segunda-feira, 10 de maio de 2021

50 Ideias de História do Mundo que você precisa conhecer


 Livro 50 Ideias de História do Mundo que você precisa conhecer
Ian Crofton

Introdução
O livro tem uma linha tradicional, quase como um livro didático, mas acrescentando alguns elementos pouco conhecidos. Possui também uma estrutura de formatação diferente dos livros normais colocando uma linha de tempo de alguns fatos importantes ao longo de todas as páginas, além de citar alguns textos poéticos e informativos para complementar o conteúdo do livro. Começa o livro a partir da Pré-História, destacando a agricultura como fator principal da formação das cidades e de nossa atual civilização mundial. Faz uma história do tipo de Heródoto e Tucídides, como disse Paul Veyne, é o que os historiadores fazem, apesar de navegarem por outras ciências, principalmente a Filosofia. O que os historiadores, fazem na verdade, é buscar a verdade dos fatos, buscando todos os meios possíveis, inclusive utilizando outras ciências, se for preciso. É um livro de fácil leitura e compreensão para um leitor de cultura escolar mediana. Acho que o autor trabalha muito mais informações já conhecidas do que ideias novas sobre o conteúdo estudado.

Desenvolvimento do texto
Começa o texto estudando a Pré-História com suas principais características (suas atividades culturais, religiosas, políticas e econômicas), e depois parte para as culturas Antigas como a Grécia e Roma. Sobre este povos faz uma leve evolução política, econômica e social. Fala sobre as produções culturais da Grécia, principalmente, e como Roma se apoderou de grande parte desta cultura intelectual e artística dos gregos. Destaca alguns governantes de ambos os povos e suas contribuições, principalmente na área militar. Destaca como o Cristianismo se torna a religião oficial do Estado Romano, por puro interesse político de Constantino, fator que vai garantir uma certa estabilidade ao Império Romano. Também mostra como ocorreu a decadência dos Império Romano, destacando que hoje há consenso sobre sua causa externa, ou seja, a invasão dos povos bárbaros, e não por problemas internos como se pensou por muito tempo entre os historiadores.

Nos capítulos seguintes o autor não segue a divisão tradicional da história, que nós chamamos de uma história europeizante, pois trata de temas pouco desenvolvidos no programa normal das escolas, como o Islamismo com bastante informações, assim como a expansão militar dos vikings, as Cruzadas, os povos africanos, etc. Mostra o extenso domínio islâmico na Espanha por longos anos, que deixou profundas marcas em sua cultura, percebidas até hoje, e o desenvolvimento científico dos islamitas, comparados aos conhecimentos dos gregos.

Faz um bom estudo das Cruzadas, inclusive mostrando o papel da Igreja Católica e dos Papas na condução do processo. Mostra como os muçulmanos eram mais flexíveis em seu domínio sobre a cidade de Jerusalém, respeitando os direitos religiosos dos cristãos, o oposto das relações autoritárias e violentas dos Cruzados em seu domínio sobre Jerusalém. Utiliza textos e pensamentos ilustrativos dos conteúdos estudados.

Sobre a Peste Negra é mais detalhista e informativo do que temos visto nos estudos deste conteúdo. Faz uma evolução histórica das várias pandemias acontecidas na história. Destaca as causas políticas e médicas da Peste Negra e sua relação com a religiosidade da Idade Média - podia ser um sinal do fim dos tempos. Faz também um bom texto sobre as Índias. Destaca seu desenvolvimento político e científico, e como não podia deixar de ser informa, sobre suas rotas comerciais. Revela a estabilidade e longevidade de dois bons governos indianos.

O autor é bem detalhista, mesmo fazendo um estudo sistematizado das civilizações chinesa, mongol e japonesa. Destaca o poderio da China por longo período e suas tramas políticas e guerreiras. Enumera suas dinastias e principais líderes. Sobre os mongóis destaca o espírito guerreiro e expansionista de seus líderes, e do Japão o seu isolacionismo e a preservação de sua tradicão, apesar de sua expansão industrial e tecnológica.

