domingo, 7 de fevereiro de 2021

Retrato Histórico de Nova Viçosa - Jean Albuquerque

 Livro Retrato Histórico de Nova Viçosa - Bahia (Resenha ampliada)

Jean Albuquerque



Livro essencial para se conhecer a História de Nova Viçosa - Bahia. Aqui você encontra a História de Nova Viçosa desde sua origem, ainda no século XVIII, percorrendo os caminhos de sua emancipação, e as realizações na cidade até o início do terceiro milênio. 

Valoriza a ação de seus pioneiros na construção e formação social, cultural, econômica e política da cidade. 

Uma das características marcantes do livro é a utilização de documentos oficiais da história da cidade, portanto é uma história documental, o que dá credibilidade à história pesquisada. A autora é uma amante da cidade por ser moradora e médica do local por quase quarenta anos, logo é grande conhecedora de sua realidade social e cultural. Sua história é, acima de tudo, o testemunho de alguém com profunda identificação com a história da cidade.


O livro Retrato Histórico de Nova Viçosa-Bahia faz um resgate da história da cidade desde sua origem até a data de sua publicação; de forma objetiva e de fácil leitura. Mostra com clareza e de maneira didática os caminhos percorridos pelos pioneiros na construção da cidade, passando por autoridades e pessoas comuns que se destacaram com sua ação e presença na permanente luta do homem para construir um lugar bom pra se viver.

A historiadora, pioneira na arte ou ciência de se escrever história no município, valoriza a cidade por seus elementos humanos e naturais, mas não deixa de fazer alguns questionamentos sobre seus problemas sociais e econômicos. É atenta aos obstáculos que levaram a cidade a um desenvolvimento lento em relação às outras municipalidades da região sul da Bahia.

A autora preenche uma lacuna importante na historiografia da cidade e região sul da Bahia. É uma pesquisa inédita sobre a história da cidade e de sua gente.

Ponto essencial na metodologia de pesquisa da autora é a utilização de ampla documentação sobre os fatos ocorridos na cidade, seja oficial ou não; mas sempre fontes confiáveis e verídicas. Esta documentação legitima as informações históricas do livro, como se faz no campo da historiografia desde os tempos mais primitivos.

Também utiliza de casos ocorridos nos costumes da gente da cidade, valorizando o saber e o conhecimento do povo, muitas vezes abandonados pela historiografia tradicional. Fontes imprescindíveis em uma História Regional e Local, assim como os relatos orais.

Nota-se, pelo texto, a extensa pesquisa realizada pela autora, na busca de fontes confiáveis para justificar suas informações sobre o município.  Apesar de ser médica de carreira, torna-se uma autêntica historiadora por esta prática e obra.

As imagens fotográficas escolhidas realçam bem a intenção da obra em bem informar sobre a evolução histórica da cidade, utilizando fontes históricas alternativas como as fotografias antigas.

Contextualiza a História de Nova Viçosa com a História do Brasil, especificamente em relação à produção do café no país e nos períodos de nossa História como a Independência do Brasil, a Abolição da Escravatura, a República Velha, etc.; e com a História Universal ao retratar a invasão de Napoleão Bonaparte a Portugal, provocando a Vinda da Família Real Portuguesa para o Brasil, e sua conseguente vinda de europeus para a região do sul da Bahia.

Destaca fatos pouco conhecidos da população como a criação da Estrada de Ferro Bahia e Minas que unia o território de Nova Viçosa com parte do território de Minas Gerais, como Teófilo Otoni; fator de incremento do comércio entre os centros produtores e consumidores da região.

Enumera os vários projetos econômicos e culturais criados para a melhoria da cidade e suas razões de fracasso ou sucesso.

Faz uma evolução documental administrativa do município de Nova Viçosa desde sua origem ainda no Período Colonial, no ciclo do ouro, até sua emancipação em 1962.

A publicação desta obra pela autora revela um intenso amor que foi cultivado na convivência com o espaço geográfico do lugar e nas relações interpessoais com a comunidade local.

