ciência. Em seu estilo bem humorado e com uma leitura fácil termina falando verdades duras aos historiadores:


Capítulo 1 - Apenas uma narrativa verídica
O próprio título já diz tudo - A história é uma narrativa de fatos verídicos praticados pelo homem. Destaca a questão da síntese do historiador, pois a realiza para transformar informações variadas e escolhidas subjetivamente em fatos palpáveis para o leitor.
(p.18)

Trabalha a questão dos documentos como fonte primeira dos historiadores, mostrando que os mesmos devem ir além da informação documental.

(p.18)
Ainda no capítulo 2 Veyne mostra a razão do gosto pela história. Ela é uma narrativa que agrada ao público, pois a ele se refere, ou seja à vida do ser humano. Além, é claro, da inerente curiosidade do ser humano. E mostra o que realmente interessa ao historiador - a verdade.
(p.23)

Capítulo 2 - Tudo é histórico, logo, a história não existe
É interessante notar que o autor não utiliza a expressão acima, que dá nome ao capítulo, mas pelo texto pode-se perceber este significado da história, principalmente pelo campo cada vez mais amplo de sua pesquisa, e que a história como a conhecemos não existe (afirmativa em texto anterior). Afirma que o campo da história é indeterminado, mas com uma única exceção: "... que tudo o que nele se inclua tenha, realmente, acontecido." Se existe uma "lei" da história, esta parece a única. Fala sobre as lacunas na história, das questões factuais e não-factuais (aquelas que não identificamos), da subjetividade do historiador na escolha dos temas de pesquisa: "... sim, a história é subjetiva, pois não se pode negar que a escolha de um assunto para um livro de história seja livre." Vê Voltaire como um marco na evolução da produção e pesquisa históricas.

Capítulo 3 - Nem fatos, nem geometral, mas tramas
O autor insiste na subjetividade do historiador e nas tramas, característica essencial das narrativas. O historiador escolhe os "fatos" relevantes, e realiza a trama. Um elemento que pode ser importante diante da escolha de um historiador, pode não o ser no olhar do outro, Daí, quase uma defesa do historicismo da história política e Metódica, quando fala da importância de determinados eventos históricos, como a I Guerra Mundial e um detalhe de algum outro evento. Insiste, o autor, na parcialidade do conhecimento histórico.

Capítulo 4 - Por simples curiosidade para com o específico
Neste capítulo o autor entre em detalhes sobre as especificidades da História. Destaca a palavra "interessante" como própria da curiosidade do historiador. Cita Weber como exemplo de uma visão histórica relacionada a valores, nas escolhas de pesquisa dos historiadores. Identifica dois princípios da história: primeiro que a história é conhecimento desinteressado; e o segundo, de que todo fato é digno da história. Entra também em questões sobre uma história dos grandes líderes, do cotidiano e do historicismo.  Mostra que existe uma história popular (placas de avenidas, dos grandes homens, dos livros escolares, etc.) e uma história dos historiadores. Veja texto abaixo (p. 52):



Capítulo 5 - Uma atividade intelectual
O autor começa o capítulo afirmando que escrever história é uma atividade intelectual. E depois passa a fazer análises sobre a questão do intelectual escritor da história, realçando principalmente seu envolvimento enquanto pessoa na produção histórica, e afirma que este fato diferencia a escrita histórica das outras atividades intelectuais. Interessa-se pelo gosto humano em conhecer seu passado e aponta duas razões para este fato: a primeira refere-se à relação do ser humano com seu grupo social, familiar, nacional, e a segunda razão é a permanente curiosidade do homem. O autor consegue unir informação de simples compreensão com análises mais complexas, por isso, sua leitura fica interessante, como a própria história. Pois uma leitura simplista ou complexa demais "corrompe" a compreensão da leitura.

Capítulo 6 - Compreender a trama
Neste capítulo se discute a questão da história como uma narrativa sem nenhuma explicação do texto. O autor mostra que a explicação é usada para a compreensão da trama ou narrativa, mas não uma explicação de profundidade como as outras ciências. Para o autor, a história vai ser sempre uma narrativa dos acontecimentos humanos. Mas não pode prescindir de uma explicação para a compreensão da trama histórica, mas nunca uma explicação científica. Segue fazendo análises sobre causas históricas com o uso de autores de outras áreas e de historiadores.

Capítulo 7 - Teorias, tipos e conceitos
O autor volta à questão fundamental do ato de escrever a história que é a trama, em sua opinião, e que eu concordo, pois também vejo a história como a narração dos fatos humanos do passado. Logo a questão das teorias, tipos e conceitos em história não passam de componentes desta mesma trama, como afirma o autor na página 100 - "Teorias, tipos e conceitos são uma única e mesma coisa: resumos prontos de trama." Discorre longamente sobre os conceitos, mas os vê como aquilo que o historiador já contém em sua formação sobre o que é alguma coisa que está narrando, tipo uma revolução, uma agitação, uma classe social, etc.

Capítulo 8 - Causalidade e retrodicção.
Neste capítulo o autor trabalha muito a questão das causas em História, mas mostra que estas fazem parte da trama, e não de um método em História. Entre em detalhes na questão da causa, ficando, às vezes, com um texto muito repetitivo e cansativo. Utiliza vários autores para suas explicações. Defende o tempo todo que o historiador busca a compreensão de uma realidade, e não sua explicação, como o fazem as ciências naturais. Afirma que a História nunca será científica. A retrodicção é a ocupação das lacunas deixadas pelos documentos, que o historiador através da síntese, procura resolver.

Capítulo 9 - A consciência não está na raiz da ação
O autor aprofunda na questão da consciência dos personagens históricos sobre sua consciência na ação, e para isto, busca sempre uma compreensão cultural embutida nas decisões. O capítulo é cheio de detalhes e de citações de outros autores, como filósofos e historiadores. Trabalha também com a questão do julgamento dos historiadores sobre os fatos narrados, afirma que os historiadores não fazem julgamentos dos fatos contados.