No estudo dos astecas, Maias, Incas e Reinos e Impérios da África, o autor poderia ter desenvolvido mais a questão colonial, pois existem muitos documentos sobre o assunto. Achei o texto muito enxuto e voltado para informações mais esquematizadas sobre o tema, com referências pouco significativas sobre a matéria. Poderia ter entrado mais nas questões sociais, culturais e religiosas destes povos. Interessante como os Astecas, Maias e Incas construíam obras maravilhosas sem trabalharem os metais, pois suas ferramentas eram de pedras. E os espanhóis achavam que estavam diante de um sonho ao visualizarem estas obras.

Os textos sobre o Renascimento são aqueles que o autor trabalha melhor a questão das ideias, pois acrescenta novidades sobre personagens e conceitos utilizados no conteúdo. Cita exemplos de personagens do Renascimento pouco conhecidos nos estudos escolares. Mostra a novidade de Petrarca ser o pai do humanismo; a origem remota do Renascimento e outras informações relevantes. O autor dá algumas explicações interessantes sobre algumas palavras como gótico que veio de godo (povo bárbaro), e as relações entre Renascimento, Reforma e Iluminismo.

Sobre a Reforma e a Contrarreforma, o autor trabalha mais as ideias do que informações, mas não acrescenta novidades aos estudos que realizamos na escola. Usa uns pensamentos interessantes quando explica o significado de "Protestantes" e uma ideia que me chamou a atenção pela visão do autor sobre religião: "Um homem com Deus é sempre maioria." John Knox - reformador escocês. Faz um bom trabalho quando relaciona política e religião, sendo a primeira dominante. Mais especificamente na Contrarreforma, o autor trabalha bem a questão religiosa relacionada à política, inclusive a militar quando trata das guerras de religião entre católicos e protestantes. Mostra que o fundador da Ordem dos Jesuítas, Inácio de Loyola era um ex-militar, situação que caracteriza fortemente a ordem com sua disciplina rígida e obediência ao papa.

Quanto às ideias, a Revolução Inglesa está mais para um conjunto de conflitos entre a realeza e o parlamento do que propriamente de uma "revolução". A ideia que se aproxima de uma mudança radical é o fim da Doutrina do Direito Divino dos Reis, ou o Absolutismo Real, mas não deixa de permanecer o domínio da realeza, apesar de um breve período de governo civil. Há uma alternância de governos autoritários, e outros constitucionais, com seus limites garantidos por uma época em que o autoritarismo era dominante desde a Idade Média. 

Em A Revolução Científica a palavra "revolução" é totalmente adequada, pois ocorreram mudanças científicas de relevância, não só na Astronomia, como na Medicina e na Matemática. Esta revolução veio combater a estagnação científica da Idade Média, devido ao domínio religioso e político da Igreja Católica, mesmo que esta continuasse a insistir em defender suas ideias tradicionais, inclusive de formas violentas e desumanas como a condenação na fogueira de quem discordasse de suas posições. É de revoltar a hipocrisia de uma instituição tão antiga e sempre respeitada, ao absolver Galileu em 1992.

No texto A Idade do Império o autor trabalha a questão da competição imperialista entre as nações europeias a partir do século XVI, chegando ao século XIX. Mostra como ocorriam o domínio das regiões coloniais por estas potências, e o sistema comercial existente que era o Mercantilismo - as colônias ofereciam as matérias-primas, e as metrópoles os produtos industrializados. Adam Smith mostra que estas potências não alcançavam grandes lucros em seus empreendimentos, e como os nativos eram prejudicados por este domínio. O domínio das colônias terminava resolvendo alguns problemas sociais das metrópoles, especialmente em relação a sua população ociosa e marginal.

Sobre o Iluminismo, realmente o autor trabalha as ideias de forma intensa, pois o conteúdo é de ideias mesmo sobre quase todos os assuntos. Trabalha principalmente a Filosofia. Mas a economia, a política, a sociedade, a ciência, são assuntos constantes. Trabalha autores importantes e históricos como Voltaire, Adam Smith, Locke, Montesquieu, Diderot, Rousseau e outros de igual importância. Mostra como estes pensadores combateram as ideias da Idade Média, e principalmente da Igreja Católica. E lançam luzes sobre a Revolução Francesa e a Revolução Americana. As revoluções da América Latina sofreram as influências destas ideias, assunto não trabalhado pelo autor. A Inconfidência Mineira tem sua base teórica no Iluminismo.

