domingo, 7 de fevereiro de 2021

A Guerra do Peloponeso - Tucídides

 A Guerra do Peloponeso

Tucídides
Apesar de adotar uma metodologia de escrita mais sistematizada que Heródoto, o método de pesquisa de Tucídides não difere muito do de Heródoto, ou seja, existe nos dois uma preocupação com as fontes e com a preservação de sua narrativa para a posteridade, ou seja, escrevem uma História com intenção prática e útil à posteridade para o conhecimento dos fatos e personagens estudados.
Última capa
(Pág. 27)

(Pág. 28)

Das causas da guerra
Em linhas gerais existe apenas uma causa para a Guerra do Peloponeso: o amplo poder alcançado por Atenas depois da Guerra Greco-persa, que gerou desconfianças nos povos vizinhos, principalmente de Esparta. Mas para o fortalecimento de Atenas, Tucídides volta às origens das relações políticas e militares de vários povos da época, e às alianças e acordos de paz que ocorreram e que levaram ao início do levante entre os povos mais influentes da época - Atenas e Esparta.

(Pág. 67)


Como em Heródoto sua história é política, pois narra e analisa a Guerra do Peloponeso. Destaca os discursos políticos dos líderes das nações envolvidas no conflito e suas batalhas.

Tucídides também se preocupa em mostrar elementos da cultura dos povos estudados, como na construção das muralhas das cidades, e cita como eram feitas, inclusive informa sobre o uso de argamassa nas construções.

Os discursos também revelam traços da cultura existente e que tem muito a ver com o que vivenciamos hoje, como quando afirma que os fracos devem ser governados pelos mais fortes. E os discursos são constantes durante a guerra, principalmente para resolver acordos e adesões aos dois lados em conflito.

A Guerra do Peloponeso não foi uma guerra entre duas cidades apenas, ou seja, entre Atenas e Esparta, mas entre estas cidades e seus aliados. Cada cidade procurou encontrar aliados para se tornar mais forte no confronto, e aí, faziam acordos entre eles para a manutenção da guerra presente, e de outras que viessem a acontecer. Só que nos livros de História estes aliados são ignorados, mas Tucídides faz questão de enumerá-los dos dois lados. Péricles, o grande líder ateniense foi um dos comandantes de Atenas no conflito. Esta guerra, com certeza, foi um dos resultados da guerra em as cidades gregas e a Pérsia, pois as cidades helênicas temiam o poder de Atenas após o conflito.

Tucídides é detalhista em seu relato da guerra; divide-a em períodos compreendidos entre as estações do ano: verão e inverno. Mostra cada detalhe na criação dos "engenhos de guerra" e nos diversos mecanismos para a defesa da cidade. Ainda insiste na citação dos líderes e povos envolvidos, além de Esparta e Atenas. Os relatos da guerra são permeados por discursos dos líderes de ambos os lados, numa autêntica democracia militar. Faz uma defesa contundente de Péricles como o principal líder militar e político de Atenas. Realça que Atenas atingiu o auge do desenvolvimento no governo de Péricles.

O autor é enfático em destacar o poderio marítimo de Atenas em oposição ao domínio do poder terrestre dos espartanos. Mesmo com menos da metade dos navios atenienses, estes superam as naus espartanas nos combates. Então a solução para Esparta é o confronto terrestre. Destaca a inteligência dos líderes dos dois lados em oposição ao entusiasmo e à força física dos guerreiros. Também dá valor à experiência dos combatentes se comparada à juventude e inexperiência dos guerreiros.

Nos discursos dos líderes do conflito é destacada a importância das cidades como elemento definidor de posturas políticas, culturais e sociais. A cidade ganha enorme valor na cultura grega o que é revelado nos embates entre os vários povos em conflito. A cidade ganha caráter de nação. As famosas Cidades-Estado da Grécia.

As relações políticas entre os vários povos são analisadas pelos líderes em seus discursos para decidir um apoio ou a entrada ou saída de uma guerra. Talvez daí, a origem das relações internacionais entre os vários povos atuais.

Importante notar a renovação dos vários líderes no comando da guerra. Péricles, um dos principais líderes atenienses, morreu praticamente no início da guerra, ou seja, depois de dois anos de seu início, no entanto novos líderes o substituíram com competência no comando de seus exércitos. E Péricles era quase um deus entre os atenienses, seja como líder militar ou governante político. Sua saída não alterou o rumo da guerra.

É interessante notar também a discussão sobre democracia, tirania e regimes de governos durante a guerra. Seus líderes faziam questão de identificar sob quais regimes políticos os vários povos viviam.

