domingo, 7 de fevereiro de 2021

Maravilhas do Mundo Antigo - Cynthia Morais

 Livro Maravilhas do Mundo Antigo 

 Heródoto, Pai da História?
Cynthia Morais

Introdução
Na Introdução a autora mostra que o livro tem sua origem em uma tese de Mestrado em História na UFMG, consequentemente trabalha com muita teoria para sua elaboração, pois é uma produção acadêmica. Por ser uma introdução, já começa com boa parte do conteúdo do livro. É uma introdução longa para dar uma visão geral do assunto estudado. Cita vários autores para justificar seu embasamento teórico. Mostra sua defesa, ou seja, a compreensão do "maravilhoso" na obra de Heródoto. Enumera e analisa levemente as críticas à obra História de Heródoto e seu resgate a partir do final do século XIX. Compara a obra de Heródoto com outros historiadores da Antiguidade, especialmente com Tucídides. Trata amplamente a questão da linguagem na pesquisa de Heródoto, entre outras questões.

Parte 1 - O Maravilhoso antes de Heródoto
               Capítulo 1 - Mito, História e os viajantes gregos
Neste capítulo a autora mostra como o "maravilhoso" se manifesta nas obras dos historiadores, mesmo Tucídides, e dos viajantes gregos. Destaca que os mitos estavam impregnados na cultura grega no tempo de Heródoto, pois mesmo que os historiadores duvidassem destes mitos, ainda tinham alguma crença nos mesmos. Relaciona a historiografia grega com a poesia de Homero e outros poetas, identificando a origem da História com as epopeias, pois estas contavam as histórias dos heróis e deuses gregos, como em Homero e Hesíodo, por exemplo, antes de Heródoto. Volta a questionar o uso do "maravilhoso" em Tucídides e Homero, principalmente.

Parte 2 - A presença do maravilhoso nas Histórias
                Capítulo I - OS LUGARES
Neste capítulo a autora acompanha Heródoto em suas viagens para as várias regiões de sua narração, reflexão e pesquisa. Começa pelo Egito, parte do mundo em que os gregos de seu tempo tinham verdadeira admiração pelo comércio e pelo estudo. Heródoto faz pesquisas nas obras, costumes e grandes realizações egípcias. Tenta, com seu grande conhecimento, explicar os "mistérios" da grandiosidade das produções egípcias, e para isto, colhe informações de pessoas do lugar, mas sempre fazendo sua crítica pessoal, para se chegar ao que é verdadeiro ou invenção do povo. O texto abaixo, mostra o seu método de investigação e sua relação com os outros pesquisadores de seu tempo, e também com a poesia de Homero.


É interessante notar como a autora ao colocar sobre a veracidade dos fatos narrados por Heródoto, logo a seguir coloca uma confirmação da informação por outro historiador e por descobertas da arqueologia (texto abaixo). Sobre os Persas faz um longo estudo, inclusive entrando na questão da discussão sobre os regimes políticos, e revelando um Heródoto defensor da Democracia. Muito importante sua informação sobre a divisão dos governos em Monarquia, Oligarquia e Democracia, tendo como primeira fonte as Histórias de Heródoto, dentro da literatura grega (texto abaixo).



Continuando o estudo sobre os persas destaca suas riquezas, principalmente como suas obras eram repletas de ouro. Revela a visão de líderes da época sobra a possível derrota persa durante o conflito sobre os gregos, e para isto narra fatos relacionados a coisas "maravilhosas" como as previsões em sonhos, e no final um comandante grego admira-se da qualidade de vida deste povo e como pôde se arriscar a perdê-lo, sempre utilizando, a autora, de textos de Heródoto. Mostra a tradição do rito do substituto do rei em casos de eminente guerra.
              

          Capítulo II - OS ANIMAIS
O capítulo dois é dedicado aos vários animais existentes nas regiões objeto de estudo e pesquisa de Heródoto. Mostra não só o conhecimento físico e de sua evolução ao longo do tempo nas várias regiões, mas também sua relação com vida da população e de seus governantes, especialmente enquanto fator de mistificação, ou seja, como elemento determinante de ações humanas, tendo como base o comportamento de animais, e para isto cita outras fontes, como a Bíblia (Gênesis). É interessante notar como a autora vê Heródoto como um pesquisador, veja texto abaixo.


          Capítulo III - ACONTECIMENTOS EXTRAORDINÁRIOS
As histórias extraordinárias em Homero tem sempre uma lição moral para os envolvimentos nos eventos, e certamente para seus leitores. Conta fatos misteriosos que muitas vezes não têm comprovação histórica, mas exercem influências nas ações humanas dos governantes, principalmente. Para compreender o pensamento de Heródoto em suas histórias extraordinárias, a autora, ao final do capítulo afirma: "Tendo ou não as tendo dito, parecem elas mais terem saído da própria boca de Heródoto, do que efetivamente de Ciro." (p.126). Vejo nestas passagens uma preocupação com a educação do povo leitor, que infelizmente sempre foi reduzido. Os infortúnios, certamente levam a uma preocupação maior com uma mudança de postura da população em suas decisões - isto é educar.