Durante todo o texto do livro percebe-se a tentativa de valorizar a cidade com o que ela tem de melhor, contrariando uma cultura nacional de desvalorizar nossa terra e aclamar locais distantes de nossa realidade, inclusive de outros países do mundo.

É uma obra de paixão por um lugar; concretizada na intensa relação de amor com a cidade e sua gente, mesmo não sendo natural do município, o que valoriza ainda mais sua relação de intimidade com a localidade.

Lendo as páginas do livro sente-se a leveza da escrita da autora, aliada a uma sensação de certeza na informação, e um carinhoso tocar de mãos na caminhada por uma estrada distante, e ao mesmo tempo, tão presente na vida de cada cidadão desta cidade cheia de magia, que contagia o visitante de imediato, e ao morador antigo no cotidiano que fascina o coração e a alma.

É um retrato fiel e comprometido da História de Nova Viçosa, pois tem como “fotógrafa” uma historiadora que dedicou a maior parte de sua vida na construção de uma cidade melhor pra se viver, através de sua presença e ação na área da saúde.

É uma História Regional e Local com características de uma História Global, pois trabalha todos os aspectos que compõem uma cidade: políticos, econômicos, sociais, culturais e religiosos. Poderia ser utilizada nas escolas para o estudo de História Regional, exigência atual no trabalho dos professores de História.

É uma obra essencial para o conhecimento da cidade por parte de todo o cidadão e visitante. Leitura obrigatória para todo amante da cidade.

Faltou uma biografia da autora, fato que mostraria sua história de vida em benefício da cidade. Sua história de vida revela sua presença na construção do município e na escrita de sua evolução histórica. O livro é uma homenagem à cidade e uma dívida do município com a autora.



Cronologia da História de Nova Viçosa baseada no livro Retrato Histórico de Nova Viçosa

1720 - João Domingos Monteiro, junto com outros portugueses vindos da Vila de Caravelas, fundam uma pequena povoação na foz do Rio Peruípe, a qual dão o nome de Campinho do Peruípe. No local já existia uma aldeia indígena. Na praça das primeiras habitações foi construída uma tosca capela dedicada a N. S. da Conceição.

1763 - Chega à Capitania de Porto Seguro, na qual figurava a povoação de Campinho do Peruípe, o primeiro Ouvidor, Thomé Couceiro de Abreu, nomeado pelo rei de Portugal para administrar a Capitania. Este primeiro Ouvidor ao mandar notícias para Portugal, chama o lugarejo de Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Peruípe. 

1767 - Chega à Capitania, o segundo Ouvidor, José Xavier Machado Monteiro, depois da morte do primeiro Ouvidor. O segundo Ouvidor tem a missão de acalmar os índios e fundar novas vilas no litoral para garantir a posse da terra ao Reino de Portugal.

1768 - Fundação da Vila Viçosa e do pelourinho, em 23 de outubro, pelo Ouvidor José Xavier Machado Monteiro, depois da solicitação de autoridades do local, pois ficava difícil o comparecimento de vereadores ou juízes do local na Vila de Caravelas, sede administrativa do povoado, para o cumprimento de seus deveres, pois a viagem era longa e penosa. O nome Vila Viçosa foi uma homenagem à notável e histórica Vila do Distrito de Évora, no Alto Alentejo, em Portugal. Era comum dar nomes de locais portugueses a regiões emancipada no Brasil-Colônia.

1769 - Em setembro de 1769 (as fortes chuvas do ano anterior impediram estre trabalho) é feita a demarcação territorial do município, conforme as normas e equipamentos apropriados da época.

1786 - O café foi introduzido no Brasil em 1727, por Francisco de Melo Palheta, e teve o seu plantio disseminado pelo Amazonas e Maranhão, mas sem sucesso. Em 1760 chega ao Rio de Janeiro,  e em 1786 à Bahia. O primeiro município do Estado a plantar o precioso grão foi o de Vila Viçosa.

1815 - Chegada do príncipe alemão, Maximiliano de Wied, naturalista que trabalhou nas regiões de Vila Viçosa e Caravelas. Ao voltar para o seu país, o príncipe passa o resto de sua vida classificando o material que havia recolhido no Brasil. Foi um naturalista reconhecido em todo o mundo por seu excelente trabalho de pesquisa.

