domingo, 7 de fevereiro de 2021

A Busca da História - John Tosh

 



Livro A Busca da História
John Tosh

Prefácio
No prefácio, o autor dá uma visão geral do livro, inclusive resumindo cada capítulo que compõe a obra. É uma obra essencial para os estudantes do curso de História no momento atual, pois trabalha a teoria da História, matéria que faz parte do currículo das universidades, e que constitui conteúdo essencial para professores e historiadores. No prefácio, já dá o conceito de história que irá trabalhar no livro, ou seja, a

Capítulo 1 - A consciência histórica
No capítulo 1, o autor faz uma boa explanação sobre o conceito de consciência história, mostrando que a mesma é construída através da interpretação dos fatos  históricos, e não apenas da memória popular.  Mostra a relação história/memória, e para isto utiliza muitos exemplos. Denuncia o uso apenas da memória em benefício da formação da consciência nacional, que na maioria dos casos não leva a sério a pesquisa histórica. Enfim, mesmo que no início do capítulo afirma que é: "... a abordagem mais disciplinada sobre o passado que caracteriza a consciência da história.". Relata sobre os historiadores que trabalharam a questão da consciência histórica, mesmo sem este rótulo, como os historicistas, Voltaire e os iluministas, que propagavam uma história da evolução do progresso humano, "desvalorizando" os tempos passados. É um texto detalhista, mas sem ser uma leitura cansativa.

Capítulo 2 - Os usos da história
Neste capítulo, o autor faz uma evolução do pensamento de alguns historiadores sobre os usos da história, principalmente os historicistas e marxistas. A seguir comenta sobre os usos  da história em eventos históricos tradicionais como a Revolução Francesa e as Guerras Municipais, entre outros. Dois textos abaixo são significativos sobre os usos da história:

(p. 46)

(p. 63)
Interessante notar à página 63, como o papel do historiador e da disciplina são simples, e no entanto, os teóricos da história complicam tanto sua explicação. Só posso perceber isso como um academicismo desnecessário para estudantes universitários. Mesmo que o texto tenha partes com explicações fáceis e simples, o conjunto da obra é complicado, portanto não atinge a um público leigo. É certo que algumas notas atingem este tipo de público, mas fica difícil a compreensão no conjunto.

Capítulo 3 - Mapeando o campo
Este capítulo possui uma leitura de fácil compreensão, pois faz uma narrativa dos novos campos de pesquisa da história e de algumas escolas históricas como o marxismo e os Annales. O texto é claro e de fácil entendimento. Mostra como os campos de pesquisa da História se ampliaram a partir da História Política dominante no século XIX. A partir daí passa pela história social, história do trabalho e a história desde abaixo, histórica econômica, história da religião, história mundial, história local, micro-história e história total. Sempre dando exemplos de obras e autores, característica que facilita o entendimento. Suas notas são esclarecedoras do assunto. Pratica quase um texto de livro didático com textos complementares no final.

Capítulo 4 - As matérias-primas
Neste capítulo, o autor faz um estudo detalhado sobre as fontes utilizadas pelos historiadores para a produção historiográfica, ou seja, os livros de história. Mostra a diferença entre as fontes primárias e as secundárias, sendo as primárias aquelas primeiras fontes, sejam escritas ou não; e as secundárias geralmente são os livros de história já publicados. Dá muitos exemplos destas fontes, como uma forma de enriquecimento e compreensão do texto. Mostra como aumentou muito o leque das fontes pesquisadas pelos historiadores, inclusive chegando até a internet, onde existe uma imensa área de pesquisa, inclusive com a digitalização de livros antigos, antes de difícil acesso aos pesquisadores.  Salienta que a principal fonte utilizada pelos historiadores é a escrita. Enfim, um texto ótimo de se ler e entender.

Capitulo 5 - Utilizando as fontes
método histórico é trabalhado neste capítulo com detalhes, por exemplo, a crítica externa, ou seja, o julgamento da autenticidade da fonte ou documento; a crítica interna, ou a interpretação do conteúdo do documento; e o estudo do contexto da pesquisa. É um capítulo muito prático e útil para o trabalho do historiador, e novamente utiliza amplamente exemplos para facilitar a compreensão do texto. No início do capítulo, e também de todos os outros, faz um pequeno resumo do texto a ser estudado, escolha que dá uma breve introdução ao material a ser estudado. No final sempre coloca textos complementares, é um historiador e professor por seu método de ensino e escrita.

Capítulo 6 - Escrevendo e interpretando
Este é um capítulo com muitas informações úteis para a escrita dos historiadores. Questiona se os historiadores devem escrever suas obras, ou apenas fazer a pesquisa de documentos. Mostra os tipos de redação dos historiadores, especialmente a narrativa, e sua evolução ao longo do tempo, ou seja, desde os primeiros historiadores do século XIX.  Trabalha a questão das causas e consequências no estudo histórico, tema ausente na maioria dos estudos atuais. Destaca a importância da História Comparada e valoriza a redação e a experiência de vida do historiador na produção historiográfica.