Capítulo 10 - A ampliação do questionário
Neste capítulo o autor torna-se mais objetivo e menos voltado para os detalhes da pesquisa histórica. Mostra o objetivo do Historiador, novamente, que é a busca da verdade dos acontecimentos. Trabalha um pouco a questão dos fatos em História, principalmente a chamada História Factual, que a Escola dos Annales condena. A questão da História Estrutural que defende em detrimento de uma "excessiva" preocupação com os fatos em sua opinião. Identifica o novo perfil dos manuais de história com a predominância da história estrutural, ou seja, uma história que busca mais explicitar/explicar os fatos narrados, do que em enumerar os fatos, fatores, personagens, etc. A ampliação do questionário é o aumento das perguntas dos historiadores. Os textos abaixo explicam bem estas colocações do autor:
 P.169
P.172
 No texto acima mostra que os historiadores utilizam de "conceitos" históricos em sua narrativa.

P.179

Capítulo 11 - O sublunar e as ciências humanas
O autor volta à questão da cientificidade da História, afirma que a História não é uma ciência, mesmo humana, mas ao mesmo tempo valoriza o estudo histórico como um tipo de conhecimento amplo, além das ciências exatas. O texto abaixo valoriza a História como um tipo de conhecimento privilegiado:

Capítulo 12 - História, Sociologia, História Total
Neste capítulo, o autor continua na explicação sobre a não cientificidade da História e de outras "ciências humanas" conhecidas e reconhecidas tradicionalmente, como a Sociologia e a Etnografia. Compara o conhecimento histórico com a prática da Física para se chegar ao conhecimento. Faz dura crítica à Sociologia, identificando-a como um tipo de história. E no final comenta sobre  Max Weber na produção histórica, dando a este autor grande autoridade no desenvolvimento historiográfico atual.

Parte IV -Foucault revoluciona a História
Nesta parte, o autor valoriza o trabalho do filósofo Foucault na área da pesquisa histórica, Em um texto cheio de detalhes e teoria explica o olhar do filósofo sobre a produção histórica e os historiadores. Em sua visão, Foucault valoriza mais a relação entre os fatos pesquisados do que os próprios acontecimentos, chegando a afirmar que os mesmos não existem, mas sim nas relações ou contexto. Mas considera o trabalho dos historiadores até agora, e não nega sua prática Em resumo amplia o espaço de pesquisa e a busca do conhecimento da historiografia, como o fizeram os historiadores dos Annales. Os textos abaixo explicam bem sua teoria:


P. 252

P.275
P.284

Teoria da História - Pedro Paulo A. Funari e Glaydson José da Silva

 Livro Teoria da História

Pedro Paulo A. Funari
Glaydson José da Silva
Introdução
Os autores explicam a característica interdisciplinar da Teoria da História desde sua origem mais remota e os objetivos do livro: "...introduzir o leitor no universo da Teoria da História, a partir de suas origens até os dias atuais." Destacam a importância da divulgação de obras sobre a Teoria da História e das dificuldades do ofício de historiador.

Capítulo 1 - As origens antigas ou pré-modernas
Os autores explicam os termos Teoria da História e faz uma evolução desda desde a Grécia até os historiadores romanos e cristãos. Ao final de cada capítulo fazem um pequeno esquema das características do período.

Capítulo 2 - O surgimento da História e o Positivismo
A História Positivista tem sua origem mais antiga no Renascimento. Os escritores buscam uma explicação racional e objetiva dos fatos humanos, abandonando a visão religiosa e fantasiosa da Idade Média em suas narrações. Mas é no Iluminismo que esta prática se confirma e basca-se uma explicação racional do passado. Voltaire continua importante nas pesquisas históricas do período. A Disciplina História passa a fazer parte do currículo das Universidades. O estudo das línguas abre caminho para a valorização da História, pois estas (as línguas) garantem maior veracidade aos documentos estudados.

Capítulo 3 - A Escola Metódica
Os autores afirmam que esta escola só aparece nas citações das citações, mas ao mesmo tempo fazem um bom e longo texto sobre sua formação e prática. Mostram suas principais características para o estudo histórico: nacionalista, educacional e rigorosa em sua metodologia de pesquisa. Valoriza os documentos como fonte segura de pesquisa, principalmente os documentos escritos. É criticada pela Escola dos Annales.

Capítulo 4 - A concepção de História em Marx
No início do capítulo os autores valorizam o marxismo como "... um dos sistemas de pensamento mais influentes desde o início dos século XX;"  Fazem um pequeno histórico da vida de Marx desde sua entrada para a Faculdade. Mostram como suas ideias estavam marcadas pelo momento histórico em que Marx vivia, ou seja, o período de maior exploração da classe trabalhadora. O Materialismo, portanto, é a base de seu pensamento filosófico. Vê o trabalho como fonte de exploração do homem pelo homem, aí entra a questão da luta de classes, tão forte em seu pensamento. Entende a História como obra das ações humanas e não de um idealismo ingênuo.

Capítulo 5 - A Escola dos Annales
Esta Escola Histórica rompe com as demais escolas anteriores em relação ao seu objeto de pesquisa, pois busca o homem como seu objeto, sendo o mesmo o criador dos fatos. Combate uma narrativa simples dos fatos (historicismo), e cria uma história-problema: "Se não há problemas, não há história." (Febvre). Valoriza a interdisciplinaridade, especialmente com a Geografia. Critica a História Metódica e Positivista.

Capítulo 6 - A História Nova e outras historiografias
A História Nova tem como uma de suas características a despersonalização de autores, em oposição às histórias passadas que sempre tiveram nomes de historiadores como referência. É uma história que busca novos campos de pesquisa como a morte, a doença, a alimentação, a sexualidade, a família, a loucura, a bruxaria, a mulher, o clima, etc. Existe nela um declínio das questões econômicas e sociais, é mais uma história das mentalidades. Também se utiliza da interdisciplinaridade. Em outras historiografias há uma negação do positivismo e uma preocupação com a história contemporânea - "Toda História é História Contemporânea". Preocupam-se com a subjetividade do historiador e uma preocupação presente e futura, ou seja, "a História serve para mudar o mundo."

Capítulo 7 - O Pós-Modernismo
O Pós-Modernismo se aplica não só à História, mas às outras ciências também. Há uma contestação de um projeto de civilização que trouxe não só vantagens para a sociedade, mas inúmeros problemas para a humanidade como as guerras, a violências, a fome, as doenças, e este projeto tem sua origem no pensamento racionalista dos Iluministas. O Pós-Modernismo propõe a mudança de foco centralizado para uma relação democrática, includente - "Não mais 'o homem', 'a mulher' e 'a classe', mas 'os homens', 'as mulheres', 'os indivíduos', 'os grupos'. E neste processo o lugar ocupado pela linguagem no cenário pós-moderno é essencial.