          Capítulo IV - AS MULHERES
As mulheres neste capítulo são valorizadas como conselheiras de reis e guerreiras. Heródoto vê as mulheres enquanto adotam posturas masculinas, e não com as características próprias das mulheres como beleza, sensibilidade, carinho, maternidade, etc. Cita um caso em que a sensualidade feminina é fator de decisão política, ou seja, do domínio de um reino. Mas não deixa de valorizar a participação da mulher fora do lar em um tempo em que a mesma era enclausurada na família, a não ser em cerimônias religiosas, situação dominante em toda a Antiguidade.

Parte 3 - Discutindo o maravilhoso: algumas considerações teóricas
          Capítulo 1 - O maravilhoso como fenômeno de longa duração      
Neste capítulo a autora fala dos fenômenos chamados de maravilhosos, ou seja, aqueles de difícil ou impossível explicação na obra de Heródoto e de outros autores da Antiguidade e na Idade Média que pode ser uma extensão desta visão para além de seu ambiente de origem. Interessante notar como a autora destaca o respeito de Heródoto pelos costumes estrangeiros e o receio de falar sobre os fatos religiosos dos povos pesquisados - um posição peculiar de historiadores profissionais. Compara o trabalho de Heródoto com o de Marco Polo, os dois desacreditados no princípio e resgatados posteriormente pelas descobertas históricas.

          Capítulo 2 - As descobertas da Época Moderna e as crenças da Antiguidade: Heródoto revisitado
Os Tempos Modernos fizeram renascer o valor de Heródoto, pois as narrativas dos navegantes e de escritores resgatam a visão das "maravilhas" narradas pelo Pai da História. E mesmo Marco Polo faz parte desse conjunto de fenômenos anormais registrados em suas viagens. A autora destaca o valor religioso dos navegantes dos Séculos XV e XVI, pois enfrentavam perigos em nome da busca de riquezas, principalmente o ouro, mas tinham muito mais uma visão do maravilhoso, como o Paraíso Terrestre e a expansão do cristianismo. Inclusive, conforme opinião de um escritor, Colombo nunca foi moderno, pois continuava com uma visão de mundo da Antiguidade e da Idade Média, o que é confirmado em seus relatos de viagem.

            Capítulo 3 - O maravilhoso como forma de compreensão das Histórias
Agora a autora aprofunda a questão do maravilhoso na obra de Heródoto. Mostra como o mesmo era uma forma de se compreender os fatos narrados e espelho da realidade vivenciada pelos povos vizinhos da Grécia e de Atenas. Analisa as críticas feitas por outros escritores antigos à obra herodotiana, principalmente por parte de Plutarco, que buscava muito mais em resgatar os valores dos gregos, quando os mesmos eram questionados por Heródoto. Os elogios a Heródoto são muitos no capítulo. Veja trechos abaixo (p. 165, 172).




             Capítulo 4 - O thaumázein como processo de aquisição do do conhecimento: o filósofo e o historiador
Neste capítulo a autora expõe com clareza a questão do maravilhoso como processo de busca do conhecimento de uma realidade, caminho percorrido por todos os escritores gregos do século V a.C., tanto os historiadores quanto os filósofos e poetas. Mostra a liberdade existente no trabalho do historiador no período, pois o mesmo não estava ligado a nenhum governo e líder político, pois a história era uma atividade intelectual iniciante, portanto poderia falar mal ou bem de qualquer um. Ao final mostra como o maravilhoso está ligado à atividade do historiador em todos os tempos para se chegar à verdade, mesmo que de forma parcial, prática comum, inclusive dos historiadores atuais, pois os mesmos devem maravilhar-se para buscar o conhecimento. O texto abaixo é significativo sobre a prática dos historiadores de todos os tempos.

Consideração finais
No final, em um breve texto, faz um resumo claro do livro, e quase uma apologia de Heródoto como historiador, (p.81, texto abaixo). Não entendi a razão do título do livro constar "Heródoto, Pai da História?", pois em nenhum momento a autora faz este questionamento. Durante todo o livro, Heródoto não tem concorrente para o título de Pai da História. O texto todo trabalha bem a questão do maravilhoso no livro de Heródoto e em outros autores. Neste ponto atingiu o objetivo. É um texto fácil de se ler pela escrita leve da autora em um assunto teórico. Para o conhecimento da obra de Heródoto é um excelente livro. Na página 187 a autora coloca o texto original de Cícero que afirma que Heródoto é o Pai da História, mesmo que fale de fábulas em sua obra, afirmativa que provocou questionamentos sobre a historicidade da História de Heródoto, hoje superada totalmente (texto abaixo).



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagem em destaque

O Livro Negro do Comunismo - Vários Historiadores

Introdução Só pela leitura dos textos das capas e orelhas do livro já deixa claro o sonho desfeito e o terror implantado pela Revolução de 1...

Postagens mais visitadas