A Revolução Francesa é bem trabalhada pelo autor, especialmente sobre as ideias que envolvem a figura de Napoleão, como continuador dos ideais revolucionários e sua guinada num breve retorno à Monarquia e seu estilo autoritário. Declara-se Imperador da França, atitude que desagrada aos ideais da burguesia na Bastilha. Mostra como Napoleão tentou ampliar o poder francês ao tentar anexar outros países ao seu império, e suas vitórias e derrotas neste objetivo, especialmente o desastre da invasão à Rússia, No final mostra seu principal legado que é o Código Civil Napoleônico, apesar de ter excluído as mulheres de seu texto. Este Código Civil serve de modelo para o Direito Civil da Europa e do mundo até hoje.

Na Revolução Industrial, o autor faz um bom estudo sobre as evoluções tecnológicas do período, especialmente em sua linha do tempo. Faz algumas reflexões sobre os fatores e consequências da Revolução Industrial no mundo. Mostra como o desenvolvimento econômico ocorrido faz surgir uma nova classe social em ascensão política, ou seja, a classe média, surgida dos empresários das novas empresas. Identifica Adam Smith como o criador da ideia de divisão social do trabalho, ou produção em série. Relaciona as principais nações que adotaram a Revolução Industrial em seu primeiro momento, e o surgimento dos Estados Unidos como a principal potência econômica no início do século XX.

No estudo sobre o Nacionalismo na Europa, o autor trabalha bem as ideias que nortearam a formação das nacionalidades europeias que vão dar origem à I Guerra Mundial. A Europa, depois de vários conflitos após as guerras napoleônicas, e outros muitos conflitos virou um continente formado por várias nações definidas pela etnia e pela língua. Pequenos países surgiram devido às várias revoltas, e que vão desaparecer após as duas grandes guerras. Faz, o autor, relatos importantes sobre os conflitos, principalmente na formação da Itália e a Alemanha. Realça a participação de Garibaldi na formação da nação italiana. Sua narrativa é semelhante aos livros didáticos, mas suas ideias melhoram estes.

Sobre a Escravidão, o autor, trabalha bem as ideias, ou seja, como os protestantes, os iluministas e outros segmentos da sociedade a viam. Sobre os protestantes, principalmente os Metodistas na Inglaterra, pra mim, foi uma novidade, pois os livros didáticos, geralmente não trabalham este movimento dentro do abolicionismo. Sobre o Brasil, o autor, faz apenas uma referência sobre sua abolição em 1888. Não cita Castro Alves, poeta brasileiro e grande denunciador da escravidão. Faz algumas referências de pessoas e textos de combate à escravidão. Mostra a origem mais remota da escravidão, ou seja, entre os gregos, romanos e povos da Antiguidade. Cita que a Bíblia parece ter sancionado a escravidão, mas não cita em que parte existe esta referência.

Nos capítulos sobre A Expansão dos Estados Unidos e A Civil Americana, o autor dá informações importantes, e algumas ideias sobre a origem do poderio do governo norte-americano. Não apresenta novidades, a não ser alguns depoimentos de autoridades sobre o processo de formação do pensamento das autoridades sobre política, escravidão e dominação. De relevante, destaca a ideologia religiosa que deu origem à sua expansão territorial, mesmo sem respeitar os direitos dos nativos e dos colonos. Sobre a guerra civil identifica suas consequências racistas até meados do século XX.

Na ascensão do socialismo, o autor faz uma evolução histórica do pensamento e ação socialistas desde sua origem europeia. Mostra como o socialismo foi introduzido em alguns países como a Inglaterra, a Alemanha, os Estados Unidos e outros. Faz uma relação entre socialismo e sindicalismo. Identifica as características do socialismo, e afirma que o capitalismo adotou algumas destas práticas, como a redução da jornada de trabalho na fábrica Ford, pois seu criador afirmava que os trabalhadores tinham de ter lazer para comprar seus produtos.

