sábado, 16 de outubro de 2021

Livro O Mensalão

 

O Mensalão

Marco Antonio Villa

Excelente livro que todo brasileiro deveria ler, pois é uma produção de um historiador renomado, e que sempre fez um trabalho sério de pesquisa em Universidades, e um trabalho jornalístico atuante na área política na televisão. Mas infelizmente nosso público leitor de boas obras é muito pequeno, a maioria prefere acompanhar as notícias nas informações e desinformações breves nas redes sociais, e daí surgem os famosos fake news que já definiram eleições, ou seja, meios técnicos de disseminar mentiras, as mais descaradas possíveis. Hoje, infelizmente não podemos acreditar em nada que se publica nas redes sociais. Precisamos verificar a veracidade de toda informação... é cansativo. As pessoas hoje estão brincando com coisa séria, como as relações interpessoais e políticas.

O livro é dividido em duas partes distintas: uma de acompanhamento do dia a dia de todo o processo do julgamento do Mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF), as acusações e defesa de cada juiz; mostra também em uma pequena parte as penas de cada condenado, além de uma lista dos inocentados; em uma pequena parte no final do livro faz a análise de todo o processo que começou a ser montado com uma ampla documentação a partir de 2005, sendo que o julgamento ocorreu em 2012.

É interessante notar que o autor em nenhum momento chama o processo de Mensalão do PT, como muitos o chamaram. Fato que caracteriza o papel do historiador, pois a corrupção aconteceu não só com o envolvimento de um único partido, mas de vários que constituíam a chamada base aliada do governo. Mas no final do livro, o autor faz um texto que descaracteriza o PT como o partido da ética e da defesa do povo, por ter liderado um esquema de corrupção nunca visto na história política do Brasil. Vale destacar este texto: "O julgamento do mensalão atingiu duramente o Partido dos Trabalhadores. As revelações acabaram por enterrar definitivamente o figurino construído ao longo de décadas de um partido ético, republicano e defensor dos pobres. Agora é possível entender as razões que tinham levado sua liderança a tentar, por todos os meios, impedir a realização do julgamento. Não queriam a publicização das práticas criminosas e das reuniões clandestinas, algumas delas ocorridas no interior do próprio Palácio do Planalto - caso único na história brasileira." (pág. 204). E estas reuniões começaram a ocorrer ainda em 2003, início do primeiro mandato do Presidente Lula.

Outra questão importante que o autor aponta é a dificuldade do PT em conviver com a democracia, pois o Presidente Lula, logo após a eclosão do escândalo, chegou a pedir desculpas ao povo brasileiro em rede nacional, e depois mudou de ideia afirmando que tudo era uma farsa, e que nunca tinha existido o mensalão. E até hoje continua com esta visão, apesar de todas as provas verbais e documentais da corrupção, e da condenação dos réus, inclusive de seu alto escalão. Inclusive na última eleição presidencial, em 2018, um repórter de televisão perguntou ao candidato do PT porque eles nunca assumem seus erros, e o mesmo desconversou. O partido tenta obscurecer os erros, e realçar os acertos, mesmo que estes últimos venham acompanhados de novos deslizes. E sobre o Socialismo que tanto defenderam, hoje evitam até sua memória, mas falam mal do Capitalismo o tempo todo. Capitalismo que deu a oportunidade da efetiva prática de corrupção pelo partido.

O autor revela como vários depoentes afirmam que o Mensalão não foi apenas um projeto para garantir apoio parlamentar ao governo, mas foi um mecanismo criado com o objetivo principal de fazer o PT eternizar no poder, em outras palavras, impor uma ditadura de esquerda no país através do apoio irrestrito ao partido. Esta ideia foi reafirmada pelo Juiz Gilmar Mendes de forma categórica. O autor também mostra que os poderosos se interessam em participar do governo, e não fazer oposição. Isto vale também para o PT, pois mesmo que tenha sua natureza de oposição, o poder lhe corrompeu. Quando o PT assumiu o poder encheu o Palácio do Planalto de intelectuais - que desistiram logo -, e de empresários, esquecendo aqueles que realmente o elegeu - que chamavam carinhosamente de base. Mas a história ensina: uma casa sem base não fica de pé. Com os governos acontece a mesma coisa. Uma frase do autor ilustra bem o espírito dos poderosos: "Feio não é violar a lei, mas perder uma eleição, estar distante do governo.". Por isso, para as oposições vale tudo para combater os governos eleitos democraticamente.

Acho que faltou ao autor acrescentar no final do livro documentos assinados pelos condenados, para dar maior credibilidade à pesquisa, mesmo que tenha inserido várias denúncias dos réus por escrito sobre o processo de corrupção no julgamento, e das palavras do juízes. Abaixo anexei textos da Revista ISTOÉ, tradicionalmente de esquerda, sobre a documentação arrolada para o julgamento que aconteceu em 2012. A revista é de 2010, quando já tinha sido reunido todo o material documental para o julgamento (Revista ISTOÉ, número 2103, Ano 34, 3 MAR/2010).










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