domingo, 7 de fevereiro de 2021

História - Heródoto

 Livro História - Heródoto



Heródoto foi o primeiro escritor em prosa e o primeiro historiador do mundo ocidental. Sua obra, intercalada de diálogos e relatos na primeira pessoa, impõe-se pela narrativa simples e direta, que lembra a de um repórter. Também inclui contos de origem oriental, lendas e tradições folclóricas recolhidas pelo autor em suas viagens e por ele transcritas em diversas versões. Suas notas sobre a África e os povos africanos, tidas por séculos como fantasiosas, foram enfim confirmadas pela Antropologia.

Heródoto recebeu formação jônica, e foi em jônico que escreveu. Suas Histórias dividem-se em nove livros. Abrangem os dois séculos que precederam as guerras greco-pérsicas e contam os principais episódios do conflito, com destaque para as vitórias gregas. Inspirado pelo patriotismo, o autor preocupou-se sobretudo em exaltar a união dos gregos contra os bárbaros. A obra, por não ter sido concebida como um todo, não segue uma escrita em ordem cronológica e contém contradições e omissões. É possível que tenha reunido narrativas sobre os persas e seus súditos gregos, para apresentar um panorama das guerras e dar realce ao desempenho dos gregos, sobretudo dos atenienses.

Na posição de observador curioso, mas pouco afeito a comentários, Heródoto descreveu o império persa, sua organização, seu exército e as diversas etapas de agressão às cidades gregas. Cada região do império é mostrada em detalhes. A religião, a história e as características étnicas de cada povo são descritas com precisão. A narrativa começa com Creso, rei da Lídia, e termina às vésperas da guerra do Peloponeso, incluindo episódios que se tornaram clássicos, como Leônidas e a batalha das Termópilas, Salamina, Maratona, etc. A maneira ingênua com que esses fatos são apresentados acabaram por criar uma visão pitoresca do Oriente, com palácios, haréns, profecias milagrosas e sábios sacerdotes egípcios. Heródoto morreu por volta do ano 420 a.C., em Túrio. (Enciclopédia Barsa, 2005).

Sobre a metodologia da pesquisa histórica, afirma Heródoto: "Tentarei descrevê-la apoiado em informações a mim prestadas...(..) Há quem relate de maneira diversa a morte de Ciro. Adotei a versão que me pareceu mais verossímil.” (p.181).  E afirma que realizava pesquisas para se chegar à verdade histórica, como o fazem os historiadores atuais: "...eram, como eles próprios se dizem, originários da Erétria; mas, nas pesquisas que realizei, descobri, serem eles de origem fenícia..." (p. 593).

Lamento não ter lido este livro à época de minha graduação em História. Só mais de trinta anos depois fiz sua leitura, tendo descoberto muitas informações que ajudariam no desenvolvimento do curso e de minha futuras aulas.

Na Faculdade estudei textos sobre a Antiguidade que certamente tiveram como base as informações de Heródoto, especialmente sobre os costumes e governos do Egito, da Grécia e da Pérsia.

Algumas máximas do mundo atual como "O poder emana do povo" já eram conhecidas naquela época na Pérsia. A maneira como se construíram as pirâmides do Egito são explicadas de forma humana e não com a intervenção de seres extraterrestres como muitos tentam incutir na cabeça dos incautos nos assuntos científicos e históricos. Exemplos de orientações para a convivência social e políticas são amplamente divulgadas pelos vários povos estudados tendo como base suas experiências de vida, como o faz muito bem os livros sapienciais da Bíblia, também baseados na vida dos povos antigos.

Heródoto nos dá muitas informações sobre regiões pouco estudadas nos livros didáticos como a Índia e a Arábia. Faz uma ampla explanação de seus costumes tradicionais, e até de fatos relacionados ao conhecimento de animais e o trato dos habitantes com eles.


Insiste na sabedoria dos povos antigos em relação aos parentes e amigos, e para ser mais explícito dá exemplos de casos ocorridos no ambiente em que viviam. Mostra o profundo respeito da população com os reis, citando casos de punição àqueles que não obedeciam ao seu poder.


A narrativa de Heródoto tem semelhança com a literatura da obra de Cervantes - Dom Quixote. Consegue prender o leitor pela narrativa de casos que ilustram um fato histórico. Suas narrativas são muito criativas e interessantes, o que provoca no leitor uma certa ansiedade em terminar a história e estender a leitura do livro.


A História de Heródoto é um tratado sobre a guerra, pois todas as relações pessoais levam a um permanente "preparo para a guerra" para garantir o poder dos reis e seus nomes para os anais da história, além de provocar uma ação constante dos governantes e seus governados. E neste papel, às vezes, entra a ação da mulher como motivadora dessa prática.

No texto fica claro o papel de inferioridade da mulher em relação ao homem, pois as mesmas são eliminadas quando há carência de víveres para a sobrevivência da população masculina. Esta é uma característica da sociedade na Antiguidade, pois a força física é determinante para a sobrevivência do ser humano, que vive em constante estado de guerra entre os povos, seja para se defender, mostrar sua força ou expandir seu território para demonstrar seu poder.

Heródoto, em seu tempo, teve conhecimento do formato redondo da Terra, sendo a mesma cercada por águas oceânicas, mas riu desta teoria (pág. 454). Um conhecimento bastante profundo para a época. Também conhecia sobre a evaporação das águas dos rios (pág. 463).

