O Terror Vermelho foi um período específico de matanças de "opositores", sem contar os tempos que se seguiram em aniquilar oposições. Será que não deu uma certa saudade do Regime da nobreza czarista? É interessante notar como uma guerra civil em que compatriotas se matam por um ideal nunca especificado, mas ficando claro que a matança, era na verdade, por pura sobrevivência, tanto entre os Vermelhos (Bolcheviques) e Brancos (Monarquistas). Ninguém nunca especificou, o que na realidade defendiam, ou seja, que ideal humanitário, filosófico, político ou religioso defendiam. A violência foi tanta que os próprios dirigentes passaram a denominar o conflito de "Guerra Suja" e não de Guerra Civil. Parece que o racionalismo desapareceu das mentes humanas naquele curto período entre 1918-1920. Foram tantas e violentas mortes que os números perdem o sentido. Realça também o tamanho da oposição que os Bolcheviques enfrentaram, além do uso da violência de ambas as partes, principalmente porque a questão fundamental da luta era a fome provocada pelo controle do governo da produção camponesa, sendo, contraditoriamente, o campesinato o principal defensor da revolução em 1917. E o governo sempre defendendo que os camponeses estavam impedindo o fortalecimento da Revolução Proletária. E para justificar que um mundo novo esta nascendo, e para isto tudo era permitido, inclusive um número incalculável de estupros, o Editorial do primeiro número do Krasnyi Metch (O Gládio Vermelho), jornal da Tcheka de Kiev: "(...) Sangue? Que o sangue jorre aos montes! Somente o sangue pode colorir para sempre a bandeira negra da burguesia pirata como um estandarte vermelho, bandeira da Revolução." Foi um festival de mentiras como vivemos hoje no mundo, apesar de toda a tecnologia da informação atual.
Um outro fator importante que eu nunca tinha visto falar ou em produções históricas é o grande número de suicídios de camponeses por falta de alimentos, pois o governo pegava 2/3 de sua produção. E sobre uma breve história de Lênin, que foi advogado, ainda novo, em 1891, e já defendia a fome da população para incrementar a industrialização, que produziria o Socialismo, que em sua opinião seria a fase seguinte ao Capitalismo. Durante um período de extrema fome, ainda no período de Lênin, alguns intelectuais buscam ajuda internacional, inclusive da Cruz Vermelha e dos Estados Unidos, mas não durou muito, um pouco mais de 5 semanas, pois achavam que essa atitude tinha outras intenções de dominação externa, pois o Comunismo vive numa permanente Teoria da Conspiração. Estes intelectuais logo após a ajuda foram expulsos do país. Lênin sempre gostou dos líderes mais radicais e violentos de seu governo. Em mais uma de suas atitudes autoritárias, expulsa todos os intelectuais do país como escritores, professores, e até profissionais de nível técnico, como engenheiros, e exigia que assinassem um documento em que prometiam nunca mais voltar ao país, do contrário seriam fuzilados. Mas com a morte de Lênin, em 1924, sendo que desde 1923 ele já não exercia o poder devido a três derrames cerebrais, a União Soviética passa por um período de tréguas nos assassinatos de oponentes, e o país passa a ter uma vida quase normal, pois diminuem as perseguições aos opositores ao regime, e o comércio, a indústria e a agricultura normalizam-se. Este período durou até a escolha do sucessor de Lênin, em 1927. Trotsky passa a ser perseguido depois de 1927, passando a ser opositor ao Comunismo. Foi expulso da União Soviética junto com seu grupo, mas o autor não explica o motivo de sua mudança de posição, sendo que era um líder no Partido Bolchevique e defensor dos assassinatos de camponeses opositores ao regime.
Estas imagens tenebrosas e desumanas se referem ao texto acima. O livro contém outras imagens de atrocidades comunistas, verdadeiros genocídios de populações inteiras.
O que dá para transparecer na transição após a morte de Lênin, é que ele fez a maior parte da "limpeza" da oposição ao novo regime, e Stalin implantou mecanismos para a organização da grande nação, como a criação de cooperativas de agricultores, e da coletivização da agricultura, sem passar pelas leis de mercado; mesmo continuando o combate aos opositores com grande violência, prisões, expulsões do país e assassinatos. A Coletivização dos campos foi feita de forma violenta e sem o apoio dos camponeses, por isso, a repressão foi violenta, com a expulsão dos agricultores de suas terras e enviados para terras distantes, e sem condições mínimas de sobrevivência, chegando ao caso do governo matar milhares de pessoas de fome de forma proposital, além de em alguns lugares, os exilados chegarem ao ato do canibalismo. Entre 1932-1933, período chamado de a grande fome, morreram mais de 6 milhões de pessoas, incluindo crianças e idosos, com a utilização dos métodos mais primitivos e violentos. A fome foi utilizada como arma para combater os camponeses, pois estes resistiram com suas formas mais específicas, como o distanciamento de seus contingentes de defesa. O governo então passou a recolher toda a produção do campo, levando os agricultores a uma fome generalizada. Mesmo com denúncias internacionais, o governo negava esta prática, insistindo que era o combate aos seus opositores. Canibalismo, abandono de famintos idosos, crianças, mulheres, uso de órgãos dos sobreviventes para fazer alimentos - um inferno dantesco! Tudo revelado com ampla documentação, inclusive com carta de Stalin dando respostas às práticas genocidas. Às visitas estrangeiras mostravam as plantações como se fossem um jardim, escondendo o "lado obscuro" da violência sem limites.