Capítulo 7 - Os limites do conhecimento histórico
O autor, neste capítulo, desenvolve temas importantes para a História e o Historiador. A questão da credibilidade do conhecimento histórico. A cientificidade da História. A questão das fontes primárias. As críticas à "ciência" histórica, mostrando que a ciência histórica não é como as ciências naturais. Analisa o pensamento dos pós-modernistas sobre a importância da literatura para os estudos históricos.  E a todas as questões responde em defesa da História. Acho importante esta postura do historiador. Coloca sobre a questão das escolhas do historiador para sua produção histórica, ou seja, nem tudo é objeto de estudo histórico. Mostra também que todo conhecimento histórico é incompleto, mas é o mais perto da realidade do passado. E que sem a história não compreenderemos o presente. Daí, talvez, sua maior importância. Trabalha também sobre o contexto histórico como a superação do conhecimento das fontes primárias, principalmente dos documentos escritos, situação contestada pelos pós-modernos, alegando a insuficiência da decifração dos documentos antigos pela literatura.

Capítulo 8 - História e teoria social
Neste capítulo, o autor trabalha um texto longo sobre teoria da história, e também sobre a teoria marxista. O texto é bem detalhista. Defende a teoria marxista como uma boa base para a produção historiográfica, sem contudo, se declarar um historiador marxista. O que pude perceber pelo estudo é que a história necessita de teorias, mas que não existe uma única teoria da história para pesquisas, e que estas teorias se materializam no estudo do contexto histórico e nas fontes. Afirma também que hoje há um domínio de uma teoria social e cultural, em oposição a uma teoria econômica.

Capítulo 9 - A evidência cultural e a virada cultural
Neste capítulo, meu comentário vai copiar a introdução do autor que dá uma boa síntese do capítulo:"Enquanto as teorias sociais discutidas no capítulo anterior focam na estrutura, mudança e labor, a teoria cultural dá atenção ao significado e à representação. Sua influência é evidente hoje na história cultural que desfruta de grande destaque. Em alguma medida, a história cultural vale-se do bem estabelecido campo da história da arte (e também da história do filme). Mas sua abordagem sobre questões de sentido é muito mais fortemente influenciada pela teoria da literatura e pela antropologia. O capítulo termina com uma avaliação do presente estado da história à luz do que veio a ser chamada de virada cultural.". O que podemos notar também, é que existe um modismo de "tipos" de história ao longo do tempo, pois hoje, a história social, antes tão valorizada, é criticada, em oposição à história cultural. Até quando esta será valorizada? Ah! Já temos os historiadores pós-modernos, tratados em capítulo anteriores. No final do capítulo, o autor mostra, objetivamente, como estas várias "histórias" terminam acrescentando elementos à história que se pratica desde sua origem, mas não muda o jeito de se fazer a pesquisa histórica: "A maior parte da profissão está pouco inclinada a ver a abrangência de seu trabalho ser limitada às dimensões indeterminadas do discurso, e isso serve também para a maioria dos historiadores culturais." (p.261-262).

Capítulo 10 - A História do gênero e a história pós-colonial
O autor faz um pequeno resgate da história das mulheres dando ênfase à presença da mulher e sua opressão ao longo do tempo, e para isto cita obras importantes nesta área. Coloca a história das mulheres dentro da história tradicional, como faço em meu livro "A Mulher na História" (2015). Em meu livro não trato da questão de gênero, mas  apenas da participação da mulher na história, fato que foi neglicenciado pela historiografia por muito tempo. O autor, neste capítulo, faz uma boa análise da questão de gênero e sua relação com a história marxista. Realça que a história hoje não pode prescindir da história da mulher. E no final fala da história pós-colonial, ou seja, aquela que busca a compreensão dos povos colonizados pelos europeus até o século XIX. Analisa as produções históricas nesta área, principalmente estudos dos povos africanos e do chamado Terceiro Mundo, como a América e nações orientais.

Capítulo 11 - Memória e oralidade
Neste último capítulo o autor trabalha as questões da memória e da chamada história oral. É relevante e detalhista nas vantagens e limites da oralidade. Mostra sua importância para a história pós-moderna. Mostra que a pesquisa oral é mais uma fonte de pesquisa para a história social. Destaca como a memória está ligada ao estudo histórico, sendo essencial para a compreensão histórica. Novamente mostra muitos exemplos de pesquisas publicadas sobre a história oral, e opiniões de historiadores influentes. Afirma que a história oral não é uma nova história, mas um método de pesquisa em história.

Conclusão
Em conclusão faz um breve comentário de temas tratados no livro e esboça uma tentativa de conceituação da história, afirmando que a mesma não se adapta ao esquema de cientificidade das outras ciências, sendo enfim, um misto de arte e ciência do conhecimento. Aponta o futuro da disciplina, confirmado os novos campos de pesquisa histórica. Vê a história atual com dificuldades para se alcançar um grande público, mas não desanima a partir das novas produções historiográficas. É um historiador otimista com a disciplina. É empolgante quando fala da história. Um ótimo livro para professores de História e Historiadores. Não para o público leigo.

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