É interessante como Heródoto, em sua metodologia de pesquisa, faz as amarrações necessárias(fatos anteriores ao evento principal) em seus relatos para se chegar ao cerne do que pretende contar, ou seja, a guerra entre os persas e os gregos. Mesmo que fale de povos distantes e pouco conhecidos, sempre encontra um jeito de relatar algum fato que se relaciona, ora aos gregos, ora aos persas. Esta proposta leva o leitor a não perder o caminho percorrido para se chegar ao objetivo principal do livro.

Heródoto tem uma preocupação especial com a participação da mulher na vida dos povos relatados. Não defende e nem ataca esta ação, apenas informa sobre a situação da mulher em determinado povo. Em sua narrativa percebemos o pouco valor dado à mulher na vida dos povos antigos. Eram quase que um complemento e um objeto humano para uso do homem, com exceção das amazonas que eram guerreiras e tinham opinião própria sobre seu modo de vida.

É impressionante o uso de detalhes sobre a cultura, a história e a geografia dos povos narrados por Heródoto. Compara informações, dá sua opinião em algumas ocasiões, mas procura ser o mais completo possível no conhecimento desses povo antigos. Cita povos históricos como os cartagineses, os fenícios e troianos. Entra em detalhe sobre a Guerra de Troia quando relata o rapto de Helena e a ação de Menelau e seus aliados para a recuperação da prisioneira. Relata eventos ocorridos por ocasião dos Jogos Olímpicos, fatos marcantes nos livros de História.

Em seu livro, além de historiador, se revela um grande geógrafo, pois faz questão de enumerar os principais rios da época e explicar suas características, como os famosos Nilo, Tigre e Eufrates, além de outros de menor importância histórica.

O autor se revela um historiador preocupado com a cultura dos povos estudados, inclusive chegando a pesquisar sobre os livros e a evolução da escrita em seu tempo.

Heródoto defende a democracia ateniense como a melhor forma de governo, ou seja, aquela que promove o desenvolvimento pela ação de toda a comunidade sem o controle de uma autoridade central. Veja o texto abaixo: "... Isso prova que, no tempo da servidão, se portavam com covardia com propósito deliberado, porque trabalhavam para um senhor. Recuperando a liberdade, cada qual se dedicou intensamente a trabalhar com ardor para si mesmo." (p. 609).

Heródoto faz muitos relatos sobre a religião dos povos antigos, principalmente sobre os mitos e seus oráculos; acreditava na intervenção dos deuses, mitos e oráculos na ação dos homens, principalmente dos guerreiros, pois os povos de seu tempo viviam em guerra.

Em sua pesquisa histórica, Heródoto insiste em confrontar a veracidade dos fatos com citação de opiniões diferentes sobre fatos narrados. É um profundo pesquisador, apesar dos poucos recursos para a pesquisa em sua época.

Heródoto se preocupa com a genealogia dos personagens narrados, citando sempre sua origem e evolução familiar, talvez para valorizar sua narrativa e seus personagens. Assim como os textos da Bíblia faziam em suas narrativas, especialmente na origem real, profética e divina de Jesus.

O historiador tem uma preocupação sincera ao explicar a arte da guerra entre os povos; prática permanente entre os povos antigos. Entra em detalhes sobre as estratégias utilizadas nos confrontos bélicos.

Heródoto identifica em seus textos a existência da corrupção já em seu tempo; prática que permanece em nível muito mais elevado na sociedade atual. Parece que temos uma origem de corrupção nas relações pessoais desde os tempos antigos, como um DNA maldito que insiste em permanecer no nosso meio como forma de atrapalhar a harmonia pessoal e social. Veja exemplo na História:


P. 695


P. 696

Heródoto se preocupa com as questões morais da sociedade ao relatar os discursos, tanto dos reis, quanto de seu amigos, quando falam de atitudes e comportamentos na guerra e na vida diária. Destaca as mensagens e reflexões sobre a vida e a convivência social. Gosta da sabedoria dos homens de seu tempo.

O autor também destaca as assembleias em que as decisões sobre a guerra são tomadas, mesmo quando sugeridas pelos deuses. A assembleia termina por legitimar as decisões dos deuses.

Nos preparativos para a guerra entre os persas e os gregos o historiador é muito minucioso. Destaca a formação de cada exército, suas armas, origem dos povos que compõem o exército, os comandantes, consulta sobre o poderio do exército inimigo, revistas à tropa, etc. Este foi um tempo vivido pelo autor.

Na época de Heródoto, o mesmo já relata a ação de espiões na arte da guerra. Espiões gregos vão investigar o exército persa, mas o soberano persa dá uma força e mostra toda sua tropa aos espiões para intimidar os líderes gregos. Mais estratégia da guerra entre os gregos e os persas. No fundo não queriam a guerra, queriam vencer sem lutar, ou seja, que os gregos se rendessem ante seu poderio militar, como ocorreu na Guerra Fria entre os Estados Unidos e a União Soviética.

Na metodologia de pesquisa de Heródoto, o historiador é mestre no uso de mais de uma fonte para se chegar à verdade, e emite sua opinião sobre essas mesmas fontes, às vezes, demonstrando "ar de espanto" com algumas informações que recolheu. A História de Homero:

É um livro essencial para todo professor de História e Historiador.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagem em destaque

A Escola de Frankfurt e o início da Nova Esquerda

  Introdução  No início do livro, o autor cria uma Nota com jeito de Introdução, pois mostra como os participantes da chamada Escola de Fran...

Postagens mais visitadas