Depois de um combate sistemático contra os camponeses, e uma parcial normalização de suas atividades, com a criação de cooperativas para um melhor controle da produção, o governo parte para as outras classes, principalmente nas cidades, passando a investigar as várias "especialidades" de trabalhadores, como engenheiros, administradores, profissionais liberais, religiosos, inclusive fechando e destruindo Igrejas, cientistas, professores, jornalistas, escritores, teatrólogos, e até pessoas do alto comando do governo. Nestas novas classes investigadas criam leis para punição dos suspeitos, chegando ao ponto de um alto funcionário declarar que puniram pessoas totalmente inocentes, mas já estavam "mortas", como afirmou em seu relatório. É interessante notar como depois de mais de vinte anos após a Revolução de 1917, o governo ainda continuava a praticar expurgos violentos contra possíveis oposições ao regime. Como administrar um país enorme em constante combate aos opositores, e de forma violenta? O período chamado de O Grande Terror (1936-1938), foi o tempo mais violento da Revolução Russa, pois existiam até cotas de prisões, quase sempre ampliadas; expulsões do país e execuções, sendo Stalin o responsável direto das decisões, mesmo que tenha nomeado outras pessoas para o comando. Até pessoas simples e honestas eram condenadas, sem julgamento, e nos raros casos de julgamento, estes eram feitos sem a presença do réu, ou seja, a decisão já estava tomada, para o cumprimento das cotas. Tiveram três observações internacionais da tragédia, mas não levaram a nenhuma decisão, pois o governo manipulava as informações. O objetivo principal do Grande Terror, era, conforme um dirigente do governo, criar uma burocracia civil e militar formada por jovens quadros que "aceitarão qualquer tarefa que lhes for designada pelo Camarada Stalin" (pág. 242)
Sobre os Campos de Concentração, os famosos na História, denominados Gulags, o autor faz uma longa descrição, inclusive com fotografias arrepiantes das torturas praticadas e os métodos de trabalhos forçados exigidos dos prisioneiros. Nos Gulags ficavam pessoas de todos os níveis sociais, inclusive de populações de países que formavam a União Soviética, principalmente da Ucrânia, onde houve intensa exploração de sua população, talvez daí a existência de conflitos entre a Rússia e a Ucrânia até os dias de hoje. Os agentes russos visitavam até as escolas para verificar quais eram os alunos mais inteligentes, pois estes representavam um perigo para o regime, por isso eram presos preventivamente. Após o início da II Guerra Mundial, os bolcheviques exploram a mão de obra para os campos de concentração, principalmente da Polônia, local onde primeiro a Alemanha atacou. Os russos assassinaram 45 oficiais poloneses, sendo os corpos encontrados ainda durante a II Guerra, mas afirmaram que foram os alemães que realizaram tal massacre, mas em 1992, a Rússia assumiu os crimes. Os presos trabalhavam também em obras fora das fábricas dos campos de concentração, principalmente em obras faraônicas de construção de canais, que futuramente se tornaram inúteis. Os números de mortes e prisioneiros são amplamente divulgados, mesmo sabendo da existência de fontes ainda não divulgadas sobre os mesmos. Durante a Segunda Grande Guerra Mundial, a União Soviética passou a deportar alemães residentes em seus territórios para áreas de trabalho forçado como a Sibéria, alegando que eram traidores e espiões contrários ao governo; mas não só alemães, mas povos que pertenciam à União Soviética, principalmente da Ucrânia, além de gregos, armênios e outros. Sempre com a violência e a poderosa arma da fome. Enquanto isso, os soldados russos iam morrendo pelos campos da Europa. De 1941 a 1944 houve uma grande perseguição aos "inimigos do regime", mesmo no auge da Grande Guerra, mas o mundo não ficava sabendo dessas ações, e após a guerra a União Soviética foi elogiada pelos Países Aliados, pois foi a nação que mais perdeu soldados no conflito. E muitos países passaram a seguir o modelo de seu regime, porque conheciam apenas um lado de sua realidade. Mas o socialismo teórico e revolução nunca existiram na União Soviética, e nem no mundo. A Imprensa russa fez seu papel de divulgar um Paraíso que nunca aconteceu.
Mesmo depois da Segunda Guerra Mundial, o União Soviética não mudou sua postura social e política, continuaram a perseguir opositores e supostos inimigos, e limitar a liberdade (se é que um dia houve), a alimentação e os salários dos trabalhadores. As prisões e assassinatos continuaram como no início do regime, e com a proximidade da morte de Stalin, e sua paranoia, provocou a volta do antigo Grande Terror. Até os médicos organizam um complô contra Stalin, sendo composto o grupo de maioria judia, portanto os comunistas preparam uma perseguição aos judeus que eram pessoas influentes, principalmente no mundo da literatura, jornalismo, medicina, enfim eram grandes intelectuais. Repetem o genocídio feito pelos alemães, mesmo que na Conferência da ONU, Stalin tenha votado a favor da criação do Estados de Israel. O autor mostra que a morte de Stalin evitou o assassinato de milhares de opositores. Após a morte de Stalin, a URSS, através de suas principais lideranças, fizeram algumas mudanças que aliviaram, pelo menos na década de 1950, o sofrimento de seus opositores. Reorganizaram os Gulags, e libertaram aqueles prisioneiros de crimes considerados de pequena importância, e depois até os condenados de crimes políticos. Mas continuaram a perseguição de opositores até a década de 1981, inclusive de escritores que revelavam os problemas vividos pelo país ao longo de sua história. Para encerrar a I Parte do Livro, que o autor chamou de À guisa de conclusão, sua síntese se resume nas bibliografias sobre o assunto, principalmente de historiadores russos, mas que no fundo é uma visão da violência e seus métodos praticados pelos governos de Lênin-Stalin.
