domingo, 7 de fevereiro de 2021

Brasil: Sempre - Marco Pollo Giordani

 Livro Brasil: Sempre

Marco Pollo Giordani




------

Lembro quando este livro foi lançado em 1986, logo após o início da Nova República. Não o li, pois estava muito ligado aos partidos de esquerda, principalmente ao PT. Li Brasil Nunca Mais e indiquei sua leitura para muitas pessoas. Hoje aposentado e afastado do Partido dos Trabalhadores recobrei fôlego para uma leitura mais isenta e mais ampla dos dois lados da História.

Lembro também de quando fui Diretor de Escola no governo do PT em Ipatinga, e que o nosso Secretário de Educação indicava os livros para nossas leituras sempre dos governos de esquerda, principalmente da Prefeitura de São Paulo. Lia Paulo Freire, Moacir Gadotti, Saviani e outros. Lembro ainda dos livros de esquerda que lia e tinha de viajar para outra cidade para comprá-los, pois só em Timóteo tinha uma livraria que vendia estes livros, além das indicações de leitura semelhantes da Igreja Católica como Frei Betto, Leonardo Boff. Fui domesticado por uma leitura permanente de esquerda, apesar de ter feito uma Faculdade com perfil de direita, mas vivíamos a década de 1980, período agitado pelas ideologias marxistas. Dei aula em toda a minha vida no Magistério de livros de esquerda. Mas as perseguições sofridas por mim e pelos trabalhadores aposentados no governo do PT em Ipatinga, além dos processos envolvendo os governantes de esquerda eleitos em todos os níveis de poder nos governos de esquerda me fizeram questionar este jeito de governar.

O autor do livro faz uma síntese dos movimentos e partidos de esquerda no Brasil, desde a fundação do Partido Comunista do Brasil (PCB), em 1922, e com destaque para a Intentona Comunista de 1937. Destaca a ação de militares no combate ao comunismo no Brasil. Faz um breve relato do surgimento dos partidos comunistas e fascistas como a Aliança Libertadora Nacional (ALN)  e a Ação Integralista de Plínio Salgado. Analisa levemente os conteúdos das ideologias comunistas e fascistas, sempre citando documentos sobre os mesmos.

Uma breve síntese do Movimento de 1964 revela a participação das mulheres no combate aos ideais de esquerda presentes no meio militar, sindicatos e operários urbanos e rurais. Veja texto abaixo.


Interessante notar quando o autor publica a relação de mortos pelos chamados terroristas, não se limita a nomes de militares, mas relaciona também os civis envolvidos nas ações de assassinatos; em casos específicos de assalto a bancos, balas perdidas, transportes de elementos presos, voz de prisão, etc.

O autor não se limita a combater Brasil Nunca Mais e nem se fixa em questões políticas e ideológicas. Justifica sua publicação realçando a dimensão da escrita em relação a um posição apenas informada sem publicação: "Estou ciente da grave responsabilidade em escrever. Mais do que o simples pensar..."

Faz o autor um estudo rápido sobre a formação do povo brasileiro e suas deficiências em combater ideias e manipulações. Valoriza a Educação enquanto fator de mudança social e econômica, e cita o povo japonês como exemplo de superação de problemas sérios e históricos tendo como ferramenta principal a Educação.

O autor faz uma análise sobre o poder do Estado e destaca o papel essencial das Forças Armadas como guardiãs da ordem e estabilidade da nação. Parece certo quando afirma que o Presidente deve ser o chefe das Forças Militares do país, pois ao longo de nossa história todos os Presidentes estiveram em harmonia com os militares, inclusive o Presidente Lula que tanto os criticou quando estava na oposição. Faz um comentário sobre a questão da democracia e assegura que a mesma só existe quando houver responsabilidade na vida do cidadão, e principalmente no meio político, e defende para sua manutenção e existência uma boa Educação para a população brasileira. Engana-se quando elogia o Presidente José Sarney, quando promoveu o congelamento dos preços, pois a publicação de seu livro ocorreu antes do desenvolvimento de todo o período de seu governo. Mesmo assim coloca dúvidas sobre o sucesso da ação do governo, pois já tinha visto acontecer algumas desobediências contra o congelamento de preços. O congelamento de preços foi uma medida eleitoreira para garantir maioria de políticos em seu partido, e o final de seu governo foi um caos social, pois a inflação chegou perto dos três dígitos.