Considerações finais
Os autores nas considerações finais assim resumem o objetivo do livro: "Assim como a fronteira americana foi 'inventada', proposta e descoberta a um só tempo, por um historiador, somos todos instados a nos lançarmos a esse processo de criação interpretativa. Abandona a ilusão da descoberta da verdade única e inefável, tudo está por ser interpretado."

As Escolas Históricas - Guy Bourdé e Hervé Martin

 Livro As Escolas Históricas

Guy Bourdé e Hervé Martin

No prólogo, os autores explicam o objetivo do livro, afirmam que mesmo podendo ter um enfoque diferente do estudo dos métodos da História, escolheram "... uma perspectiva acima de tudo historiográfica, ou seja, o exame dos diferentes discursos do método histórico e dos diferentes modos de escrita da história, da Alta Idade Média até os tempos atuais." Poderiam adotar um ângulo filosófico, examinar as relações entre a história e outras ciências, ou enumerar técnicas das ciências auxiliares da história, por exemplo. Mostra como alguns métodos dos historiadores gregos antigos como Heródoto e Tucídides continuam presentes até hoje, apesar das falhas de Tucídides em alterar os discursos dos protagonistas de suas narrativas, mas apontam que a ciência histórica evoluiu muito desde então. Fazem uma crítica do próprio trabalho ao constatar o estudo privilegiado dos historiadores franceses. Ao final de alguns capítulos, os autores inserem documentos que ajudam a explicar o conteúdo estudado, como alguns livros didáticos de história o fazem.

Capítulo 1 - Perspectivas sobre a historiografia antiga
Sobre a historiografia na Antiguidade Clássica, o livro realça o papel de Heródoto - "um espírito que tem curiosidade por tudo." e de Tucídides - "... o fundador da história crítica, para não dizer de toda a história clássica..." Analisa a metodologia da pesquisa histórica de ambos, sendo que os dois historiadores deram início ao processo "científico" do conhecimento histórico, pela constante busca da verdade dos fatos através de depoimentos, da experiência dos autores e de documentos oficiais. Valoriza a a ação dos dois historiadores para o início dos estudos históricos. Não vejo muita diferença entre Heródoto e Tucídides quanto à metodologia da pesquisa histórica; como disse Paul Veyne, "o método histórico não sofreu nenhuma mudança desde Heródoto e Tucídides". Apenas Tucídides é mais sistematizado que é Heródoto, assim como Políbio o é mais que Tucídides. Outra questão importante trabalhada no texto é sobre as causas dos eventos, mais que a simples narração dos fatos, e a partir dos historiadores romanos esta questão é tratada com mais relevância. Fica claro no texto a presença de quase todos os historiadores antigos nos eventos narrados, principalmente como militares, e uma preocupação com uma história recente.

Capítulo 2 - A história cristã da Alta Idade Média (séculos V-X)
O próprio nome do capítulo já identifica a característica principal da Alta Idade Média - cristã. Todos os historiadores se preocupavam mais em narrar feitos ligados à Igreja e seus seguidores e autoridades religiosas. Não se preocupavam tanto com a "verdade" dos fatos, mais com a maneira de contá-los, e nisto foram muito bons, conforme opinião dos autores do livro. Suas fontes mais importantes eram as orais, e mesmo quando tinham documentos, desconfiavam dos mesmos. Misturavam fatos históricos com lendas e feitos maravilhosos em suas narrações. Geralmente, os historiadores eram membros da Igreja: padres e bispos. A experiência dos autores fazia a diferença no "contar a história", dando a esta credibilidade.

Capítulo 3 - Os cronistas dos séculos XI-XV
Os chamados cronistas dos séculos XI-XV, em sua maioria, não adotavam os métodos da História como conhecemos hoje, mas mesmo assim encontramos historiadores no período. Os cronistas narravam fatos do dia a dia e também de longa duração. Não se preocupavam com as causas dos acontecimentos e nem com suas fontes e veracidade, salvo raras exceções. Muitas vezes faziam elogios a reis e autoridades políticas e religiosas. Até a história oral era pouco explorada, além da autenticidade dos documentos ser "garantida" pela palavra ou depoimento de uma autoridade. Tinham historiadores leigos e oficiais. E a experiência do "historiador" fazia parte da maioria das narrativas.

Capítulo 4 - Historiadores e geógrafos da Renascença
Os historiadores da Renascença rompem com a história medieval caracterizada pela crônica e uma solução religiosa para os problemas humanos. Os renascentistas buscam a razão para a explicação dos acontecimentos humanos, e para isto procuram as causas que movem os fatos. A História se divide e procura uma narração específica sobre a vida militar, sobre os nobres, os clérigos, a história política, etc. Utiliza outras ciências para a compreensão dos fatos históricos como a Geografia e a Economia Política. Tenta uma história total abarcando todos os questionamentos e informações possíveis para a reconstrução da realidade. Também pratica uma História Regional para o conhecimento de determinadas regiões estudadas pelos historiadores. Neste capítulo os autores não utilizam de documentos para melhorar a compreensão do texto.

Capítulo 5 - As filosofias da história
Neste capítulo os autores fazem comentários sobre o pensamento dos filósofos, principalmente a partir do século XVIII, sobre a história. O Iluminismo é o período que dá origem à filosofia da história. Buscam estes pensadores compreender a importância, seu método e alcance dos estudos históricos. Partem, quase sempre, da realidade vivenciada para explicar os "mecanismos" históricos, como a ascensão do Nazismo e das Guerras Mundiais. Alguns filósofos como Kant, Hegel, Comte, Spengler e Toynbee são estudados com mais detalhes, além da realização de comparações entre eles. O que se pode notar é o profundo interesse de outras áreas pela História, principalmente a partir do Renascimento e Iluminismo, o que termina envolvendo os intelectuais na discussão histórica. Também neste capítulo não se utiliza documentos para completar o texto.