Na II Parte do Livro, os autores passam a relatar sobre a expansão do Comunismo e punição dos "inimigos" pelo mundo, a começar pela Europa. A Alemanha, a Estônia, a Bulgária, a China, a França e a Espanha são os principais alvos dessa expansão, sempre em confronto violento com partidos e governos, e as milhares de mortes registradas. Os comunistas perdem todas estas batalhas na Europa, mas deixando marcas em países até no início da década de 1970, quando militantes franceses eram treinados na URSS. Mesmo nos países europeus, onde o governo soviético deixou representantes e seguidores, as perseguições e investigações eram administradas de Moscou. E dentro do próprio governo mundial comunista, os assassinatos, perseguições, expulsões de traidores e de uma imaginável oposição, as punições continuavam severas, inclusive dentro de países como a França e a Espanha. As perseguições aos opositores ao governo, se estende a setores do próprio sistema administrativo na Rússia e em outros países, como a Polônia, Itália e a Alemanha, inclusive. Stalin faz um pacto com os Alemães muito antes do início da II Guerra Mundial para poder punir os traidores do comunismo na Alemanha. Em uma declaração de um grupo trotskista condenado, proclamam que o "fascismo de Stalin era bem pior que o de Hitler" (pág. 350). Stalin faz um expurgo dos possíveis traidores em todos os Partidos Comunistas do mundo na época. E utilizava além das armas tradicionais, como os fuzilamentos, torturas, cortes das mãos e dos braços, a mentira como forma de punir seus "inimigos". Manda matar Trotsky e todos os seus seguidores pelo mundo. Trotsky foi morto com um golpe de picareta na cabeça, e depois seu assassino foi homenageado por Stalin. O autor do texto fica assustado com os métodos violentos do governo soviético. A propaganda do paraíso soviético se espalhou pelo mundo, inclusive depois da Segunda Guerra Mundial, logo muitas pessoas caíram nesta cilada, e encontram não a "igualdade" e o progresso prometido, mas a tortura e a morte com toda a crueldade do regime comunista. Pois todos eram inimigos do regime soviético, sem nenhuma prova ou julgamento. O autor não tenta explicar esta postura doentia do stalinismo. Após a Segunda Guerra, Stalin continua sua guerra particular na Europa de expansão do Comunismo. Como Hitler, Stalin queria dominar o mundo. E ninguém fez nada, ou percebeu a trama política.
Mesmo antes da Segunda Guerra Mundial, por volta de 1937, os comunistas dominam a política da Espanha. Para conquistar este espaço europeu importante, onde existiam socialistas e outros partidos, e até anarquistas, Stalin utiliza de todas as estratégias políticas possíveis para atrair seguidores e liquidar os opositores das formas mais cruéis possíveis. Existem, no livro, narrativas de torturas e mortes de deixar qualquer ser humano com náuseas. Os métodos de tortura e morte eram os mais variados, pois usavam a "criatividade do mal", simplesmente para acabar com seus possíveis "traidores", pois todos aqueles que não estavam ao lado dos comunistas eram considerados traidores, mesmo numa nação diferente como a Espanha. Parece que havia um prazer em praticar a violência entre os comunistas, pois os "condenados" já tinham seu destino traçado que era a morte, então para que torturar, e de forma violenta, como se matassem um animal... não, os animais eram mais bem tratados. A prática de punição soviética deveria ser reproduzida no mundo, a isso chamam comunismo. Sem nenhum objetivo humanitário. Inclusive tivemos casos de espanhóis que foram fazer Curso de Formação na URSS e que passaram pelo mesmo processo de depuração que Stalin executou na Espanha. A maioria não voltou mais. Levavam até crianças e professores para a URSS e a maioria não voltava mais pelo mesmo processo de exclusão. Lênin e Stalin montaram uma máquina de matar para o mundo.
O movimento comunista internacional, nos anos 1920 e 1930, colocou como objetivo principal as insurreições armadas, sendo todas elas um fracasso. Diante desse fato, passou, durante a década de 1940, a explorar as guerras de libertação nacional de vários países para se infiltrar, e nos anos 1950 e 1960 passa a se envolver com as guerras de descolonização. A partir dos anos 1970, os comunistas passam a se envolver com o terrorismo através de organizações e líderes por todo o mundo, inclusive no Oriente Médio e América Latina. Essa fase do terrorismo exigiu do governo soviético muito cuidado e competência política, além de estratégica para se envolver, pois muitos interesses estavam em jogo como o fornecimento de armas, e criar possíveis indisposições com nações importantes como a Inglaterra e a França, e até com os Estados Unidos, sendo que este último teve de intervir nos atos terroristas na América Latina. Este foi o tempo dos famosos atentados em aviões de grandes empresas internacionais e com a morte de várias pessoas, fatos amplamente divulgados pela imprensa da época. Nesta última fase é que aparece a figura de Yasser Arafat líder, da OLP (Organização para a Libertação da Palestina), que teve até negociações com o Presidente dos Estados Unidos para resolver a situação de violência no Oriente Médio, que continua até o terceiro milênio sem solução prevista, devido aos vários interesses existentes na região, tais como a tradição cultural, religiosa, interesses políticos, econômicos e territoriais.
A Polônia, com certeza, foi um dos países mais agredidos pela intervenção soviética em sua história, pois desde o século XVIII já teve problemas com o Império Russo, além de Stalin ter perdido uma guerra entre a Rússia e o país vizinho. Os relatos de barbárie contra o povo polonês são desumanos. E as eleições, para dar uma aparência de legalidade, eram fraudadas de forma sistemática. Além do período de domínio sobre o povo polonês e suas instituições, principalmente sobre a Igreja Católica e os sindicatos ter durado da década de 1940 até o final do regime soviético em 1990, ou seja, o mais longo entre os povos estrangeiros.