Governos militares não são defendidos pelo autor, inclusive afirma que general não nasceu para governar, mas sim para comandar. Os militares, em sua opinião, só assumem os governos em situações graves de soberania nacional e crises políticas e econômicas sem controle, em resumo. Aponta erros dos militares no comando do governo, situação que levou ao longo período de governo militar no Brasil. Faz duras críticas ao governo Figueiredo, e aponta sua principal falha: não decretar as eleições diretas. Defende governos civis sem solução de continuidade. Veja texto abaixo.


Importante perceber que o autor é formado em Direito e em Formação de Professores, além de ser autor de três livros. É contra a tortura e defende a punição de torturadores sejam de esquerda ou de direita, pelo texto observa-se sua formação humanista e cristã. É também um anticomunista convicto, pois vê nesta ideologia um combate à liberdade e à valorização do ser humano enquanto indivíduo, em oposição à criação de uma massa de manobra por poucos líderes privilegiados. É, conforme sua afirmação, um anticorrupto, posição que para os dias atuais, é um real valor para a classe política, principalmente.

Sobre a Lei de Segurança Nacional o autor afirma que a mesma nunca foi usada, e existia somente para intimidar os subversivos. Faz uma análise sobre o significado da palavra subversão e de seu uso no livro Brasil Nunca Mais.

No campo teórico, o autor faz uma análise competente sobre o funcionamento do sistema comunista para sua implantação em nível internacional. E para isto utiliza os pensamentos de Marx, Engels, Hegel e Feuerbach, utilizando a Filosofia como fonte de construção do pensamento comunista na formação de seu fundamento - o materialismo histórico. E para sua implantação explica como o Comunismo se estruturava para sua implantação em nível local, estadual e federal, utilizando textos e esquemas para sua maior clareza.

Confirmando o que diz o autor sobre a implantação do Comunismo nos países, lembro de quando participamos de uma greve em um governo típico do Coronelismo, por volta de 1987, e conversava com um amigo professor militante do Partido dos Trabalhadores (PT), que participava da liderança da greve, mas não era Professor da Rede Municipal de Ensino, inclusive estudei com ele na Faculdade de Caratinga na Licenciatura; o mesmo me disse que estava ali a mando do PT, "ajudando" os professores municipais, e disse também que outros militantes estavam atuando em outras categorias da classe trabalhadora, como trabalhadores urbanos e rurais. Depois da greve meu amigo candidatou-se a Vereador e foi o mais votado da cidade. Isto confirma o que o autor disse sobre a organização de massa praticada pelo Comunismo.

À época da publicação do livro, em 1986, o PT ainda não era um partido consolidado, por isso, o autor não o coloca entre aqueles que recebiam orientações das organizações internacionais comunistas com maior intensidade, e cita o PDT (Partido Democrático Trabalhista) de Leonel Brizola como o expoente do Socialismo no Brasil. Também a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) é citada como foco de influência socialista no Brasil, principalmente através de sua Teologia da Libertação.

Sobre a Igreja Católica e a Teologia da Libertação o autor faz um bom estudo de sua origem e evolução para se chegar à prática do pensamento marxista por uma ala da hierarquia da Igreja. Para sua exposição utiliza textos, esquemas e documentos, sendo os documentos a prova histórica de sua fidelidade. Recolhe informações textuais de representantes da Igreja dos dois lados das opções religiosas: os marxistas e fiéis à doutrina tradicional da Igreja. Realça as contradições da ideologia socialista com as normas católicas, especialmente do Código Canônico sobre a propriedade privada.

Termina o livro afirmando suas posições conservadoras em relação à política, à economia e às Forças Armadas. É um livro necessário aos estudantes e pesquisadores para o conhecimento do outro lado da História do Regime Civil-Militar no Brasil. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagem em destaque

O Livro Negro da Nova Esquerda

  Introdução Na Introdução, os autores mostram a origem do movimento de esquerda atual e suas características como a questão do feminismo, d...

Postagens mais visitadas