Capítulo 6 - A História erudita de Mabillon a Fustel de Coulanges
Neste capítulo entramos em uma parte de muita teoria da metodologia para a pesquisa histórica. Os métodos de pesquisas dos vários historiadores do período são amplamente analisados. Percebemos a preocupação constante com a busca da verdade histórica, e para isto buscam elementos de sua garantia. Nas páginas 125-126 temos um breve relato desta preocupação: "Quem diz história, diz um narrado fiel, um relato exato e sincero dos acontecimentos, apoiado no testemunho de seus próprios olhos, em registros fidedignos e indubitáveis, ou no que contam pessoas dignas de fé.". O autor produz um longo texto sobre Voltaire, valorizando sua pesquisa histórica como marco de um novo tempo da historiografia, pois o mesmo é rigoroso na produção histórica e possuidor de um senso crítico apurado. Voltaire defende, em linhas gerais, uma história de grandes personagens e de uma história total. Veja abaixo, texto de Voltaire (pág. 129):

O autor se utiliza de documentos para a melhor a compreensão do texto.


Capítulo 7 - Michelet e a apreensão "total" do passado
Neste capítulo, o autor faz uma defesa inicial do historiador que cria grandes expectativas sobre seu papel na historiografia, mas na exposição textual não mantém esta imagem de um nome "superior" aos demais historiadores. Michelet tem um projeto ambicioso de história, ou seja, o de ressuscitar e recriar a própria história ou sua realidade em determinado momento. E para isto busca os detalhes da convivência humana, pensando a prática de uma história global. Para o erudito, a questão as raças e seus costumes são fundamentais. "A 'totalidade vivida' que Michelet quer reconstituir se situa num nível mais profundo que o 'global' dos historiadores atuais. Trata-se da captura de uma unidade viva e não apenas de instâncias interconectadas." Daí o a diferença entre Michelet e os demais historiadores, conforme o autor. Utiliza de documento no final do texto para melhorar a compreensão do texto.

Capítulo 8 - A Escola Metódica
Esta escola histórica é a única que tem um método próprio de pesquisa para a produção historiográfica, pois não utiliza de metodologias de outras ciências humanas como a Sociologia, a Etnologia, a  Filosofia, a Economia, etc. É uma "história pura", pois possui um método próprio e sistematizado para a busca do conhecimento histórico. Suas fontes principais são os documentos escritos, e para sua compreensão criou um método próprio.  Como o próprio autor do texto afirma: "A escola metódica quer impor uma pesquisa científica que afaste qualquer especulação filosófica e que vise à objetividade absoluta no domínio da história; acredita poder chegar a seus fins aplicando técnicas rigorosas concernentes ao inventário das fontes, à crítica dos documentos e à organização das tarefas na profissão." Esta escola é também chamada de "positivista", erroneamente, pois não se preocupa com as questões filosóficas, principalmente do Positivismo de Comte. É uma escola que se preocupa com a educação da juventude, cultuando valores morais e nacionalistas. É uma história que privilegia os acontecimentos políticos e seus grandes líderes, em detrimento dos fatos econômicos, sociais e culturais. Ao longo do texto são realçadas as contradições dessa escola, pois termina por praticar ações contrárias aos seus princípios, principalmente em relação à especulação filosófica, pois se posiciona em várias questões do governo francês. Os Annales fazem uma crítica sobre o ausência das fontes históricas de pesquisa não documentais que a escola negligencia.

Capítulo 9 - A Escola dos Annales
Logo no início do capítulo o autor mostra que a Escola dos Annales combate a Escola Metódica com suas características principais como a valorização do acontecimento e a vida política e anuncia o novo foco dos Annales, ou seja, o predomínio do econômico sobre o político, a organização social e a psicologia coletiva. Aproxima também a História das demais ciências. Nasce com os Annales a História das Mentalidades e a longa duração. Pela exposição do texto sobre Marc Bloch, este me parece o verdadeiro criador do método da Escola dos Annales, pois em seu livro A apologia da História ou o ofício de historiador propõe uma história integrada e abrangente, principalmente em suas fontes de pesquisa: "É o espetáculo das atividades humanas que forma o objeto particular da história". Portanto precisa, a História, de outras ciências para esta compreensão. No final do capítulo percebemos a defesa cada vez maior da relação entre a História e as outras ciências humanas, tanto nas palavras dos autores da Escola dos Annales quanto em suas produções. Na produção historiográfica, esta se apropria dos métodos de pesquisas de outras ciências, como a Sociologia, a Antropologia, a Etnologia, entre outras.

Capítulo 10 - A História nova, herdeira da escola dos Annales
A História Nova é realmente herdeira da Escola dos Annales, pois utiliza do mesmo pensamento dos iniciadores desta escola, ou seja, uma pesquisa interdisciplinar, sem sistematização e com novas fontes de pesquisa. O autor faz um longo texto sobre a teoria que gerou a Escola dos Annales, comparando seus iniciadores e outros teóricos de escolas anteriores. Na História Nova, as fontes se ampliam, pois algumas fontes esquecidas tornam-se fundamentais para a pesquisa. Continuam utilizando de outras ciências para o conhecimento cada vez mais completo da realidade. Preocupam-se com uma História Global, mesmo partindo de fatos particulares. Faz uma dura crítica da Escola dos Annales por seu personalismo, pois seus criadores se beneficiaram do sucesso para se desenvolverem nas carreiras. O autor afirma que a Escola Nova apresenta problemas, principalmente em relação ao método de crítica dos documentos, pois se baseiam, em geral nos métodos eruditos dos séculos XVII, XVIII e XIX.

Capítulo 11 - O marxismo e a História
O autor conta um pouco sobre a biografia de Marx e suas principais obras. Analisa sua filosofia, economia e o Materialismo Histórico. De forma bastante clara explica o método de estudo de Marx, em relação ao Capitalismo e os modos de produção. Para a História vê a importância do Materialismo Histórico, mas revela um determinismo final para a sociedade bem parecido com o futuro dos cristãos. Marx desenvolve os temas de classe social e ideologia, formando a ideia dominante ainda hoje sobre a mesma (a ideologia), ou seja: "Os pensamentos da classe dominante são também os pensamentos dominantes de cada época." Marx vê a história como vê a política, a ideologia. Não é um historiador na busca da verdade. O Marxismo continua sendo estudado desde sua origem até as contradições e desvios ocorridos após a morte de Lenin. Sua influência se percebe nos estudos históricos, principalmente na Escola dos Annales. Podemos até identificar historiadores marxistas, pois adotam o Materialismo Histórico como método de pesquisa. O autor faz um estudo detalhado sobre a origem e evolução do Marxismo, com suas características e nomes de seus defensores e estudiosos.

