Introdução
Na Apresentação do livro, é explicado todo o processo de sua construção, pois foi na verdade, um texto de abertura da II Internacional Comunista acontecida em 1920. Lênin acompanhou toda sua produção na gráfica. A intenção era criar diretrizes para a expansão do comunismo para o mundo, logo trata de suas estratégias e táticas para tomar o poder mundial - uma espécie de "Bíblia" para orientação a seus seguidores em todos os países. Mas logo de início já perceberam que os trabalhadores não aderiram ao Comunismo, como esperavam e afirma o texto; mesmo que haja alguma discordância, o que é normal; "As expectativas que a liderança bolchevique tinha depositado no proletariado europeu de que, cumprindo sua 'missão histórica', ele correria para ajudar seus camaradas russos em dificuldade, sofreram um grande revés." (pág. 11). A Apresentação do livro é longa, expondo vários subtítulos para o desenvolvimento do pensamento de Lênin sobre a construção e evolução do Comunismo, realçando que a intenção de Lênin era a expansão do Comunismo pelo mundo, e para isto teria que fazer alianças com setores, para o que ele chama de "pequena burguesia", insistindo que os líderes da revolução teriam de fazer uma análise de conjuntura para a construção de acordos, e como o livro foi divulgado no Brasil em 2025, cita os casos de Cuba e Venezuela, onde o chamado imperialismo americano faz suas intervenções. Lênin, fazia críticas de suas próprias ideias, por isso, após a publicação de suas condições para a expansão da revolução, afirmou que, elas poderiam não realizar o resultado esperado, pois eram "russas até a medula." Vê o Marxismo não como um dogma, mas um guia para a ação, adaptado a uma realidade prática, a chamada práxis, coisa que as esquerdas não faziam e nem fazem hoje em dia, partindo apenas de teorias cartesianas positivas. Daí, o "infantilismo" das esquerdas. Lênin era um estrategista nato, via os detalhes das condições sociais de sua época. Mostra que os comunistas deveriam observar cada brecha, ou indecisões, para infiltrarem com suas ideias. Hoje tentam fazer isto, infiltrando em todas as instituições das nações, até no Vaticano, mesmo que as circunstâncias sejam outras. Sobre os erros do Partido Comunista, Lênin aponta dois muito importantes para os dias atuais, praticados pelas esquerdas, principalmente pelo PT, no Brasil, ou seja, só fazer coligações com partidos de mesma ideologia, situação que tem se modificado, talvez como consequência deste erro ou da perda de credibilidade popular; e não aceitar críticas aos erros cometidos em sua gestão. Lênin afirma que os erros devem ser avaliados e corrigidos, e nunca negados. Os partidos de esquerda no Brasil querem ser puros, livres de corrupção e outros males, e que apenas os partidos de direita promovem estes desvios. Quando questionados, desviam o assunto para aquilo que fizeram de melhor, mesmo que estas ações tenham sido um "tiro no pé", pois punem o próprio governo. Lênin vê a expansão do Comunismo como um processo em que o debate com a população se faça para conseguir seu apoio, e não por imposição governamental. Mas como sabemos impôs o Comunismo na Rússia praticando ampla violência contra seus opositores. Mas suas lições são importantes para os partidos de esquerda hoje, que são considerados infantis por Lênin, pois não conhecem a teoria e a prática comunistas; esquecem do estudo da realidade nacional e internacional para uma prática que provoque a tomada do poder por uma vanguarda e as massas populares conscientes.