As palavras proféticas de Tucídides se manifestam explicitamente nos textos abaixo, ou seja, confirmam a luta pelo poder através dos partidos políticos que estão acima da justiça e das relações sociais em todos os tempos, e por que não, nos dias atuais no Brasil, em que amizades antigas são desfeitas por questões partidárias.

(Pág. 167)
(Pág. 168)
Além da guerra longa (27 anos), Atenas sofreu com uma peste violenta e inexplicável pela Medicina da época, e um conjunto de terremotos em seu território, mas soube conviver com estes problemas naturais e o conflito com grande capacidade de resistência.

Apesar de citar a Primavera, estação do ano muito valorizada na Antiguidade; a história de Tucídides é dividida entre os verões e invernos como marcos dos acontecimentos da Guerra do Peloponeso.

Os detalhes da guerra do Peloponeso são impressionantes na narrativa de Tucídides. Parece que esteve presente em todos os momentos do conflito, situação que não aconteceu. Os detalhes textuais dos discursos dos líderes da guerra nas ocasiões de tréguas são fascinantes, parece também que o autor "gravou" em equipamentos modernos todas as falas. Valoriza em seu texto os grupos combatentes quando destaca os rituais que marcam o conflito como a entrega de mortos dos dois lados em combate, a comemoração das vitórias, as homenagens aos combatentes, o respeito ao inimigo, etc. A guerra manteve sempre um lado de "humanidade" nas relações pessoais em conflito; não foi um vale tudo pra se chegar à vitória. Existiram regras que nortearam as ações dentro do conflito, pela história e proximidade cultural entre os povos combatentes. Como as nossas relações internacionais nos dias de hoje que exigem arbitragens para "harmonizar" as divergências entre os povos.
No texto acima, Tucídides mostra como as lideranças na guerra buscavam a paz e soluções definitivas para o conflito (pág. 209)


Tucídides participa da Guerra do Peloponeso como comandante dos atenienses, fato que dá maior credibilidade a sua história. Veja texto abaixo (pág. 228):


Sobre sua história política, Tucídides se refere aos partidos políticos em várias ocasiões, como espaço de decisões a serem tomadas nas questões que envolvem o governo das cidades.

Na narrativa da guerra a existência dos vários povos (e são muitos e com nomes estranhos) complicam um pouco a identificação dos blocos em conflito; talvez fosse necessário esquematizar, à parte, estes blocos, mesmo sabendo que houve alterações nas adesões e saídas de um grupo para o outro.

Parece existir um simbolismo no número 300 (trezentos) na composição dos exércitos em conflitos. Várias vezes vemos a formação de grupos de combate com 300 guerreiros.

As decisões em tribunais para as tréguas e início dos combates durante a guerra são frequentes. Fato que atesta uma evolução cultural dos povos à época da guerra.

As traições eram comuns entre as cidades em conflito, como o é nos dias atuais.

Nos livros escolares de História entendemos a Guerra do Peloponeso como o conflito entre duas cidades: Atenas e Esparta. O livro de Tucídides tira esta imagem, pois relata guerras particulares entre várias cidades, mesmo que estas façam parte das alianças entre as cidades em conflito na Guerra do Peloponeso. O fato das duas cidades principais estarem sempre em lados opostos, favorece a tradição de se denominar o conflito em Guerra entre Atenas e Esparta, além de Guerra do Peloponeso. Percebemos também que Atenas não tem tanta importância no conflito, o mesmo acontece com Esparta. Acho que Guerra do Peloponeso justifica o que aconteceu na época.

É interessante notar como a Democracia é discutida amplamente durante a Guerra do Peloponeso, em oposição à tirania e a oligarquia. Mesmo que seus defensores acreditassem que a democracia fosse um sonho político; dela eles nunca desistiram.

No final do livro, Tucídides utiliza algumas vezes a primavera como marco dos momentos e conflitos da guerra, cita também o outono; além do inverno e verão. Veja texto abaixo (p. 336):
O tema político, além dos conflitos da guerra, são recorrentes durante todo o texto de Tucídides; mais especificamente a disputa entre os dois sistemas de governo: oligarquia e democracia. Não fica claro seu posicionamento por um ou por outro. Sua presença no conflito e sua autoria são claras, pois o mesmo cita seu nome e seu tempo durante a narrativa. Veja texto abaixo.
(Pág. 430)
Sua narrativa vai até o vigésimo ano da Guerra do Peloponeso. Uma história cheia de detalhes dos acontecimentos e dos personagens envolvidos, inclusive do próprio autor.

Tucídides utiliza amplamente a obra de Heródoto como fonte de sua narrativa, especialmente quando se refere à guerra entre os gregos e os persas, além de outras informações, conforme as notas utilizadas na tradução para o português.

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