Capítulo 12 - O estruturalismo e a história
Este é o capitulo mais teórico do livro, portanto o mais cansativo. O estruturalismo tem sua origem na etnologia, que tem uma base teórica mais complexa, pois é o "Conjunto dos estudos antropológicos que procuram generalizar e sistematizar, por meio de comparação, análise e interpretação, os conhecimentos a respeito dos diferentes povos e suas culturas, obtidos através da etnologia." (Dicionário Aurélio). Que de forma mais simples, a etnologia é o estudo histórico dos povos e suas culturas. No texto o etnólogo Lévi-Strauss faz duras críticas à história pelos métodos que utiliza para o conhecimento histórico, principalmente sobre valor dos acontecimentos e da cronologia, que são próprios da história. O texto é bem cansativo e teórico e não acrescenta nada à pesquisa história antiga e contemporânea. Parece que Paul Veyne está certo: "Que o método histórico não sofreu nenhuma mudança desde Heródoto e Túcídides.". O historiador, disse Tucídides: '... deve se aplicar à busca da verdade e, para tanto, examinar os documentos mais fiáveis, mais próximos dos fatos relatados, confrontar os testemunhos divergentes, desconfiar dos erros veiculados pela opinião comum..." Todos estes preceitos permanecem válidos ainda hoje... e talvez para sempre no estudo histórico. (Livro As escolas históricas, p. 8). Apesar de complicado, no final tudo se resolve com clareza, pois percebe-se na história estruturalista ou Antropologia Histórica uma busca com mais profundidade do conhecimento, do fato, do sujeito, e para isto tem que se apropriar das outras ciências sociais. E novamente Veyne no ajuda na compreensão:

Capítulo 13 - A dúvida sobre a história
Neste capítulo o autor coloca as principais dúvidas surgidas ao longo do tempo sobre a capacidade e "métodos" da História de desvendar o passado. Por mais que se fale da preocupação da História com o presente, percebemos pelo texto a tentativa insistente de compreensão do conhecimento do passado. Dá pra perceber claramente que a História é uma "ciência" do passado. Vários historiadores são investigados sobre seus pensamentos sobre o conhecimento histórico, além do estudo de vários conceitos e escolas históricas. No final, chegamos à conclusão que a História nunca vai chegar a reconstituir o passado em sua integridade, e que a figura do historiador é inseparável de sua produção historiográfica. O historiador Paul Veyne me parece, com sua crítica sempre presente, o que se aproxima melhor do que conhecemos e estudamos como história: "Uma narrativa verídica que relata 'acontecimentos que têm o homem como ator', submetendo-se às exigências do gênero narrativo: 'como o romance, a história tria, simplifica, organiza, faz um século caber numa página'. Essa narração é centrada no individual, ou seja, em seres e acontecimentos situados num momento preciso do tempo." (p.322). E a discussão sobre a dúvida sobre a história continua, mas no final, sua importância é reconhecida: "... sob todas as suas formas está a serviço da sociedade presente." (p. 335).

Capítulo 14 - A renovação da história política
O texto começa com uma crítica da Escola dos Annales sobre a História Política, inclusive afirmando que nunca teve uma história política, mas sim uma história positivista e historicista da valorização dos grandes acontecimentos e líderes. Mas no final, sua renovação alcança uma história total englobando o método e o objeto da Escola dos Annales. Notamos que existe uma verdadeira batalha entre os historiadores sobre a melhor escola da História, que no fundo acabam misturando métodos e fontes de pesquisas das várias escolas da historiografia.

Conclusão
O autor mostra o objetivo do livro, realçando o que não deveria ser feito, ou seja, estudar todos os historiadores. sendo que alguns não fazem parte de nenhuma "escola" histórica. Questiona o valor da palavra "escola" para o estudo proposto. Enfatiza as lacunas deixadas, e que poderão ser resolvidas em uma próxima publicação e insiste no papel social e histórico do historiador em sua produção.

Por que gostamos de História - Jaime Pinski

 


Livro Por que gostamos de História
Jaime Pinski

Introdução

Este é um livro para se fazer uma leitura sem a pressa do mundo atual. É uma leitura prazerosa para o leitor amante de leitura. Seus temas variam entre Educação, cultura e política. São artigos publicados há algum tempo, mas que preservam sua atualidade. Como diz o autor: "... este livro é uma declaração de amor à História." E numa declaração de amor só ouvimos coisas boas e prazerosas. Valoriza a História e o Historiador para a formação humana pessoal e social, numa concepção cidadã. Mostra como no cotidiano valorizamos o conhecimento histórico numa tentativa de compreensão de nossa realidade. É a História instrumento de compreensão da vida humana.

Capítulo 1 - História
Neste capítulo, o autor discorre sobre questões específicas de História como a História das mulheres, o fanatismo ao longo da História e para isto, dá muitos exemplos na política, na religião e até nos esportes. Também trabalha a formação do público e do privado. A imprensa - fonte essencial de pesquisa dos historiadores - é objeto de estudo em um enfoque do tipo de informação jornalística e do estudo histórico - suas diferenças e objetivos. A questão do herói na História é tratada em política e na religião com exemplos concretos, como na Bíblia. Trabalha a questão da legalização da profissão de historiador, que a considera como outra qualquer, como Geólogo e Bibliotecário. Produz um artigo sobre História e Memória na Literatura. E no final faz um comentário sobre a Segunda Guerra tendo como foco uma História Geral em oposição às muitas especializações existentes hoje.