1818 - Início da instalação de estrangeiros em Vila Viçosa, devido à nova política imperial de abertura dos portos brasileiros às nações amigas, em 1808. O sul e extremo sul da Bahia são alvos da imigração de estrangeiros, principalmente de europeus.  Alemães e suíços fundam, às margens do Rio Peruípe, a Colônia Leopoldina - uma homenagem à Princesa Leopoldina, arquiduquesa da Áustria, que havia se casado com D.Pedro I. Esta Colônia foi a origem do Distrito de Helvécia (Helvécia é um outro nome para Suíça).

1834 - Início das aulas de primeiras letras para a infância em Vila Viçosa.

1852 - Decadência econômica da Vila Viçosa por falta de investimentos do governo e dos muitos problemas ambientais e humanos do lugar.

1859 - Auge do desenvolvimento agrícola e comercial da Vila Viçosa devido à grande produção cafeeira.

1882 - Inauguração da Estrada de Ferro Bahia e Minas ligando os centros produtores de Minas Gerais ao litoral da Bahia, especialmente entre Teófilo Otoni e Caravelas.

1931 - O município de Vila Viçosa foi anexado ao município de Mucuri, virando Distrito desta cidade. Ninguém quis assumir a administração depois das revoltas de 1930 no lugar, por isto perdeu sua autonomia. As revoltas de 1930 ocorreram devido à chamada Revolução de 1930 comandada por Getúlio Vargas. Estas revoltas aconteceram em vários Estados do país.

1943/1944 - O Distrito de Viçosa muda seu nome para Marobá, por decreto-lei estadual.

1950 - No início da década começa produção de madeira compensada da fábrica Elecunha, atividade que dá um novo impulso econômico para a região.

1953 - Pela Lei Estadual 628 de 30 de dezembro de 1953, o Distrito de Marobá passa a se chamar Nova Viçosa.

1962 - Emancipação ou Restauração do Distrito de Nova Viçosa, transformando-se na atual cidade de Nova Viçosa, desmembrado do município de Mucuri, pela Lei nº 1751 de 27 de julho de 1962*. A eleição para Prefeito e Vereadores do Município de Nova Viçosa se realizou em 7 de outubro de 1962, e a instalação do município e posse dos eleitos  ocorreu em 7 de abril de 1963. O fator determinante de sua emancipação foi seu desenvolvimento econômico, resultado da produção madeireira da empresa Elecunha.

1971 - Início do Projeto Cultural Centro Vivencial de Nova Viçosa criado por José Zanini e F. Kracjberb - empreendimento ambicioso que não atingiu seu objetivo de uma mudança radical na cultura da cidade. 

*  A Lei de Emancipação ou Restauração política de Nova Viçosa, afirma seu desligamento dos municípios de Mucuri e Caravelas, porque o novo município passa a ser composto dos territórios integrais dos distritos de Nova Viçosa e Helvécia e parte dos territórios de Argolo e Mucuri (desmembrados de Mucuri) e do território de Ponta de Areia (desmembrado de Caravelas).





Informações Gerais

Área territorial: 1.317, 390 Km2
Emancipação política: 27 de julho de 1962
Comemoração do aniversário da cidade: 23 de outubro (data da fundação da Vila Viçosa em 1768/9)
Padroeira: Nossa Senhora Imaculada Conceição
População: 44.052 hab - estimativa pelo IBGE em 2017 - há um predomínio da população urbana.
Clima: Tropical Litorâneo Úmido
Temperatura Média: 24,3 º
Média anual de umidade relativa do ar: 87,1 % 
Altitude: 11 metros
Coordenadas Geográficas: Latitude: 17º 53' 31" S; Longitude: 39º 22' 19" W
Principais rios: Marobá, Pau Alto e Peruípe 
Vegetação: Remanescentes da Mata Atlântica, plantação de eucaliptos e vegetação litorânea
PIB per capita - (IBGE/2008) - R$ 6.216,58
Economia: Predominam as atividades pesqueiras, turismo e o comércio
Limites: Sul: limita-se com a cidade de Mucuri.
               Norte: Limita-se com o município de Caravelas.
               Oeste: Limita-se com a cidade Ibirapuã.
               Leste: Limita-se a Leste com o Oceano Atlântico.