Enquanto a Europa Ocidental, os Estados Unidos e a América Latina comemoravam a vitória dos Aliados, e a chegada de seus soldados não assassinados pelos países ligados ao nazismo alemão na Segunda Guerra Mundial, a Europa Central e Sudeste sofriam com o terror soviético contra os povos que combateram contra seu império bolchevique, quando centenas de pessoas foram deportadas para os Gulags da União Soviética. Será que o Ocidente não sabia disto, ou não queriam se preocupar com mais problemas? Sei que a maioria que fizer a leitura dessa resenha, não vai ler o livro na íntegra, pois suas 900 páginas são desanimadoras, assim como a violência contida nele; por isso coloco textualmente alguns poucos trechos do livro na resenha, como o abaixo:
"O discurso ocasional de certos dirigentes comunistas da época sobre as 'vias nacionais para o socialismo', sem 'ditadura do proletariado' à soviética, camuflava a estratégia real de todos os partidos do centro e do sudeste da Europa. Tal estratégia consistia na aplicação de doutrinas e práticas bolcheviques que já haviam demonstrado seu valor na Rússia a partir de 1917." (pág. 469)
Neste capítulo sobre a Europa Central e Sudeste o autor trabalha mais a teoria, mesmo divulgando a violência praticada pelos comunistas nesta região europeia. Faz uma boa explicação sobre o que é uma sociedade civil e suas instituições, combatidas como projeto do governo comunista, ou seja, os bolcheviques queriam acabar com a sociedade civil e instalar um governo estatal em sua substituição, e um dos principais entraves a este projeto eram os cristãos, por isso, atacou violentamente tanto as Igrejas instituídas como seus participantes; o clero e os leigos. Afinal, todas as instituições civis deveriam desaparecer, e a população viver sob o domínio do Estado. Os professores, intelectuais, escritores, funcionários deveriam servir a um senhor: o Estado Comunista. Não seria uma Ditadura do Proletariado, prometida em 1917, mas uma Ditadura do Estado, nunca uma democracia. Nos relatos sobre a violência praticada pelos comunistas, o texto abaixo mostra a diferença fundamental entre o nazismo e o comunismo em relação ao processo de depuração de sua "sociedade". É um depoimento de quem viveu as duas realidades, o que dá credibilidade ao seu relato e conclusão (Pág. 481):
"A diferença entre a polícia secreta comunista e a dos nazistas - sou um dos felizes eleitos a ter experimentado ambas - não reside nos seus níveis de crueldade e de brutalidade. A sala de tortura de um cárcere nazista era idêntica a de um cárcere comunista. A diferença não se concentra aí. Se os nazistas o prendiam como dissidente político, queriam geralmente saber quais eram as suas atividades, quem eram seus amigos, quais eram seus planos e assim por diante. Os comunistas não perdiam tempo com isso. Sabiam já, ao prendê-lo, que tipo de confissão você iria assinar. Mas o senhor não sabia."
O autor mostra que é difícil compreender a instalação dos sistemas fascistas em qualquer país, pois no início, estes convencem as populações de seus falsos ideais de fraternidade e honestidade, mas logo mostram uma cara nova do governo que se quer implantar, e realça que os jovens são os mais suscetíveis de convencimento, portanto estes sistemas, muitas vezes, recebem grande apoio popular. Mas a repressão na Europa Central e do Sudeste foi de uma desumanidade sem limites com velhos, mulheres e membros da Igreja. Existem depoimentos de torturas e mortes que levam qualquer um a náuseas e revolta. Não existe respeito com a cultura construída historicamente por longo tempo; é como se toda violência fosse normal com o povo a ser dominado, inclusive em relação à história religiosa de uma população. Na Bulgária, mesmo que não tenha ocorrido um número muito alto de vítimas, pois o processo de tortura e violência aconteceu após a morte de Stalin, período que houve a denúncia das atrocidades comunistas; os métodos de violência foram dos mais primitivos como a morte dos condenados a pauladas, e dando os corpos dos assassinados para os porcos comerem, além de um comandante mandar o réu olhar no espelho sua imagem pela última vez antes de sua morte, além de ter de levar um saco para colocar seu corpo que seria transportado em um carrinho de mão para o caminhão recolher. Só de usar trajes ocidentais, o cidadão já estava condenado. Alguns defensores dessa chacina evocam o contexto social da época, defesa puramente ideológica, que não respeitam os fatos históricos da época no mundo.
Entre o final da década de 1940 e o início de 1950, Moscou começa uma depuração das lideranças comunistas nos países de sua influência, como a Romênia, a Tchecoslováquia, e todas as nações satélites dos bolcheviques. Começa a caça de comunistas por comunistas, ou seja, daqueles que não eram fiéis ao partido. Além dessa caça aos comunistas na Europa Central e no Sudeste pelos próprios centros de poder na União Soviética, os outros países do bloco fizeram também perseguições aos comunistas que praticaram atos de violência contra suas populações, adotando as mesmas práticas violentas adotadas pela repressão dos órgãos de segurança soviéticas no passado. Interessante notar como não havia exceção para os altos cargos do governo. Todo indivíduo, independente do cargo, teria que ser da total confiança da cúpula do centro de decisão de Moscou. Mesmo a partir do fim da Segunda Guerra Mundial, o processo fascista da União Soviética continuou em toda sua área de controle como os países da Europa Central e do Sudeste, sendo Moscou o centro das decisões. Só pelo fato da União Soviética não assinar a Declaração Universal dos Direitos do Homem, votada em 1948, pela Assembleia Geral das Nações Unidas, que garantia as liberdades individuais e os direitos fundamentais do homem, já revela a continuação da prática histórica de uma política de exceção do governo comunista, mesmo que após a morte de Stalin tenha acontecido um abrandamento do aparelho repressor do sistema de governo bolchevique. Mesmo nas últimas décadas do regime comunista, este receava os espíritos criadores e sua liberdade de expressão, além dos partidos comunistas passarem a ser considerados não como partidos, mas passaram a ser classificados como "organizações criminosas" depois do início dos processos contra sua prática fascista na Europa Central e do Sudeste.