Capítulo 2 - Cultura
No capítulo sobre Cultura o autor destaca questões como cultura oral e cultura escrita. Valoriza a cultura oral como fonte de formação e identidade de um povo. Critica a atual cultura consumista do capitalismo brasileiro, que se manifesta explicitamente na televisão com as novelas e propagandas, tirando a opção de escolha da população para seu "consumo" cultural. Valoriza a cultura popular. Relaciona a produção textual das redes sociais com a elaboração do texto literário. Faz uma defesa dos museus no mundo como espaços de conhecimento cultural acumulado pela humanidade. Incentiva suas visitas, assim como a aquisição de livros para serem dados de presente... valoriza o livro! E ironicamente, explica o que é um livro e uma livraria. Dá dois exemplos de bons livros para uma leitura prazerosa e de qualidade. Interessante sua ideia da evolução da cultura, afirmando que esta passou da cultura oral para a digital, pulando a fase da escrita ou alfabetização.

Capítulo 3 - Mundo
O autor, no capítulo 3, discute o conceito de nação e de Estado Nacional, fazendo uma incursão por vários países do mundo. Questiona o conceito tradicional de nação tendo como base uma identidade cultural (língua, costumes, religião comuns). Mostra as variações desses elementos em um espaço geográfico determinado, e defende a definição de nação como o povo que tem consciência de um passado histórico comum. Aborda o problema da globalização sonhada por Marx com o Socialismo; não acreditando nesta possibilidade, principalmente depois do surgimento de várias pequenas nações após a Segunda Guerra Mundial e da desagregação do sistema socialista no mundo. Discordo do autor diante do conceito de nação, pois "exigir" que o povo tenha consciência de um passado histórico comum, é mais difícil do que perceber a permanência de uma língua, costumes e religião, mesmo que de forma pouco homogênea, numa sociedade. Comenta levemente as questões políticas de algumas nações do mundo.

Capítulo 4 - Povos e Nações
Neste capítulo, o autor relata suas viagens a alguns países da Europa, como a França, a Itália e até à Rússia pós-comunismo. Também estuda povos e nações do Oriente Média e Ásia. Sobre a China analisa seu modelo econômico e social, além de "prevê" seu futuro, enquanto possível competidora com os Estados Unidos no domínio econômico mundial. Não vê esta possibilidade, como muitos acreditam, e para isto, vê a melhoria das condições de vida dos trabalhadores chineses como o principal empecilho, ou seja, deve haver reivindicações trabalhistas que vão frear o desenvolvimento industrial chinês, além do acesso desses trabalhadores aos benefícios das novas tecnologias. O autor é um ferrenho defensor da democracia, e faz duras críticas aos povos e nações que defendem governos autoritários como no Oriente Médio, Cuba e Venezuela.

Capítulo 5 - Cotidiano
Sobre o cotidiano, o autor começa analisando a questão dos gestores municipais, primeiramente os vereadores e depois os prefeitos. Mostra como os interesses individuais predominam na ação da classe política, e exemplifica com a falta de presença dos políticos no meio da comunidade pra conhecer seus problemas, mas que na época das eleições a situação muda, ou seja, os candidatos buscam seus eleitores sem qualquer dificuldade, pois os caminhos, mesmo os mais íngremes, se tornam planícies para se chegar ao eleitorado. Valoriza cultura popular e clássica, tão desprezada pela população, pois a mesma se volta para as produções midiáticas por força dos meios de comunicação. Fala um pouco das relações religiosas (festa do Natal), feministas e preconceituosas em nosso país, e faz quase uma apologia da cidade de São Paulo, como a única cidade nacional do Brasil, pois para a cidade todo cidadão é brasileiro, e não mineiro, paulista, baiano... Defende uma unidade entre o Estado brasileiro e o cidade. Afasta do foco do livro: Por que gostamos de História. Acho que deveria fazer uma ligação dos textos (pois foram produzidos separadamente) com o tema do livro, mesmo com um pequeno texto complementar.

Capítulo 6 - Educação
Neste capítulo, o historiador retoma o foco do livro que é a questão por que gostamos de História. Novamente fala do grande número de pessoas que buscam a leitura de livros de História nos dias atuais. Relaciona História com política através da eleições, e mostra como as intervenções políticas acontecem na Educação. Cita o Japão como exemplo de país que investiu na Educação para se chegar ao desenvolvimento e o como o Brasil não fez o mesmo, ou seja, nunca teve a Educação como prioridade de suas políticas públicas. Fala da formação do professor e sua importância no processo de formação do conhecimento. Compara o professor de hoje com o de ontem, tempo em que era a principal fonte de informação dos alunos. Mostra seu novo papel em um universo de informações que todos têm acesso, especialmente o aluno. Defende, em sua opinião, da qual compartilho, que os investimentos do governo devem priorizar o ensino fundamental e não o superior. Aponta soluções para a melhoria da qualidade da Educação no Brasil.

Capítulo 7 - Brasil
Sobre o Brasil, o autor viaja por vários campos do conhecimento como a política, a economia, a cultura, etc. Em meio às informações e análise sobre o Brasil, faz uma relação entre o trabalho do historiador e do economista quanto à previsão de passado e futuro. Afirma que os historiadores - profetas do passado - às vezes acertam. Os economistas nunca. Continua sua análise sobre política, principalmente falando sobre o mensalão, impostos, poder público e privado. Dá exemplos de suas viagens e contatos com estudantes e cidadãos. É um otimista, pois acredita em um Brasil de Primeiro Mundo, isto após grandes transformações sociais para a formação do Estado-Nação brasileiro. Jaime Pinski é um historiador do cotidiano, é o que mostra os textos do livro, especialmente neste capítulo sobre o Brasil, pois fala de fatos noticiados na imprensa, e a partir daí faz sua análise histórica. Fala de futebol, de música, de religião, e mais ainda de política. Defende a ideia de uma sociedade brasileira cidadã, ou seja, participativa e consciente de seus direitos. Faz duras críticas à classe política sempre voltada para seus interesses pessoais, e nunca para uma prática visando a melhoria da população, como o voto deveria garantir. Mesmo nos partidos de esquerda não vê mudança desta postura, e para isto, apresenta exemplos históricos.

Capítulo 8 - Família
Neste último capítulo, o autor fala de sua vida a partir de sua infância no interior de São Paulo, mais especificamente em Sorocaba, de como adquiriu o hábito de leitura, e de sua família. Valoriza a ação de seus pais para o seu conhecimento da escrita, e do rigor literário exigido por seu pai e sua mãe. Fala também de sua origens, ou seja, da origem de sua família polonesa que se adaptou rapidamente ao nosso país e à cultura brasileira. Conta histórias interessantes de membros de sua família. E dá uma lição de como ser pai na família e na sociedade. Em sua pequena biografia traça uma trajetória de sua profissão de professor e historiador, e termina o livro afirmando: "A gente escreve mesmo é para ser lido..."