Evolução Político-Administrativa da cidade
1748 - Distrito criado com a denominação de Viçosa.
1768 - Elevação à categoria de Vila com o mesmo nome de Viçosa.
1911 - O município é constituído de 2 dois distritos: Viçosa e Colônia Leopoldina.
1931 - É extinto o município de Viçosa, passando o mesmo a Distrito de Mucuri.
1943/4 - O Distrito de Viçosa passa a ser chamado de Marobá - nome de um rio da região.
1953 - O Distrito de Marobá passou a se chamar Nova Viçosa.
1962 - Em 27 de julho o Distrito emancipa-se de Mucuri e Caravelas, constituído-se de 3 distritos: Nova Viçosa, Argolo e Helvécia.
1997 - É criado o Distrito de Posto da Mata.

Prefeitos na História Política de Nova Viçosa - a partir da emancipação em 1962

Mário Peixoto Rosa - 7 de abril de 1963 a 6 de abril de 1967
Valdomiro Alves de Jesus - 7 de abril de 1967 a 31 de janeiro de 1971
Mário Peixoto Rosa - 1º de janeiro de 1971 a 20 de dezembro de 1971*
Tanus Correia - 21 de dezembro de 1971 a 31 de janeiro de 1973
Abrahão Soares Pereira - 31 de janeiro de 1973 a 31 de janeiro de 1977
Theones Soares da Fonseca - 1º fevereiro de 1977 a 31 de dezembro de 1982
Teodório Cardoso - 1º de janeiro de 1983 a 20 de junho de 1985*
Aílton Marques de Souza - 20 de junho de 1985 a 31 de dezembro de 1988
Fernando Rosa - 1989 - 1992
Antônio Odilair de Carvalho - 1993 - 1996
Manoel Costa Almeida - 1997 a 2000
Manoel Costa Almeida - 2001 a  2004 
Carlos Robson Rodrigues da Silva - 2005 a 2008
Carlos Robson Rodrigues da Silva - 2009 a 2012
Márvio Lavor Mendes - 2013 - 2016***
Manoel da Costa Almeida - 2016-2020
Luciana Sousa Machado Rodrigues - 2021 -


Mário Peixoto Rosa fugiu após assassinar um vereador no Distrito de Posto da Mata, sendo substituído pelo seu vice-prefeito Tanus Correia.
** Teodório Cardoso sofreu um processo de impeachment votado pela Câmara Municipal e foi substituído pelo vice-prefeito Aílton Marques de Souza.
*** O prefeito Márvio Lavor Mendes foi afastado do cargo por corrupção no último ano de seu mandato. Assumiu Manoel Costa Almeida, classificado em segundo lugar nas eleições de 2012.

Hino do município de Nova Viçosa

Eu amo Nova Viçosa,
Paraíso da Bahia
Nossa terra é dadivosa,
Terra da estrela guia

Lavradores, pescadores
Obreiros da economia
Fruto que colhem os valores
Que a natureza procria

Suas praias são formosas
Enfeitadas de coqueiros
Atrações maravilhosas
Nos abrolhos brasileiros

Nossos campos são cobertos
De cacauais, mamoeiros
Nossos corações são abertos
Felizes o ano inteiro

Os colonos europeus
São parte da nossa história
E os ensinamentos seus
Ficaram em nossa memória

Os índios e os africanos
Estão em nosso passado
Com eles nos irmanamos
E vivemos lado a lado

Refrão x2

Não conhecemos recesso
Lutamos pelo progresso
Do Brasil e da Bahia

Amamos nossa bandeira
Nossa pátria brasileira
Com muito orgulho e alegria


                                                           Bandeira da cidade

                                                                     Brasão da cidade



 

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