Na Quarta Parte do livro, na qual os historiadores tratam do Comunismo na Ásia, o estudo e pesquisa, passam, em seu início a tratar de teoria do poder, ao invés de já ir revelando as atrocidades praticadas nos países envolvidos. Mostram as diferenças entre o Comunismo da China e o Soviético. Na China, o Comunismo tomou uma cara própria, pois os governantes fizeram uma adaptação de sua tradição de Estado forte desde a Antiguidade, com o Comunismo de Marx, Engels, Lênin e Stalin, sabendo-se que a China teve uma evolução histórica de violência desde os tempos mais remotos. Enterrar pessoas vivas, queimar literaturas clássicas, e levar à morte sua simples menção era comum em sua história. Também cortavam seus inimigos em pedaços e mandavam mulheres e filhos comê-los, se não o fizessem eram esquartejados. Logo muito antes do Comunismo, os chineses já exerciam esse instinto assassino, mesmo utilizando a religião como justificativa teórica, como o Confucionismo. Sua relação com o comunismo soviético tem início quase na mesma época, ou seja, na década de 1920. Como escreveu o grande escritor, e ex-comunista chinês, Lu Xun, "Os chineses são canibais..." (pág. 555). Diferente da Revolução Russa, o Comunismo chinês começa sua "revolução/matança" pelos camponeses, jogando camponeses contra camponeses, pois estes esperam alguma melhora apoiando o governo; ledo engano! Veja o depoimento de um dirigente comunista chinês, em 1949: "Depois do aniquilamento dos inimigos armados, haverá ainda os inimigos não armados; estes lutarão contra nós numa batalha de morte; não devemos nunca subestimá-los. Se o problema não for colocado ou compreendido desde já nestes termos, cometeremos os mais graves erros." (Pág. 545, Mao Tsé-Tung). Direita, denominação que não é clara no livro, é discriminada a ponto de o cidadão "direitista" não poder andar na parte esquerda da rua. Outro fator importante na China de então é o grande número de suicídios, pois os denunciados já sabiam de seu destino.
Quando se fala de fome de uma nação, logo se pensa em uma seca prolongada, ou seja, uma alteração brusca e longa da natureza. Mas na China, não foi assim. Foi uma questão política, ideológica, de má gestão e de dogmatismo. Fatores que provocaram a maior fome da história, e não só da China, entre 1959 a 1961. E o pior é que o governo nunca admitiu o menor erro na gestão da coisa pública. Veja textualmente (pág. 580): Mao, (...) "por razões de pura tática política" passa a recusar-se a reconhecer a menor dificuldade, a fim de evitar ter de admitir o mais insignificante erro. Adotou as políticas de acordo com os princípios do governo comunista. O resultado só poderia ser a violência praticada como a morte de milhões de pessoas, inclusive incluindo crianças e mulheres. Nesse quadro o canibalismo volta, inclusive com pais comendo os filhos de outras famílias. Os Estados Unidos ofereceram ajuda, mas a China não aceitou, por questões políticas. Ou seja, a política é mais importante do que vidas humanas. O autor constata o grande número de mortes praticadas pelo Comunismo chinês, e admira como esta situação ficou sem conhecimento pelos povos de outras nações; mas consegue explicar o método utilizado para disfarçar esta informação: o governo chinês usava instituições variadas como espaço de tortura e mortes, como o nome de fachada de empresas públicas. No governo dos Imperadores se davam os nomes verdadeiros como o condenado a "detenção" ou a "trabalhos forçados". Mas sabemos, pela pesquisa do livro, que a mentira faz parte do DNA do Comunismo. Os prisioneiros das "prisões" chinesas eram obrigados a estudar manuais de Comunismo criticando o capitalismo, às vezes, por longas horas. Era uma espécie de lavagem cerebral, pois estes prisioneiros sofriam o terror chinês em todas as formas mais brutais.
Uma máxima das condenações chinesas à população: "Na China, ninguém é preso por ser culpado, mas é culpado por ter sido preso." Comentar isto é complicado e desumano, pois prenderam muitas pessoas que nunca cometeram nada contra o governo. Outra estratégia comunista na China é jogar amigos e familiares contra os outros, e para isto, os dirigentes colocavam caixas de denúncias em pontos estratégicos para a população denunciar possíveis posturas irregulares de qualquer pessoa. No capítulo sobre a China, os autores colocam vários depoimentos de pessoas que participavam dos "processos" condenatórios, o que dá credibilidade às informações do livro. E sobre a chamada "Revolução Cultural" (1966-1976), época em que já existia a televisão como meio de comunicação, a China continua a praticar a violência aos seus opositores como sempre fez; combater os intelectuais, os quais chamavam "fedorentos" e representantes do capitalismo; manter uma política de manipulação da classe estudantil, principalmente. Uma passagem do texto é significativa, quando um estudante de 10 a 11 anos visita, o pai e o condena a continuar na prisão, porque merece a punição por ser um contrarrevolucionário, situação que deixa os guardas assustados (pág. 613). Será qual a intenção de usar a expressão "cultural" para uma política repressiva sempre praticada pelos chineses? O autor não entra neste questionamento. Não seria mais uma manipulação da opinião pública? É bem provável. Outra questão importante é que o governo chinês perseguia os intelectuais chamando-os de capitalistas, e no Brasil, desde o início do século XX, os intelectuais eram quase sinônimo de comunista.
