domingo, 7 de fevereiro de 2021

Crer em História



Introdução
Ainda cremos em História?
O autor faz uma introdução longa e com uma novidade: dá um título para a Introdução. Nesta Introdução, o autor faz uma evolução narrativa, com alguma análise, do pensamento historiográfico da Antiguidade aos dias atuais. Faz alguns questionamentos sobre o "acreditar na História". E praticamente responde a questão principal do livro que é "crer em História". Utiliza amplamente produções históricas de outros autores para ajudar na compreensão do texto, inclusive de Karl Marx. Mostra como as mudanças do sociais e políticas do século XX mudaram a visão da História enquanto verdade na compreensão, e utilidade para o presente e o futuro da humanidade. Dá uma visão geral do livro comentando os textos e ideias de cada capítulo. Coloca questões interessantes sobre o poder da História até o século XIX, quando a mesma passa a se utilizar de uma metodologia semelhante às ciências naturais.

Capítulo 1 
A ascensão das dúvidas
A primeira parte do capítulo é muito informativa, mostrando a evolução da História enquanto ciência e disciplina a partir do século XIX. A primeira mudança apontada é a questão da valorização da memória a partir do final da década de 1970 e da história do presente a partir da década de 1990. Deixa de citar as mudanças ocorridas a partir dos Annales em 1929, que ampliou a utilização de outras ciências para o conhecimento histórico e ampliação de suas fontes. Interessante notar que na década de 1980, quando a rede municipal de ensino de Ipatinga adotou uma história marxista praticamente rejeitamos a memória, esta mesma valorizada na Europa na mesma época. Questiona a "história como ciência do passado", mas ao mesmo tempo dá amplas informações de Movimentos e Autores que trabalham esta história, que é chamada de tradicional ou metódica. O autor faz uma definição do papel do historiador como aquele capaz "... de trazer um pouco mais de inteligibilidade sobre o mundo e um aumento de lucidez aos seus concidadãos." (p. 36-7). Logo é uma história útil. A partir daí trabalha a questão do tempo para o historiador contemporâneo - como ocorre seu distanciamento do objeto pesquisado. Não seria a história do presente (contemporânea) uma área própria da Sociologia? Como o próprio autor afirma: "... ela, cujo projeto foi desde logo investigar sobre o presente das sociedades e suas disfunções. (...) Quer se trate de uma greve, de um conflito social mais amplo ou de um conflito político. Rapidamente, o sociólogo está no campo: observador participante." (p.38). Sobre Sociologia e História, classifico meu livro Aposentados Ativos como um trabalho de Sociologia e História. O autor trabalha a questão do Jornalismo e da Justiça para questionar o papel da História do Presente. Trabalha bastante no texto a questão da Justiça, da Memória e dos Tribunais da Verdade na Europa, e cita o do Brasil. Fala de uma história útil à página 67: "Situa-se no registro da história como lição para o futuro.". Ao final do capítulo defende  a ideia de que os historiadores têm que ficar atentos para os fatos do presente, mas não se desligarem do processo histórico. Veja recorte abaixo:




Capítulo 2
Uma inquietante estranheza
Este é um capítulo muito teórico, pois trata de questões muito específicas da historiografia, como linguagem, narrativa, memória, etc. Interessante notar como um historiador afirma que pouco importa o uso da linguagem, ou figuras de linguagem, o importante é a narrativa dos fatos históricos verdadeiros. Mostra o autor que o uso da Linguagem em História começou nos Estados Unidos na década de 1960, e se estendeu para a França com o nome de Estruturalismo. Faz o autor um breve comentário de alguns historiadores sobre as questões abordadas no capítulo. Sobre a estranheza volta a Platão e Aristóteles, que se estende sobre os historiadores atuais. Não é claro sobre a chamada "estranheza". O autor continua sua exposição com muita teoria, inclusive utilizando o pensamento de filósofos, principalmente de Aristóteles sobre a História. No final facilita bem as coisas, voltando à questão da narrativa verdadeira da História, inclusive citando textos de vários escritores.

Intermédio
Sobre três alegorias da História
Neste Intermédio, o autor analisa três alegorias: Clio e a glória de Napoleão, O Anjo da História e Papoula e Memória. Nas três, o autor comenta sobre o conceito e a prática da História. Na primeira é uma história Mestra da Vida. E nas demais uma História voltada para as preocupações do mundo industrializado e violentado pela ação do homem e do desenvolvimento.

Capítulo 3
Do lado dos escritores: os tempos do romance
Este é um capítulo menos teórico, pois trata da relação entre História e Romance. Mostra como os escritores de romances se utilizam da História em suas narrativas, e terminam por "defender" um "tipo" de História em seus romances. E para isto, o autor trabalha nomes importantes da literatura, como Balzac, Sartre, etc. Analisa seus romances com destaque para importantes personagens. Volta à questão da estranheza em História, ficando mais clara esta expressão pela ausência de leis para a pesquisa histórica, e também pelas constantes transformações ocorridas ao longo da história, principalmente a partir das guerras mundiais.

Capítulo 4 
Do lado dos historiadores: os avatares do regime moderno de historicidade
Neste capítulo, aliás um dos mais teóricos, o autor trabalha a questão dos historiadores em suas relações com o tempo, especialmente o passado, e também o presente e o futuro. Faz um estudo em que vai e vem com as ideias dos historiadores. Sempre volta aos chamados metódicos e a Escola dos Annales para explicar a nova concepção dos pós-modernos que dão mais atenção a uma história preocupada com o futuro. Também começa a responder a questão principal proposta no título do livro "Crer na História". Nas páginas 175-6, explicita "Então se crê em História: crença difusa ou refletida, mas compartilhada. Crê-se também que os homens fazem a História.". No final do capítulo, o autor fica menos teórico, e insiste no tema do livro "Crer na História". Afirma à página 216: "Desse modo, ainda cremos na história...".

Conclusão
O nome e o conceito de história
Na conclusão, o autor volta a um discurso da história tradicional, ou seja, a história narrativa e de pesquisa que tem sua origem em Heródoto, apesar da complexidade da exposição teórica. À página 227, o autor afirma os caminhos e descaminhos da História desde sua origem: "Uma vez lançado, com Heródoto, o nome pegou e não parou de ser retomado, corrigido, modificado, amplificado, louvado, elogiado, ridicularizado, denegrido, recusado, etc., mas sempre permaneceu presente: imediatamente disponível.". E à página 229: "A essa altura, interessa-me somente que, lembrando que a história é narrativa (grande ou pequena) (...) A narrativa vai à frente, ela faz sentido e dá sentido.". Acho que conclui bem o livro, apesar de desenvolver um conteúdo bastante complexo e teórico ao longo do texto. Sei que faz parte de uma história acadêmica: como bem diz Veyne; existe uma História Acadêmica e uma História Escolar e Popular.



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