História do Regime Militar Brasileiro - Marcos Napolitano

 Livro 1964

História do Regime Militar Brasileiro
Marcos Napolitano


Este livro foi escrito no período de "comemoração" dos 50 anos de implantação do Regime Militar no Brasil entre 1964 e 1985. Nesta data muitas publicações chegaram ao público. Esta é mais uma de um professor da USP.

Logo na Apresentação o autor já informa algumas de suas posições quanto ao período: contesta a visão de Golpe Civil-Militar, alegando que quem detinha de fato o poder, eram os militares; defende a ideia de que o golpe não foi fruto da incompetência de João Goulart, mas que sua construção já vinha de períodos históricos anteriores, como a Era Vargas; analisa o Golpe Militar de forma global, ou seja, nos campos político, militar, social, econômico e cultural; não identifica a esquerda com a expansão do Comunismo no Brasil.

No primeiro capítulo o autor faz uma análise do Governo Goular de foma ampla com reflexões sobre sua origem e evolução até o golpe militar de 1964. Faz colocações sobre as visões dos historiadores sobre Jânio Quadros e João Goulart. Passa pela cultura através da música e cinema no período Goulart. Valoriza o governo Goulart quanto aos movimentos populares e de cultura, especialmente no Nordeste. Analisa de forma conjuntural as origens e organização do golpe ao governo Goulart, descartando o Presidente e sua prática administrativa como fatores de sua queda. Inclusive faz alguns elogios a sua pessoa e governo. Aprofunda as questões culturais no período. Destaca a ação da classe política em fins da década de 1950 e início da década de 1960. Também comenta sobre a formação e alianças dos partidos no período que antecedeu ao golpe militar de 1964.

No capítulo segundo, o autor mostra as articulações acontecidas no período do golpe de 1964. Relata as complexas relações de poder ocorridas no momento histórico, realçando tanto os movimentos da esquerda, mais afinadas com o governo, quanto as tramas da direita composta, principalmente pelos militares (não todos os militares), empresários, setores sindicais e até a ação do governo americano. Mesmo não concordando com a ideia de um combate ao Comunismo pelos setores de direita (mesmo que fosse um pretexto); afirma que o PCB (Partido Comunista Brasileiro), entendia a fase social do momento como uma transição para o Socialismo. Destaca os caminhos e descaminhos da busca pelo poder pelos setores de direita e de esquerda no Brasil na época do golpe militar de 64. Entra em detalhes sobre a ação do governo dos Estados Unidos em apoio aos líderes que buscavam derrubar o governo. Faz uma leve defesa de Goulart no comando do governo, afirmando que o golpe não foi apenas um erro de análise de conjuntura, mas uma trama que fazia parte da política da Guerra Fria desde a década de 1950 nos países da América Latina. Inclusive informa da preocupação americana com a situação camponesa do Nordeste; o que poderia, na visão do governo americano, levar a uma reprodução da revolução cubana no Brasil.

No terceiro capítulo, o autor  mostra como é falsa a ideia de alguns historiadores e até da imprensa dita de esquerda, como a Folha de São Paulo, de que os primeiros anos da Ditadura Civil-Militar foram de um governo com uma ditadura branda, inclusive sendo chamado o período de 1964 a 1968 de "ditabranda" pelo jornal. E para isto cita os primeiros Atos Institucionais que cassaram a maioria de presos políticos e representantes da oposição (consentida) durante todo o período dos governos militares. Mostra em detalhes os grupos que se digladiavam no combate e apoio ao governo militar, inclusive de líderes como Leonel Brizola, Adhemar de Barros, Lacerda, militares oposicionistas dentro das forças armadas e outros. Destaca a repressão aos movimentos estudantis e trabalhistas. Interessante notar como existiam militares dentro das Forças Armadas simpatizantes do Comunismo, além de oficiais chamados de linha-dura. O autor mostra com muitas informações como estes grupos se confrontavam e conviviam.

No quarto capítulo o autor analisa a posição dos militares em relação à cultura e aos artistas no período entre 1964 e 1968. Defende a ideia de que a cultura se desenvolveu na época pra dar uma falsa impressão aos artistas de uma vitória da esquerda com o golpe de 1964, inclusive porque a maioria da classe média fazia parte de quase toda a produção cultural da época, e o golpe se deu com o "apoio" desta classe. Analisa os movimentos culturais ocorridos na música, no teatro e no cinema. Entra em detalhes sobre o Movimento Tropicalista em sua "defesa" de uma cultura nacional. Mostra como as esquerdas eram divididas quanto aos seus projetos de "convivência" e derrubada do governo. Não vê as esquerdas com os mesmos ideais, principalmente em relação à luta armada. Vê o Comunismo como o elemento agregador do projeto cultural das esquerdas brasileiras desde a década de 1950, situação que continuou dominante nas décadas seguintes, principalmente nas Universidades.

No quinto capítulo o autor faz um relato factual com uma ótima análise do período mais violento da Ditadura Militar, mesmo que algumas questões fiquem sem respostas, devido à carência de informações mais consistentes. É interessante notar a isenção do autor ao informar, além das mortes de representantes da esquerda, também alguns do Regime Militar, que em sua opinião, fomentaram a ação repressora do sistema. Cita casos clássicos da ação da esquerda armada como o sequestro do embaixador americano, ataque a bancos e o roubo do cofre do Governador Adhemar de Barros, além da ação da guerrilha do Araguaia. Sobre a censura mostra que a mesma não foi uma invenção do Regime Militar, mas uma adoção de períodos anteriores, com a ápoca de Getúlio Vargas. Analisa a censura ao teatro, ao cinema, à música e imprensa, mesmo à grande imprensa que apoiou o golpe a Goulart.