A Revolução Cultural chinesa acabou com a Educação tradicional para impor uma escola sob o domínio do conhecimento do regime, ou seja, levar o aluno a aprender cada vez menos, sendo uma cartilha de Mao Tsé-Tung o maior meio de estudo, sendo esta cartilha estendida a toda a população, e quem não a decorasse seria punido, Acabaram com os exames para admissão aos cursos superiores, reduziram o tempo dos cursos e perseguiram os professores, escritores e intelectuais até a morte, num processo violento e humilhante como nunca se viu. Até o Tibet não escapou à doutrinação e violência do regime, pois o foco de ação do governo foram, principalmente os templos budistas, sendo estes destruídos em sua maioria esmagadora. O Dalai Lama teve de fugir para a Índia, e dá um depoimento comovente: "[Os tibetanos] não foram apenas fuzilados, foram espancados até à morte, crucificados, queimados vivos, afogados, mutilados, mortos por inanição, estrangulados, enforcados, cozidos em água fervendo, enterrados vivos, esquartejados ou decapitados." (Pág. 646-7)
E para concluir o capítulo sobre a China, o depoimento de um soldado de 14 anos sobre a Revolução Cultural: ""Éramos jovens. Éramos fanáticos. Acreditávamos que o presidente Mao era grande, que detinha a verdade, que era a verdade. Eu acreditava em tudo que Mao dizia. E acreditava que havia razões para a Revolução Cultural. Julgávamos ser revolucionários e que, à medida que éramos revolucionários que seguiam o presidente Mao, poderíamos resolver qualquer problema, todos os problemas da sociedade." (Pág. 634)
A Coreia do Norte possui o Comunismo mais fechado do bloco, inclusive é chamada por alguns de "reino eremita". Mesmo com seu fechamento para o mundo externo, a Coreia do Norte teve dois partidos bolcheviques no início da década de 1920. Sempre houve um excessivo controle de sua população sob domínio de seu líder. É uma verdadeira religião com encontros semanais da população para doutrinação. Seu líder é considerado um deus, inclusive sua presença em eventos é carregada de manifestações da natureza, como "nuvens" que recobrem sua pessoa até a hora de sua epifania. A violência com seus opositores tem a mesma barbárie da União Soviética e da China, inclusive com atos de canibalismo, além das mentiras constantes e da propaganda enganosa. O diferencial é a exclusão de pessoas com deficiências físicas e anões da convivência na sociedade. Conforme depoimento de uma autoridade coreana, a hierarquia social do país é pior que o sistema de castas. Mesmo combatendo o "imperialismo" não dispensa ajuda humanitária dos países capitalistas, principalmente a oferta de alimentos. O povo passa fome por incompetência técnica na produção de alimentos, mas o exército vive bem alimentado e produzindo cada vez mais armamentos sofisticados. Até o final do século XX, o governo soviético continuou perseguindo seus "opositores" de forma violenta, na Coreia do Norte, data informada devido à publicação do livro em 1997.
O Comunismo no Vietnã praticamente não tem diferença dos demais estudados: a União Soviética, a China e a Coreia do Norte. O culto a Stalin e Mao são predominantes, e a violência chega a ponto da existência de vários suicídios, inclusive chegando ao absurdo de prisioneiros pedirem a órgãos internacionais para mandarem cianeto para acabarem com suas vidas, evitando assim tanto sofrimento. Negam, os governantes, que não praticam a tortura, alegando que apenas os imperialistas a praticam. Pedem para que as casas fiquem com as lâmpadas acesas à noite, e afastem lâminas e facas da presença dos homens, para evitar suicídios. O texto apresenta um poema endeusando Stalin e Mao e fazendo a apologia da morte ininterrupta, além da cobrança de impostos para o governo (Pág. 678). No Laos, um pequeno país da Ásia, o Comunismo teve um perfil diferente, pois as populações viviam fugindo dos governos instalados. O Laos herdou o Comunismo do Vietnã, país vizinho. Em sua implantação não houve a violência ocorrida nos países já estudados. Mas em compensação, o Comunismo do Camboja foi o mais violento, apesar de seu domínio por um tempo mais curto. O autor tenta uma explicação para o fenômeno desse terror contra as populações, mas não consegue, mesmo utilizando outras explicações de autores diferentes. Afirma, o autor, que a violência no Camboja transforma o excesso de terror de Stalin em uma caricatura cambojana. (Pág. 696). Os principais atingidos pelos comunistas são os de sempre: trabalhadores (urbanos e rurais), intelectuais (que bastava saber ler corretamente que era considerado intelectual) e os religiosos, principalmente budistas e católicos. O autor trabalha muito com os variados números das matanças, devido à dificuldade de um cálculo correto por falta de informações fidedignas das cifras. Abaixo um mata geográfico da região, que mostra como as fronteiras dos países comunistas facilitaram sua expansão para o Camboja. Atlas Geográfico do Estudante, Atualizado 2000, Editora Rideel):