Desenvolvimento
Já nos primeiros capítulos, Lênin insiste na Ditadura do Proletariado, que foi uma expressão criada por Marx, em uma de suas cartas. Nesta Ditadura do Proletariado aponta uma questão importante para o combate ao capitalismo e a burguesia: o fim das pequenas propriedades. Daí a origem das grandes Cooperativas agrícolas (Kolkhoses) e das fazendas estatais (Sovkhoses). Reforça que para a implantação desse novo governo, haverá muita luta, sofrimento, ação parlamentar e até terrorismo. Marca o início da luta partidária dos bolcheviques em 1903, gastando quinze anos para a implantação da revolução. Realça o poder do cizarismo e a persistência do partido nestes quinze anos, fator que nunca ocorreu ao longo da história. Revela a repetição do discurso, mas acha necessária esta prática. Mostra também que as lutas do partido são sempre diferentes em cada situação, logo exigem uma análise e estudo constantes de conjuntura. Lênin segue sua análise da situação política de sua época, num permanente elogio da ação e ideologia dos Bolcheviques, explica sua prática diferenciada dos demais partidos, dos quais dá vários nomes e significados, mas todos apontados como partidos reformistas e não revolucionários. Defende a prática dos Bolcheviques nos parlamentos, e de formas legais e ilegais para chegarem ao poder. Insiste na famosa luta de classes, em que os interesses são divergentes, e defende ostensivamente o domínio do governo pela classe trabalhadora. Informa que a luta pelo poder não é imediata, precisa de uma constante prática, pois 1917 só aconteceu por causa dos conflitos com o czarismo deste 1905, quando perderam a guerra, mas continuaram ativos após a derrota. E ficaram mais fortes após a violência praticada pelo governo contra os trabalhadores indefesos.
Segue Lênin, mostrando as divergências dentro e fora do partido bolchevique, na busca de uma sonhada "pureza" ideológica na política instalada após a Revolução de 1917. Mostra que os moderados, como os mencheviques, e outras facções, eram traidores da causa dos trabalhadores proletários. Entra em detalhes sobre o pensamento dessas correntes. Lênin, usa o exemplo do Comunismo na Alemanha para mostrar o infantilismo das esquerdas, pois existiam muitas diferenças entre a teoria e a prática entre os seus membros, principalmente sobre os acordos com membros da burguesia parlamentar. Outro destaque é sobre o comando no regime comunista, se caberia às massas, que seria a Ditadura do Proletariado ou ficaria a carga do Partido Comunista, que dirigia as massas, que para Lênin estava dividida entre várias classes, e não em uma única classe, como era o desejo do Comunismo. E para se chegar ao fim da divisão de classes teria que acabar com o chamado e famoso corporativismo; lembro de quando começamos a militar na esquerda, em combate ao Regime Militar no Brasil (1964-1985), ainda na década de 1980, como o nosso sindicato falava de corporativismo, ou seja, criticava nossa defesa apenas dos direitos do professores, e não de todos os trabalhadores. Lênin mostra que este processo é lento; não é feito de um dia para o outro como queria nosso sindicato. E dentro desta linha critica os comunistas alemães que não aceitavam participar dos sindicatos reacionários e do Parlamento. Lênin entende que os comunistas deveriam participar de instituições capitalistas para introduzir ideias comunistas dentro delas. Afirma que os sindicatos têm origem no capitalismo, e realça sua importância histórica para garantir direitos trabalhistas, mas os vê como mecanismos típicos do capital, e que devem ser transformados, assim como as corporações para a eliminação das classes sociais. Um texto de Lênin, página 90, comenta sobre os erros cometidos pelos partidos: "A atitude de um partido político perante os seus erros é um dos testes mais importantes e mais seguros da seriedade desse partido e do cumprimento na prática das suas obrigações para com a sua classe e para com as massas trabalhadoras. Admitir abertamente os erros, descobrir as suas causas, analisar a situação que os originou e examinar atentamente os meios de os corrigir: é isto que caracteriza um partido sério, é nisso que consiste o cumprimento dos seus deveres, isto é, educar e instruir a classe, primeiro , e, depois, as massas." Uma lição para os partidos de esquerda no Brasil de hoje, e principalmente para o PT, que nunca admitiu seus erros.