No sexto capítulo o autor faz uma análise da política econômica dos governos militares (1964-1985). Destaca as melhorias ocorridas na área econômica, apesar do governo ter ampliado a participação do capital internacional na economia do país. Cita algumas obras ditas "faraônicas" que constituíram objeto de propaganda do ufanismo do governo, mas realça seu valor em alguns setores. Enumera benefícios criados pelo governo à sociedade brasileira como o PIS-PASEP, FGTS, BNH, Pro Rural, o Banco Central, etc. Destaca o papel de Delfim Neto no comando da economia como fator de equilíbrio das finanças do país. Faz ressalva quanto à questão das liberdades individuais e da situação de sofrimento da grande massa trabalhadora no período, principalmente por causa de uma inflação galopante que chegou a índices muito altos no final do governo. Mas quanto à situação de desigualdade social, afirma que a Nova República também não resolveu.

No sétimo capítulo o autor faz uma análise da cultura brasileira pós AI-5. E por seu trabalho de pesquisa e análise podemos percebemos que as atividades artísticas e culturais foram intensas no período, mesmo com a censura do governo. Detalhe importante de sua análise é a permanência do pensamento comunista dentro do Movimento Cultural de época, fator que, certamente acirrou o controle das atividades dos artistas, mas dando espaço para uma ampla participação da população nos eventos. Faz, o autor, uma lista dos artistas e suas obras, além do pensamento de cada um no espaço cultural. Reacendendo o pensamento de Gramsci sobre o papel da cultura na construção da sociedade socialista. Pela exposição do autor, percebe-se a importância do Regime Militar para a cultura brasileira, mesmo com a censura e repressão próprias do sistema. Observa-se pelo texto o surgimento de órgãos essenciais para a cultura brasileira surgidos no período que continuam atuando nos dias de hoje como a Embrafilme, surgida em 1969, e o Concine, em 1975. Mesmo a esquerda foi beneficiada por estes órgãos, tendo inclusive, o governo por sua política cultural, recebido o elogio de nomes como Glauber Rocha. Enfim, pelo relato do autor, o período foi o mais fértil em atividades culturais de nossa história com o surgimento de grandes nomes das artes musicais, teatrais, literárias e até de Movimentos Culturais.

No oitavo capítulo o autor mostra como a cultura e a intelectualidade brasileiras manifestaram seu descontentamento com as práticas políticas do novo governo, ainda em seu início. A literatura, a imprensa, a publicidade, o teatro, a música, foram espaços dessa insatisfação.Mas realça também os matizes desta contestação envolvendo vários segmentos chamados de "esquerdas". Cita partidos como o PCB, PC do B como espaços de contestação ao novo regime. Escritores como Antonio Callado, Loyola Brandão, fazendo críticas em seus livros, e também os grandes jornais como o Estado de São Paulo, a Folha de São Paulo e muitas revistas da época. Analisa o perfil de contestação de intelectuais e veículos de comunicação. Interessante notar como intelectuais que atuaram na rede Globo de televisão tinham posturas comunistas como Paulo Francis e Dias Gomes, sendo que a Globo sempre foi um reduto de direita. Fato que mudou radicalmente no governo, talvez resgatando sua origem de formação frágil de esquerda.

No nono capitulo o autor faz uma análise sobre o governo Geisel, o principal responsável pela abertura política do Regime Militar. Faz alguns questionamentos sobre este título dado a Geisel, principalmente pelo autoritarismo do Presidente e de atitudes tomadas pelo governo como o fechamento do Congresso por 15 dias, além das práticas comuns do regime militar como a censura à imprensa, a tortura, e a existência dos chamados "desaparecidos" no período. Analisa as tramas do governo e da oposição para as eleições na época. Mostra como os partidos (governo e oposição) estavam infiltrados de outras correntes políticas, como os comunistas, extrema direita militar, remanescentes das guerrilhas e da ALN. Cita casos de violências contra líderes civis,  o envolvimento da Igreja Católica e de instituições como a OAB e ABI na oposição ao regime.

No décimo capítulo do livro o autor mostra como logo após uma certa organização institucional do Regime Militar no governo Geisel, como queria o sistema, uma nova ameaça surgiu: o fortalecimento dos movimentos civis de combate à ditadura. E neste novo quadro surgem as ações da OAB, da CNBB, da ABI, além da volta dos movimentos estudantis com o ressurgimento da UNE, além dos movimentos sociais e religiosos da Igreja Católica, e logo após o movimento sindical. Esta gama de manifestações faz o governo repensar sua política repressiva e daí a tão sonhada revogação do AI-5. A classe política volta a se envolver neste novo quadro de resistência à ditadura, assim o MDB e a ARENA se posicionam e se misturam em sua ideologia de apoio e resistência ao governo.

No décimo primeiro capítulo - Tempos de caos e esperança -, o autor revela detalhes de uma época cheia de esperanças, apesar de vivermos ainda o caos social, político e econômico do Regime Militar. Uma abertura política se iniciava, mas com um pé atrás, pois sempre quando acontecia algum evento que incomodava o sistema, o governo reagia. Mas sempre ficava aquela esperança na classe política e na população em geral. Os movimentos sociais, a Igreja, as instituições democráticas passaram a respirar e tomar fôlego depois do início do governo Figueiredo que avançava e recuava na abertura. Quem viveu esta época como eu, lembra bem das tramas políticas da época, mesmo sem entender bem o que estava acontecendo nos bastidores. Nomes como Tancredo Neves, Maluf, Aureliano Chaves, ficaram bem na memória do período.

No último capítulo do livro o autor analisa as questões de memória e História do regime militar. Mostra como as visões sobre o regime político implantado em 1964 são diferentes a partir dos olhares dos diferentes atores envolvidos no momento histórico. Relata os projetos de resgate da verdade sobre o que realmente aconteceu durante a ditadura militar, implantados a partir do momento em que a esquerda assume o poder no Executivo Nacional, mais especificamente no governo Lula e Dilma. Analisa fatores emocionais, políticos e ideológicos envolvidos na busca da verdade histórica. Também mostra, mesmo que não explicitamente, que nenhum grupo de oposição tinha um projeto consolidado de tomada do poder em 1964, e fica implícito, que o grupo mais organizado, ou seja, os militares, tomaram a iniciativa do golpe diante da quase ausência de governo de Goulart, devido, principalmente à inércia do Congresso na votação dos projetos do governo. E termina com um pensamento de Jobim, que sintetiza toda a complexidade da História do Brasil: "O Brasil não é para principiantes."

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