Sobre o Camboja, o autor dedica grande parte do texto ao dia a dia do trabalhador, principalmente dos camponeses. Trabalhavam de 11 a 12 horas por dia, e com quase nenhum intervalo durante a execução das tarefas. Quando tinham algum dia de folga, geralmente de 10 em 10 dias, eram obrigados a ouvir palestras sobre política. Não tinham nenhuma preparação técnica, pois seus dirigentes afirmavam que a política bastava para realizar qualquer tarefa, inclusive para a construção de barragens. Eram subalimentados para a realização de quaisquer trabalhos. Interessante notar que esta prática era realizada na década de 1970, quando tínhamos até TV a cores no mundo. Como os países desenvolvidos não sabiam ou não se interessavam por uma situação tão desumana? Para um governo que prometeu fraternidade, humanidade, justiça, igualdade, como os demais partidos comunistas, é difícil acreditar no "inferno" que implantaram, destruindo todos os valores tradicionais como a família, a individualidade, a religião, a moral. A mentira, o roubo, a corrupção passaram a ser os valores dominantes, além do canibalismo pré-histórico que passou a ser praticado normalmente para sobreviver como animais. Vale destacar que o Primeiro-Ministro do Camboja, Pol Pot, sendo o líder de um movimento caracterizado teoricamente como defensores dos trabalhadores, nunca trabalhou, conforme está em uma biografia de 1977. Sobre as violências do regime, relatar mais é torturar o leitor, mas para exemplificar uma de suas práticas doentias, era a que as mortes de homens e mulheres eram usadas como adubo para as plantas, principalmente para a mandioca, que ao ser colhida vinha com crânios de mortos em suas raízes comestíveis. A ausência de um Poder Judiciário e de um sistema educacional favoreceu a prática de violências extremas, nunca vistas nos demais países comunistas, por parte das forças militares locais. Chegaram a ponto de queimarem pessoas vivas enterradas até o peito numa vala cheia de brasas e a cabeça cremada, como tochas acesas com petróleo; e de matarem pessoas, porque roubaram uma banana para se alimentarem (o Comunismo não deveria cuidar do bem-estar de sua população?).
No final do capítulo sobre o Camboja, o autor tenta explicar a origem de tanta violência de um regime comunista único na Ásia, por sua extrema brutalidade e sem nenhuma "bússola" para suas ações, pois não segue a cartilha de Lênin e Stalin, e nem de Mao Tsé-Tung. Tentam criar um comunismo nacional, não se preocupando com sua expansão, como na União Soviética. Não se preocupam em desenvolver a economia para alimentar a população e melhorar sua qualidade de vida, mas sim fazer um permanente expurgo dos valores que não os do governo, que não são explicitados no livro. Até o fato de falar a língua inglesa, que é considerada inimiga da "cultura" comunista, é motivo de tortura e morte. Os valores ocidentais são combatidos de todas as formas. Mesmo a religião budista é apontada como possível causa da prática do comunismo cambojano, pois seu ideário de uma vida melhor após várias reencarnações é fator contrarrevolucionário. Os países vizinhos, especialmente o Vietnã é apontado como elemento incentivador do comunismo cambojano isolado do mundo a sua volta. Veem o Vietnã como um país privilegiado por suas condições favoráveis ao desenvolvimento. Outro fator estudado sobre a origem da violência cambojana é seu passado de guerras registradas em sua história remota, e também recentes à implantação do Comunismo. Não faltam relatos dos poucos sobreviventes à matança do regime comunista cambojano. Existem várias fotos dos atos violentos, pois os seus executores tiravam fotos dos futuros torturados e assassinados antes das sessões; como um fichamento macabro. O Comunismo em sua origem, e também nos dias atuais, é uma mistura de política e religião, pois adota uma postura dogmática nas decisões, ou seja, é infalível, como os dogmas religiosos, portanto o acusado está sempre confessando o que os seus carrascos querem que assuma.
Os autores passam a analisar e narrar sobre o Comunismo no Terceiro Mundo, começando por Cuba, revolução que ficou famosa entre as esquerdas no Brasil, principalmente nas décadas de 1980 e 1990, pois a estratégia de Fidel Castro era só revelar o lado bom de sua ação. Inclusive foram publicados livros em sua defesa e do país que nunca deixou de prender e matar seus "opositores" como fizeram a União Soviética e os países asiáticos. Os métodos de tortura e de discriminação foram semelhantes nos vários "comunismos" no mundo: o uso indiscriminado da violência, a prisão, expulsão e a falta de direitos dos cidadãos em nome de uma ideologia, ou quem sabe de uma personalidade, como afirma Castro em 1994, diante do fracasso de sua "revolução": "... preferia morrer a renunciar à revolução." (pág. 789). O texto sobre Cuba acaba com o mito de Guevara, que se espalhou pelo mundo, mostrando {o livro} seu lado violento no trato com os seres humanos. Fizeram até filme para sua defesa, mas que hoje sabemos quem foi o guerrilheiro idolatrado pelos setores intelectuais da América Latina. Nas análises sobre o surgimento dos vários "Socialismos" no mundo, os autores falam de várias causas, principalmente históricas, mas as palavras de Fidel mostram que houve um domínio nesse regime do culto à personalidade, e um fanatismo dogmático em Lênin, Stalin, Mao, Pol Pot, Castro e outros.