Lênin faz duras críticas aos partidos comunistas alemães por resistirem a acordos e compromissos com outros partidos e instituições, e por isto são chamados de infantis, pois poderiam influenciar seus participantes com o ideal marxista. Ele explicita este pensamento no livro, páginas 106-107: "O erro constitui em se recusar a participar do Parlamento reacionário e burguês e dos sindicatos reacionários, o erro consistiu em múltiplas manifestações dessa doença infantil 'de esquerda' que agora veio à superfície (...)". No Brasil, a esquerda praticou esta infantilidade política da década de 1980 até a primeira década dos anos 2000. Segue o autor analisando os partidos de esquerda na Inglaterra, e suas adesões ou não a acordos com outras às instituições não comunistas, principalmente em relação ao Parlamento Inglês. Lênin termina o livro mostrando claramente a infantilidade das esquerdas ao insistir na construção do Comunismo imediatamente, e na falta de paciência em fazer os acordos necessárias para se infiltrar nas instituições levando a mensagem marxista de combate ao Capitalismo. Não vê as esquerdas como alternativa ao Capitalismo, mas sim o Comunismo construído integralmente por uma nova visão de sociedade, longe das relações democráticas da sociedade ocidental, e seja uma revolução mundial, e afirma: "(...) ... que existem todos os motivos para esperar que o movimento comunista internacional se cure rápida e completamente da doença infantil do comunismo 'de esquerda.' (pág. 139)". Vê os erros do imperialismo durante a I Guerra Mundial como o motivo não doutrinário capaz de impulsionar o comunismo no mundo. Lênin vislumbra o significado do Comunismo puro, e não infantil, ao afirmar que uma liderança deve doutrinar os trabalhadores para sua adesão ao novo regime, enfim, não existe a famosa Ditadura do Proletariado, mas a ditadura de uma liderança sobre toda a população mundial, a partir da Rússia. No Anexo, Lênin é explícito sobre o Partido Único que deve dominar todas as atividades sociais, políticas, econômicas e culturais em nível planetário, eliminando toda a história capitalista, que ele sempre chama de burguesa. No Apêndice Sobre a doença infantil do "esquerdismo" e o espírito pequeno-burguês, Lênin mostra os equívocos de análise de conjuntura das esquerdas e do comunismo de esquerda para a implantação do Comunismo em outros países, e na própria Rússia. Realça que devem utilizar a tecnologia do Capitalismo para a implantação de grandes indústrias na Rússia, e reconhece a inferioridade tecnológica de seu país em relação aos países dos grandes trustes.
Vale a pena ler o livro para se conhecer a evolução política internacional durante todo o século XX e início do XXI, sob a visão de um texto de Lênin escrito em 1920.
A leitura abre a mente das pessoas que deixam de imaginar situações a partir de opiniões de terceiros, ora bem informados ou também de ouvintes incautos e manipulados.
ResponderExcluirSe a esquerda não pensasse em igualar todos por baixo com uma minoria rica juntamente com seus parentes intocáveis... Os direitos e deveres tem que ser iguais para todos independente de raça, cor, religião ou partido político. E isto é justamente o que não acontece no Brasil. Por exemplo, são dois pesos duas medidas para um mesmo acontecimento. É de se esperar que haja revolta principalmente da classe média tão perseguida e massacrada com altos impostos principalmente. Comunismo nunca deu certo em lugar nenhum. O Capitalismo dá chance para todos se sobressaírem sem precisar de depender tanto do Estado. Dar o peixe é diferente de ensinar a pescar. Os investimentos em educação são baixos, o que faz gerar pobreza de mente.
ResponderExcluirObrigado pelo comentário que revela o conhecimento de nossa realidade atual.
ResponderExcluirParabéns pelo esforço de ler um livro aparentemente pesado sobre o assunto do comunismo. Lenin e Stalin figuras tristes da história do século XX responsáveis por milhões de mortes, e que até nos dias atuais tem muita gente que os endeusam e seguem seus métodos.
ResponderExcluirNum outro documento “A Estrutura, os Métodos e a Ação dos Partidos Comunistas” na III Internacional Comunista, de junho de 1921, confirma o livro e deixa claro que o Partido Comunista utiliza meios e métodos da estrutura com ações clandestinas financiando ilegalidades para fazer ações revolucionárias e mudanças. Alguma similaridade?
Como dizem "Um homem que não seja um socialista aos 20 anos não tem coração. Um homem que ainda seja socialista aos 30 não tem cérebro".
Beto, um forte abraço! Do amigo Pasquale.