Sobre o Capítulo Os Direitos das Mulheres a novidade é inserir um texto próprio sobre o tema, pois os livros didáticos tradicionais não reservam tanto espaço para a luta das mulheres. Estes apenas colocam textos complementares falando sobre os direitos das mulheres. O autor faz uma evolução sobre as principais personagens que lutaram em defesa das mulheres no mundo, e suas reivindicações, mas infelizmente não faz nenhuma alusão ao movimento das mulheres no Brasil. Em meu livro A Mulher na História faça uma evolução da participação da mulher na História Geral desde a Pré-História até os dias atuais, reservando um capítulo sobre a Mulher na História do Brasil. 

Sobre a I Guerra Mundial, o autor não apresenta nenhuma novidade sobre o tema, que acrescente algum elemento novo aos textos do livro didático tradicional. No capítulo sobre Lênin e Stálin, o autor trabalha melhor as ideias, mostrando a situação feudal da Rússia antes da Revolução de 1917, as diferenças político-administrativas ente Lênin e Stálin, compara a visão política de Stálin com Trotsky, e no final do capítulo, caracteriza os governos antes e depois da Revolução como uma mudança apenas de práticas autoritárias - tiraram uma ditadura de direita e colocaram uma de esquerda. Revela o preço em mortes da Revolução, principalmente no governo de Stálin. Sobre o Nazismo e Fascismo, o autor, mesmo trabalhando as ideias, e lógico, os fatos principais, não apresenta nenhuma novidade ao leitor escolar. Em relação à Grande Depressão, o autor também não explica de forma clara a questão de como se chegou ao extremo da crise de 1929. Não explica a relação da falta de produtos (ou necessidade) para exportação para a Europa depois da I Guerra, pois os países europeus voltaram a "normalizar" sua produção, com o alto nível de desemprego gerado nos Estados Unidos. E novamente não toca nas consequências da crise para o Brasil.

No texto da II Guerra Mundial o autor dá bastante informações sobre as relações políticas envolvidas no conflito, especialmente entre os primeiros países que se envolveram nas lutas, como a Alemanha, a França e a Inglaterra. Mostra os resultados do conflito, especialmente em números de mortes. Destaca a política isolacionista do Estados Unidos, que terminam entrando na guerra quando seus interesses são prejudicados. Realça como os acordos são quebrados sem nenhum pudor, após os interesses das nações serem prejudicados com essas combinações. Critica o Japão pelo ato de enfrentamento com os Estados Unidos. Enfim, um texto bem informativo e bom de se ler. Nos capítulos sobre o Holocausto e a Guerra Fria o autor trabalha bem as ideias sobre os dois eventos, mostrando a origem histórica do holocausto e sua caracterização no nazismo, e sobre a Guerra Fria faz algumas considerações relevantes sobre suas possíveis consequências, e as arriscadas atitudes tomadas pelos governos.

Nos capítulos sobre O fim do Imperialismo e a Guerra do Vietnã, o autor pratica uma história totalmente factual, sem se preocupar sobre as ideias que levaram aos fatos, como a anexação de territórios coloniais pelos europeus e as causas da Guerra do Vietnã. Dá muitas informações sem explicações, ou mesmo tentativas de justificar os eventos. Continua fiel aos livros didáticos tradicionais. No Conflito Árabe-Israelense, o autor faz uma breve evolução do conflito desde o final da II Guerra Mundial até os dias de hoje. Trabalha pouco as ideias. Interessante ao mostrar a causa principal da crise do petróleo de 1973, que tem sua origem no conflito Árabe-Israelense e o envolvimento dos Estados Unidos na questão de fronteiras. Na Queda do Comunismo o autor faz uma boa síntese para estudo, quase que um esquema do conteúdo. Trabalha pouco as ideias que levaram ao evento. No Ressurgimento da China o autor trabalha melhor a questão das ideias sobre como a China chegou ao nível tecnológico e de poder atual. Valoriza a globalização como fator principal do poder econômico da China e faz alguns questionamentos pertinentes ao seu futuro enquanto potência econômica. No final do livro, o autor trabalha bem as ideias quando trata do 11 de setembro, atravessando a história dos atos terroristas no mundo e um questionamento sobre o futuro da humanidade. Atingiu seu objetivo de sintetizar a História do mundo em 50 eventos. Achei que poderia aprofundar um pouco mais as ideias com menos fatos narrados.


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