O Comunismo na Nicarágua tem muita semelhança com o de Cuba, devido principalmente à proximidade geográfica entre os dois países. Inclusive os Ministros de Daniel Ortega chegavam a se reunir com o governo cubano, depois das revistas apropriadas. Quanto à violência no trato com os "opositores" são totalmente semelhantes. exceto com o corte de órgãos genitais masculinos praticados pelos nicaraguenses. Mas a mentira característica dos regimes comunistas; esta é patente na Nicarágua. Outra diferença de todos os comunismos no mundo foi o trato com os indígenas do país, pois os mesmos tinham garantidos direitos essenciais do governo de Anastasio Somoza, que vinham do período colonial, e Daniel Ortega tentou retirá-los gerando uma guerra que provocou centenas de vítimas. O livro, por sua edição em 1997, não acompanha a trajetória de Daniel Ortega depois da eleição de 1990, portanto presta elogios à "democratização" estratégica das eleições na Nicarágua. Mas futuramente Daniel Ortega retorna com o Comunismo tradicional depois de um governo despreparado de Violeta Chamorro, sendo que continua até nossos dias em sua prática de exclusão da democracia no país.
No Peru, tivemos a ação do Sendero Luminoso que foi mais um grupo terrorista do que um governo comunista, pois nunca assumiu o poder. Adotou as práticas violentas dos comunismos históricos como o russo, o chinês, o cambojano e o cubano. Tinha como base os princípios marxistas. Tinha o hábito de cortar a língua e as orelhas de seus opositores, um simbolismo para a ideia de que eram espiões imperialistas. Mataram muitos inocentes, principalmente mulheres e crianças. Além de se infiltrar na grande Amazônia, área dos indígenas, e se envolver com os narcotraficantes.
A entrada do Comunismo na África, que os autores chamam de Afrocomunismos: Etiópia, Angola e Moçambique, teve uma característica diferente dos demais países europeus, asiáticos e da América Latina, pois os interesses se ampliaram para várias nações desenvolvidas que conquistaram o domínio sobre vários países africanos em busca de riquezas para o chamado imperialismo, que era caracterizado pela concorrência entre as nações industrializadas, que buscavam fontes de riquezas minerais para mover suas fábricas. Consequentemente o Comunismo vai ter a influência dentro de um quadro de busca de direitos trabalhistas e lutas pelo poder entre os partidos comunistas e aqueles dominados pelas nações capitalistas. Com a implantação de governos comunistas na Etiópia, Angola e Moçambique, estes terão o apoio político e militar dos exércitos, principalmente da União Soviética, Europa Oriental e Cuba, com suas práticas de violência contra seus opositores. Devido a enorme fome ocorrida na Etiópia, houve uma onde de solidariedade humana nunca vista, na qual participaram as mais diversas estrelas do rock, como Michael Jackson e muitos outros cantores internacionais no famoso hino We are the Word, do qual se pode recear que fique como único vestígio do drama etíope na memória de dezenas de milhões de ex-adolescentes dos idos anos 80 (Pág. 822). É interessante notar como Angola reagiu à ação da perestroika soviética, quando a União Soviética abriu-se para o mundo capitalista, em 1985, principalmente com a abertura do mercado e o pluralismo partidário, pois imediatamente, o governo de Angola também adotou a mesma prática. Sobre Moçambique, nas lutas pelo poder comunista predominam as mesmas características violentas do marxismo-leninismo, que não precisamos enunciar; mas para encerrar o estudo do comunismo africano basta um texto de Samora Machel (Pág. 834): "O homem novo que Samora Machel e os seus teimavam em construir era bem 'o produto patológico desse compromisso, o qual, no sujeito individual, é vivido como desonra, mentira, loucura esquizofrênica. Ele quer viver, mas para isso tem de dividir-se, levar uma vida escondida e verdadeira e uma vida pública e falsa, querer a segunda para proteger a primeira, mentir incessantemente para guardar em algum lugar um cantinho de verdade'."
No Afeganistão, antes um país com relativo desenvolvimento e estabilidade social, cultural e religiosa, o golpe de Estado comunista transformou o país num campo de guerra e matanças, voltando aos tempos de Stalin. Como o texto afirma: "... a responsabilidade dos acontecimentos que se produziram no Afeganistão cabe diretamente aos comunistas e aos seus aliados soviéticos. O governo pelo terror de massa e o sistema coercivo implementados continuam a ser uma constante na história do comunismo." (Pág. 849)
No final do livro, os autores tentam uma explicação sobre o uso de tanta violência na implantação do Comunismo na Rússia e nos outros países que o adotaram, com o título Por quê? E para tentar esta explicação utilizam de todos os argumentos históricos, biológicos, filosóficos, científicos e sociais. Buscam sua origem na história de violência que praticamente marcou toda a vida da Rússia ao longo do tempo, tanto é que na literatura russa seus romances, geralmente terminam em tragédia. Procuram explicações, mesmo nos dirigentes comunistas como Lênin, Stalin e muitos outros, além de Marx, que não foi, como é muito divulgado, um defensor da Ditadura do Proletariado, mas na realidade este não era um de seus princípios, pois esta expressão foi encontrada, por acaso, em uma de suas cartas. Marx defendia que haveria violência na História, mas não necessariamente o uso da violência na construção do Socialismo. Acreditava, inclusive na possibilidade de um Socialismo Democrático na Inglaterra, Estados Unidos e Holanda. Essa sua visão da história pode ter deixado uma certa ambiguidade para os líderes da Revolução de 1917, na implantação do regime comunista russo. Enfim, os autores não encontram nenhuma explicação plausível para o uso da violência sistemática e generalizada da violência na implantação do Socialismo, apenas apontam as críticas pelo uso da violência e da desinformação em todos os locais em que a experiência comunista foi adotada.
Vale a pena ler todo o livro para uma compreensão melhor do processo de implantação do Comunismo no mundo do século XX.